Não só um cara legal

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       Mais um dia, de castigo mas feliz. 

    A aula de biologia foi meio estranha, Chloe tentou pegar no meu pau porque estava "checando o pacote" dos garotos da sala, foi estranho mas sei lá, eu gostaria que outra pessoa o fizesse. 

    O dia na escola foi chato como sempre, hoje resolvi ir direto pra casa. Ontem minha mãe me deu outro sermão e conferiu se eu estava com cheiro de bebidas, até revistou a minha mochila e eu expliquei o que aconteceu, com certas mentiras, e ela me perdoou.

     Ajudo ela a arrumar o jantar, corto alguns legumes e faço a salada. Meu pai passa pela cozinha cambaleando e encosta no balcão.

     — O que vai ter pro jantar? Duas galinhas de avental? — Ele ri sozinho e minha mãe finge nem escutar.

     — Era o que faltava. — Murmuro pra mim mesmo e ele volta e se senta no sofá.

    Olho pra minha mãe e ela faz a mesma cara de sempre, as vezes eu tenho vontade de fazer com que ele se afaste pra sempre. Se ele fosse embora tudo seria melhor.

     Termino o jantar com a minha mãe e arrumo a mesa, colocamos o jantar e meu pai se senta à mesa conosco. Minha mãe e eu fechamos os olhos e oramos, um costume que sempre fazemos antes de comer. Meu pai apenas ataca a comida e fingimos não acontecer todos os dias, suspiro terminado a minha oração pro meu pai morrer de ataque cardíaco e começo a comer.

     Tudo normal, uma noite normal. Minha mãe e eu arrumamos a bagunça da cozinha e desligados tudo, assim indo dormir.

     Consigo adormecer após muitos minutos, mas de repente um barulho na cozinha me acorda e suspiro já até imaginando de quem foi a obra daquela delicadeza toda. Frank Iero, não o bom, claro.

     Me levanto e confiro se minha mãe está no quarto, a porta aberta e apenas ela dormindo. Desço ainda sonolento me apoiando nas paredes, confiro o horário no celular e volto a caminhar. Encontro meu pai tirando tudo do armário e esfrego os olhos, ele nota a minha presença.

     — O que quer, seu merdinha? — Ele pergunta me xingando gratuitamente.

     — Tá fazendo o que? — Pergunto morrendo de sono.

     — Achei. — Ele encontra o dinheiro que minha mãe escondeu e sai da cozinha, eu vou atrás.

     — Não pode pegar isso, não é seu. — Vou atrás dele, ele sai da casa e ainda o sigo.

     — Quando você for o homem da casa… aliás, quando você for homem, a gente conversa. — Ele diz parando e me olhando. — Só anda em carro de homens, pensa que não vi você ontem? Uma bicha mesmo.

      — Mesmo gostando de caras, eu sou ainda muito mais homem que você.

    Não sei se o sono me fez ficar um pouco ruim da vista ou se eu fui lento demais, mas seu soco forte no meu rosto quase curado de seu outro soco machuca novamente. Desperto do meu sono e quando me levanto, minha camiseta é puxada e segurada, mais socos e chutes. 

      Ele tenta me enforcar e tento o afastar, as drogas das minhas mãos pequenas me impedem de conseguir muita coisa, mas me solto o socando. A primeira vez que revido, o ódio em seu olhar parece me incendiar, me afasto subitamente.

    — Pai, desculpa. — Peço mas ele volta a me bater, não recuo ou revido. 

   As mãos que já me fizeram voar como um avião quando menor, as mãos que fizeram meu primeiro barco de madeira, as mãos que me abraçavam todas as noites e que me protegiam de todo o mal. Essas mesmas mãos me fazem me arrepender amargamente de ter nascido, de estar me fodendo tanto, de fazer minha mãe se prender a esse monstro.

Handsome Father - FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora