Menta com chocolate

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       E então o surto de coragem desaparece, o que eu estou fazendo?

     — Ah, oi, Frankie. — Ele coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha, com o rosto avermelhado. — Coincidência?

       O homem sai do balcão e fico aliviado por ele ter ido, Gerard se aproxima analisando meu rosto e eu volto ao meu estado normal perto dele, quase tremendo como um pinscher. Ele se desespera ao ver minha cara, segurando meu rosto e olhando todo ele, coro olhando para qualquer ponto.

        — O que houve com seu rosto? — Sua mão quentinha e macia em meu maxilar.

        — Uns haters da banda, eles devem estar pior do que eu. — Digo evitando olhar em seus olhos. — Minha mãe cuidou de mim, não se preocupe.

      Ele então solta meu rosto ficando com uma expressão adorável, suas palavras parecem desaparecer por sei lá que motivo e logo tento quebrar o clima silencioso.

       — E-eu ia te… visitar. — Digo e seu rosto logo ganha um sorriso tímido. — Mas se estiver ocupado eu posso ir pra casa.

     — Gosta de sorvete de menta com chocolate? — Ele me pergunta com um lindo sorriso e inevitavelmente abro outro assentindo.

      Então ele me ajuda a guardar a minha bicicleta no porta-malas e entramos no carro, me orgulho ao ver a cara do sorveteiro cada vez mais longe de dentro do carro. No rádio alguma canção do Stone Temple Pilots, junto com o vento vindo das janelas e o perfume dele.

      Não fico muito tempo com os olhos nele, observo a paisagem enquanto tentando fingir que não é ele ao meu lado. Meu estômago cheio de borboletas me faz me sentir estúpido, eu poderia simplesmente chegar e ganhar um não, isso ao menos seria uma resposta.

      Ao que chegamos na sua residência, eu desço e ele também. Saber que Patty não está aqui me deixa apreensivo, não que seu pai incrivelmente gostoso vá me atacar a qualquer momento, aliás, eu gostaria muito… mas bem, onde eu estava mesmo?

      — Devia processar esses haters, eles te machucaram, Frank. — Ele diz ao que caminho até ele e eu dou de ombros.

     — Ah, já passou. — Digo indo com ele e o sorvete até a casa.

       Ele retira as chaves do bolso e abre a porta, entramos ficando no escuro e ele vai acendendo a casa. Parando pra pensar, não é muito normal visitar o pai do seu melhor amigo, é?

        — O Patty, ele viajou ontem, certo? — Pergunto indo com ele até a cozinha. 

        — Sim, fiquei com medo de deixar ele viajar sozinho de avião. Não me deixaram levar ele até o avião em si, eu bem que tentei e quase chamaram os seguranças mais severos. — Ele diz e eu rio imaginando a cena. — O Patty me disse que os passageiros o olharam a viagem inteira.

         — Uau, não sabia que era tão super protetor assim. — Me sento na banqueta e ele pega duas tacinhas de sobremesa. 

        — Pra falar a verdade, nem eu. — Ele ri abrindo o pote e pega o utensílio de "cavar" o sorvete. — Fico feliz que tenha vindo, acho fofo você vindo me visitar, nenhum dos amigos do Patty já fez isso.

      Deve ser porque nenhum dos amigos dele gostava de você, bom, eu não duvidaria se acontecesse. 

        — Você é legal, posso dizer que também é um amigo. — Digo focando em suas mãos colocando o sorvete em uma das taças.

        — Você também é um amigo, um amigo legal, Frankie. — Ele me entrega a tacinha e pega uma colher pra mim, observo ele ir e voltar.

    Ele coloca o sorvete em sua taça enquanto eu já começo a comer do meu, assisto Gerard como um filme de romance clichê, daqueles que as garotas assistem quando tomam um fora e querem ver algo com um final feliz. O problema é que nem um fora eu tomei ainda.

         — Tem um programa bem legal, quer assistir comigo? — Ele pergunta me tirando do transe, colocando sua colher na boca enquanto fecha o pote. 

         — C-claro. — Assinto tentando não colocar aquela cena na minha cabeça, muito sexy, droga.

   Então a gente segue pra sala de estar, não é como se fossemos assistir um filme e no final acabar transando, poderia ser, eu não ligaria. 

      — Pra falar a verdade, eu não costumo assistir esse programa já que eu sou bem medroso e paranóico. — Ele pega o controle ligando a televisão, parecendo bem animado com a minha presença.

      — Medroso e paranóico? Nem de longe. — Digo me sentando no sofá enquanto ele escolhe o canal.

      — Sério, esse programa é muito bom, mas eu não sirvo pra assistir sozinho. — Ele sorri se sentando ao meu lado e tento me manter focado na televisão. 

      O canal é ID, suspense. É um programa sobre sequestros ou algo assim, a voz do narrador é o que mais assusta. 

      Observo de canto de olho Gerard comer seu sorvete, com sua expressão preocupada, é fofo de se ver. Ele se aproxima de mim com os olhos vidrados na tela, meu sorvete acaba e me inclino até a mesa de centro pra colocar a taça lá e quando volto meu corpo pra encostar no sofá, me deparo com Gerard me olhando assustado.

      — Frank, escutou isso? — Ele pergunta baixo e franzo o cenho confuso.

      — Isso? — Bato a colher novamente na taça e ele ri nervoso.

      — Ah, pensei que fosse alguma coisa na casa, sei lá. — Ele força um sorriso voltando à tela e me seguro pra não rir, como ele pode ser tão medroso?

      O programa nem é tão assustador quanto ele faz parecer, é interessante, mas os pulos que ele quase deu no sofá são preocupantes pra alguém que vai dormir sozinho por uma semana inteira.

      — Acha que vai conseguir mesmo dormir sozinho em casa depois de assistir isso? — Eu pergunto e ele suspira.

      — Eu não posso ser um pai medroso, eu tenho que superar isso. — Ele coloca as mãos no rosto e eu rio.

   

     E então meu celular vibra em meu bolso, alarmando Gerard e fazendo ele me olhar curioso. Observo o visor e sorrio.

     “Chegue ao estúdio da Roccs em quarenta minutos e podemos conversar sobre o contrato, acabei de escutar a demo e gostei do conteúdo.      Dan.”

     O dono da gravadora me mandou mensagem dizendo que gostou e quer conversar sobre o contrato? Porra, minha vida não podia ficar melhor. A banda vai ficar orgulhosa de mim.

      — Hum, Gerard, eu preciso ir. — Digo bloqueando o celular e olhando pra ele. — Me promete que vai me ligar se ver ou escutar alguma coisa? — Pergunto notando seu olhar triste.

      — Mas… eu não tenho seu número. — Ele diz e coloco nos contatos pra ele anotar o dele, entrego o celular e ele anota. — Não pode ficar mais um pouquinho? 

       — É um lance da banda, mas se eu pudesse ficar não pensaria duas vezes. — Digo e ele sorri fracamente. — Te mando uma mensagem pra salvar o meu número. Você vai ficar bem?

       — Vou, obrigado por vir me visitar e assistir comigo. — Ele diz, seu rosto, ainda com o ambiente escuro, se encontra avermelhado.

       — Não, eu agradeço pelo sorvete. — Digo colocando o celular no bolso. — Me liga se acontecer qualquer coisa.

       — Ok. — Ele sorri e minhas pernas travam com seu sorriso, ficando um bom tempo parado. — Vai se atrasar. — Gerard diz e me apresso em sair me despedindo.

      Minha vida está ficando melhor, me aproximei mais de Gerard e a gravadora gostou do CD. Qual a próxima surpresa?

Handsome Father - FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora