Vencendo em Seattle

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É hoje!

Finalmente começo a me dar bem em Seattle.

Sair de Jackson, uma vila no Condado de Tento, Wyoming com um pouco mais de 10.000 habitantes para uma cidade como Seattle em busca do sonho de ser médica não foi fácil.

Ver esse sonho se esvair pelo ralo quando a opção se tornou comer, ter um teto sobre a cabeça ou me endividar ainda mais em empréstimos estudantis foi doloroso.

Crescer e ir em busca de um emprego de gente adulta, trancando o semestre na faculdade de medicina de Seattle foi a coisa mais difícil que já fiz.

Quando minha colega de quarto me deixou só com a prestação para pagar da kitnet no subúrbio, para se casar com seu amigo de infância, não me deixou alternativas. Eu tentei buscar todas elas, logo a comida estava acabando, o Sr Jhon, senhorio, queria o aluguel e não me restava saída.

O alojamento da faculdade era muito bom, mas muito mais caro também em comparação com essa kitnet em lugar bem afastado da cidade, mas era isso ou nada, e creia-me o nada está muito próximo!

Gastei o pouco que me sobrava distribuindo currículos e fazendo entrevistas por Seattle, dois meses angustiantes de procura e desculpas para não ser despejada.

Evitei o Sr. Jhon nesse período como se ele fosse umas das pragas virais que estudei na faculdade e consegui. Hoje começo como copeira na Richards Tech.

Eu sei, como uma médica promissora, de acordo com meus professores, pode pensar em virar copeira e estar orgulhosa disso?

Experimente o desespero de estar a um passo de se ver desalojada e com fome e descobrirá. Essa oportunidade caiu do céu!

O Sr. Jhon hoje me encurralou e só não me despejou porque esfreguei na cara dele que pagarei tudo que devo no próximo mês, então os favores sugeridos para manter o teto sob minha cabeça também foram para o ralo.

Detesto homens! Não, não sou lésbica! Apenas tenho meu quinhão de experiência ruim com a outra espécie e, por mim, nosso contato físico seria apenas na relação profissional médica-paciente.

Acrescente à essa equação um ser asqueroso que se aproveita de uma situação ruim e pronto, está a par do meu relacionamento com o Sr. Jhon, eu fugitiva, ele perseguidor.

Chego no trabalho louca por um café, apesar da ansiedade não me deixar dormir, tive que sair muito cedo, enfrentar dois ônibus e metrô para vir de Mukilteo ao Centro Comercial de Seattle, onde os escritórios em que trabalharei ficam situados. Passo pela recepção e vou para a área de guarda-volumes onde cada funcionário tem um armário com seu nome, para deixar objetos pessoais no primeiro andar.

Graças a Deus pela Sra Mary, do departamento pessoal, que me mostrou todo o prédio na sexta, quando vim fazer a admissão ou hoje ficaria perdida. Perdida e nervosa não são boas combinações, já tenho muitos problemas se contar só com o meu nervosismo.

Na minha primeira aula de laboratório, estava tão nervosa, porque tínhamos que tirar uma gota de sangue para análise no microscópio. Kate, minha parceira e amiga, tirou minha amostra. Em sua vez não foi necessário que mais ninguém na aula fosse doador. Tinha tantos furos no dedo da coitada, do tanto que minha mão com a agulha tremia, que ela acabou cedendo sangue para a análise das outras cinco duplas que estavam conosco. Todos levaram na esportiva, meu professor agradeceu pelo fato de que eu não fosse do tipo que desmaiava ao ver grandes quantidades de sangue e me encorajou dizendo que o momento de erros, acertos, nervosismos era em sala de aula. Isso não foi um grande consolo, mas me acalmou o suficiente para passar pelas outras aulas de laboratório sem maiores problemas. Não estava mais perdida nas aulas e nem no ambiente e era meu sonho se tornando realidade.

Então, me perdoe, mas não! Nervosa e perdida não são boas combinações em mim. Com a soma das duas coisas me torno um desastre, sem proporções medidas, em forma de gente.

Coloco meu uniforme e subo para a cozinha dos escritórios superiores onde ficarei a cargo do café, capuccino, leite e petiscos de todos os andares principais. Meu trabalho consiste em reabastecer, durante todo o dia, a recepção do CEO, as salas de reuniões, as salas de Conferências e as demais recepções dos andares executivos abaixo.

Chegando na cozinha preparo a primeira rodada do dia, organizo no carrinho e saio para distribuir. Depois de tudo entregue me permito uma boa caneca de café. Quando estou terminando a bebida dos deuses, a Sra Judy interfona e solicita que leve chá para a sala do Sr. Brian.

A Sra Judy é uma senhora muito simpática que trabalha para o CEO da Richards. Nervosa, me adianto para atender o pedido, não esperava nas primeiras horas de trabalho me deparar com o Sr. Brian Richard, um homem que de acordo com a descrição que ouvi nos corredores é só mais um de quem eu quero distância: rico insanamente e playboy.

Vou ao escritório e o encontro parado na janela olhando para o nada. Já havia tido um vislumbre dessa sala quando cheguei pela manhã, minha kitnet inteira cabe aqui. Tem um sofá de couro marrom maior que minha cama e uma mesa de vidro que agora estava coberta de papéis. Em todo o escritório não há nenhuma foto, na parede uma pintura impressionista e mais nada. Preciso que ele se mova para que eu coloque o chá sobre o aparador que fica atrás de sua mesa, mas parece que ainda não tinha percebeu que há outra pessoa na sala, apesar de ter batido na porta para anunciar a minha presença.

Caminho empurrando o carrinho e limpo a garganta, esperando assim, que note que outra pessoa no escritório, não sei se foi pelo susto do inesperado ou se foi uma piada do destino, ele se virou ao mesmo tempo que eu avancei.

Com horror percebi meu emprego ir embora junto com o chá fervente que derramava sobre o terno mais caro que já vi na vida. Com um grito de surpresa e dor vi um par de olhos azuis me encararem furiosos.

Me preparei para voltar humilhada à kitnet e dizer ao Sr. Jhon que talvez os favores não eram mais tão nauseantes assim. Com certeza meu desastre me deixará sem emprego até o fim do dia.

Um CEO em minha vida (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora