Negócios inacabados

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Brian

Por causa do nosso contrato minha esposa e eu temos que parecer um casal em público.
Ela não me deixa alternativa a não ser dar um longo passeio por Los Angeles, cercado de repórteres e câmeras.
Dessa forma Gio não pode se esquivar das minhas carícias e da minha conversa.
Na nossa ida o clima é tão tenso quanto quando estávamos tomando o café da manhã.
Ao longo do dia a tensão foi saindo e voltamos a relaxar, mesmo durante nosso almoço, quando ela abordou assunto de trabalho.
Ela usou essa estratégia para não falarmos de assuntos pessoais, não quis cortar nossa interação abordando um tema sensível, mas iremos conversar assim que baixar a guarda o suficiente para me ouvir.
Continuamos o passeio onde sou interrompido várias vezes por Judy e Cole que querem saber que providências tomar com a imprensa. Decido manter nossa privacidade e não dar nenhuma entrevista.
- Não quero nem saber do circo montado, sempre fui discreto e assim permanecerei. Perderam a chance com esse ataque desproporcional de hoje. Dê as declarações de sempre Judy, sem comentários e nada a declarar.
- Ok, meu filho, como sua esposa está?
Olho para Gio pensativa ao meu lado.
- Estamos bem, querida. Obrigado por perguntar.
Judy me conhece e sabe reconhecer quando estou com problemas que não quero externalizar
- Entendi. Espero que tudo se resolva.
- Eu também, Judy.
Desligo a ligação e descubro que minha esposa quer um dia na praia. Já reservei o dia de amanhã para um passeio no nosso iate, mas é bom saber que desejamos as mesmas coisas.
Só preciso resolver tudo antes de a levar para o alto mar. Com Gio irritada é bem capaz que eu fique em uma ponta da embarcação e ela em outra. Isso se minha gatinha selvagem não me jogar aos tubarões no oceano.
Voltamos para casa e mostro os espaços para ela deixando a sala de cinema por último.
A convido para um programa a dois e ela aceita.
Enquanto se arruma, providencio algumas besteiras para que a gente coma, com Marta, a governanta de Los angeles.
Gio já me aguarda na sala de cinema, eu subo para me refrescar e ficar bem casual para essa noite.
- Fico impressionado com sua rapidez em ser casual ou muito produzida.
- Obrigada.
- Algum gênero específico?
- Ficção ou terror.
- Ok.
Escolho It e sentamos no meio da sala com as guloseimas entre nós.
No meio do filme Gio já se deslocou para o chão deitada, toda aninhada entre almofadas e me deixou só nas poltronas.
Achei que aproveitaria algum susto dela para abraçar e acariciar seu corpo, mas com sua mudança para o chão não pude fazer isso.
O filme termina e ajudo que se levante.
- Precisamos conversar.
- Eu sei.
- Tudo o que Lia disse é mentira.
- Não sei até que ponto ela mentiu, mas eu já refleti que pelo menos algumas coisas são verídicas.
- Tudo é mentira, Gio.
- O vídeo dela pelada nos seus braços no mesmo momento em que eu escolhia o vestido de noiva pelo menos não é mentira.
Pego o celular e envio o vídeo completo para minha mulher.
- Olhe a mensagem que acabou de receber.
- Meu celular ficou lá no quarto, não quero falar com ninguém antes de lhe ouvir.
- Tudo o que digo eu posso provar, já aquela louca não.
- Você vai processá-la?
- Antes de tomar qualquer decisão preciso conversar com você e com Mark. Com você porque as calúnias lhe atingem também e a decisão será tomada em conjunto e com Mark porque quero ouvir o que tem a dizer e se irá magoá-lo.
Ela suspira, senta e aguarda até que esteja ao seu lado.
- Eu percebi os olhares dela na nossa festa de noivado. Os direcionados à você com nostalgia, para mim com inveja e raiva. Achei que era ciúme de amiga. Quando tentei falar com você do jeito estranho que ela saiu você ficou todo tenso e me cortou. Juntei dois com dois e sei que há algo nessa história que não me contou.
- Eu e Mark crescemos juntos, nossas famílias eram vizinhas e frequentávamos os mesmos locais, escolas, círculos sociais. Lia era nossa sombra, nunca percebi o amor platônico que desenvolveu por mim, sempre a vi como uma irmã mais nova. Uma noite tive uma discussão muito feia com meu pai, dissemos coisas horríveis um para o outro, para ser sincero, nunca mais nos falamos depois disso, éramos apenas polidos na presença de estranho.
Respiro fundo antes de continuar, a lembrança dessa discussão sempre me afeta. Era um jovem sedento do amor paterno e até então tudo era muito velado, meu pai nunca havia me dito com todas as letras que era indesejado, tudo o que ele fez foi com advogados ou meus avós.
Ele chegou em casa bêbado e me culpando por não ter a liberdade financeira que queria, nem o controle do patrimônio. Foi assim que descobri sobre a herança e as decisões que meu avô tomou para me proteger ao nascer e depois, caso tivesse uma morte precoce.
- Depois da discussão fui para a casa de Mark. Ele fazia residência em medicina e eu começaria a cursar Comércio Exterior em Harvard. Contei da briga enquanto bebia. Mark foi chamado para presenciar um cirurgia rara e não permitiu que voltasse para casa, no estado embriagado que estava. Não lembro muito das coisas a partir daí. Só sei que a noite terminou comigo tirando a virgindade de Lia. Mark nos encontrou na manhã seguinte e somos amigos até hoje porque ela assumiu que me seduziu.
Gio só me olha pensativa.
- Não sabia das fotos, até que as vi no jornal essa madrugada, quando Cole me ligou. O vídeo que mandei para o seu celular mostra que entrei no quarto e fui atacado. Mandei-a embora assim que me recobrei da surpresa. Tudo o mais que ela disse existir é fruto da sua imaginação. Depois da noite da briga me afastei de Lia, nos reencontramos na nossa festa porque Mark achava que já havia me superado e não viu problemas em sua companhia. Nunca dei falsas esperanças, sempre soube que aquela noite jamais se repetiria.
- O que houve na noite do jantar?
- Ela foi atrás de mim na adega para me pedir que não casasse e relembrar a noite da qual me arrependerei eternamente, mais ainda, se esse único erro me tirar você. Não quero mais um casamento de fachada, quero que seja real, livre, leve, como tem sido desde que nos entendemos. Você prometeu colocar meus pés no chão.
- Eu quero acreditar, Brian.
- Basta confiar, baby. A verdade virá. Eu prometi que nunca mais será magoada. Essa promessa me inclui, jamais farei algo para lhe machucar. Nós já tínhamos um acordo estritamente profissional. Não tinha porque preparar tudo do nosso casamento se não me importasse com você e seus desejos, ele foi pensado só para o que faria você feliz.
- Eu sei, estou com medo.
- Não tema tigresa. Você não é uma gatinha indefesa.
Não sei o que passa na mente dela.
Observo enquanto se levanta, caminha em direção à porta e sai sem dizer nada.
Fico na sala com os fantasmas do passado a me perseguir. Até quando pagarei por uma noite irresponsável? 

Um CEO em minha vida (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora