Proposta encantadora

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Gio

Olho para meu futuro ex-chef sem entender nada, alucinando do jeito que ele está, com certeza estou desempregada. O coitado acaba de me pedir em casamento! Claro que não está bem.

- Olha Gio, não sou louco. Você perguntou como poderia me ajudar. Mas acho que podemos nos ajudar mutuamente.

- Sr Brian, se não está alucinando por efeito colateral de medicação, me desculpe mas acredito que perdeu a razão sim, não faz sentido nenhum essa conversa. Nos ajudar mutuamente? Você bateu com a cabeça na banheira enquanto eu limpava o seu escritório?

- Sente-se e vou lhe explicar.

- Vou é chamar o doutor Mark, isso sim. Sua perna já começou a infeccionar ou entrar em necrose, por isso a alucinação.

- Droga mulher, sente-se e me escute. Se depois de me ouvir ainda achar que sou louco, vamos juntos para a ala psiquiátrica!

Paro de tentar argumentar, para que ele se acalme, para que eu possa chamar de volta o médico, que aliás até agora não entendi a razão de ter saído dessa sala. Sento e aguardo.

- Preciso de uma esposa para que possa receber a herança deixada por meu pai. É uma longa história, mas o principal é que meu pai morreu há quase 40 dias. Sabendo que não tenho intenção alguma de me casar e todo esse blá blá blá de família que pra mim nunca significou nada, determinou em testamento que para receber o que tenho direito e continuar CEO da Richard's Tech tenho que me casar.

- Seu pai o quê?

Acho que não entendi direito o que esse homem está dizendo, eu parei de ouvir na parte de que seu pai morreu há pouquíssimo tempo. Que tipo de filho fala sobre a morte de um parente tão próximo sem esboçar nenhum sentimento.

Por mais que não converse com frequência com meus pais e ainda esteja magoada pelas escolhas que eles fizeram no episódio do meu quase casamento, ainda são meus pais.

Ainda são as pessoas que me levava para acampar nas montanhas, que sentava comigo em uma fogueira para torrar marshmallows.

- Sr Brian, acho que o senhor precisa se sentar enquanto eu chamo o médico.

- Não preciso me sentar, preciso que me escute. Eu não tinha uma relação com meu pai, ele me odiava desde o meu nascimento e tentou algumas vezes me jogar no sistema de adoção. Meus avós o impediram por duas vezes, a primeira quando eu nasci e a segunda quando ambos morreram em um acidente na costa da Itália e eu tinha sete anos. Eles colocaram, em testamento, seus bens em meu nome, meu pai seria o tutor da fortuna, desde que mantivesse minha tutela. Ele se aproveitou de uma brecha nos documentos que não determinava para onde os bens iriam em caso de maioridade do tutelado e passou toda a minha herança para o seu nome. Papai não contava que uma árvore entraria na frente do seu carro quando ele dirigiu bêbado e tirasse sua vida aos 55 anos, há oito dias quando o advogado veio até meu escritório depois de recusar ir a todas às reuniões que ele tentou agendar eu fiquei sabendo do desastre, tinha 15 dias para me casar oi tudo que lutei na vida vai parar nas mãos do governo.

- Certo, Sr Brian.

- Brian.

- Perdão?

- Me chame pelo meu nome apenas.

- Desculpe, não me sinto confortável fazendo isso. Então, entendo sua necessidade, desespero e não o considero louco ou alucinado de medicações. Mas se me permite perguntar, por quê eu?

- Você mesmo me informou de sua instabilidade financeira, preciso de uma esposa que aceite o casamento como uma transação comercial e mais nada. Não tenho tempo para a baboseira amorosa e nem preciso disso. Você ganha, eu ganho e dentro de dois anos você é uma mulher divorciada muito rica.

- Como assim dois anos?

- Isso significa que você aceita?

- Minha pergunta é para tentar entender essa loucura.

- Acredite que nem eu acredito nessa loucura, vamos sair daqui. Vou te levar em casa e no caminho faço a proposta comercial a você.

Ele abre a porta e o sigo desnorteada. Como uma ida ao pronto socorro de um hospital se tornou um caminho até um casamento em um cartório não sei. Toda essa conversa parece surreal. Nas poucas horas que conheço esse homem, sei que não adianta argumentar, não preciso que me leve em casa, mas em nenhum momento me perguntou se queria. Ele comunicou que me levaria e é isso.

O vejo se despedir do seu amigo e enquanto ele vai cuidar da papelada de nosso atendimento seu amigo se aproxima de mim.

- Gio, ouça o que ele tem a dizer. Ele não é louco e realmente está desesperado. Acho que vocês poderão fazer bem um ao outro. Geralmente não me engando com o caráter de alguém e gostei de você. Meu amigo precisa de alguém que balance seu mundo.

- Mas não quero balançar o mundo de ninguém, não quero me casar!

- Esse é só mais um motivo para ouví-lo, já têm algo em comum.

Meu chefe retorna, olha feio para o médico e me questiona.

- Vamos?

Sigo como um robô, ainda processando tudo que ouvi no hospital e tentando entender como uma manhã tão comum de segunda-feira se tornou esse redemoinho de situações. Quem queima alguém, corta as mãos e é pedida em casamento por um estranho em um único dia?

Eu acho que estou tendo um pesadelo e vou acordar atrasada para ir trabalhar.

Um CEO em minha vida (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora