Encontros e desencontros

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Fui contrariada ao meu armário, trocar de roupa e buscar minhas coisas.

O jeito que ele falou com a secretária mandando que alguém substituísse a copeira, me diz que até o fim do dia estarei na rua ou de malas prontas para voltar ao Wyoming.

Eu amo meus pais, mas não voltaria para casa fracassada. Sou caçula de duas filhas. Tenho vinte e cinco anos e saí em busca dos meus ideais contra a vontade deles.

Nossa família tem um pequeno e próspero comércio e queriam que eu o administrasse com minha irmã. Confesso que o faria, o sonho de ser uma pediatra era só isso na época. Sonho!

Eu era noiva de Simon, cuidava da loja e passava meus dias já sabendo como o futuro seria lindo e cor de rosa.

O problema??? Meu futuro se mostrou sombrio na véspera do meu casamento. Descobrir que meu noivo, meu primeiro beijo, namoro e transa seria o pai de dois menininhos, que por acaso seriam gerados pela minha irmã, acabaram com minhas fantasias.

Meus pais a perdoaram pelo pequeno deslize, afinal eles se amavam, e me culparam porque era óbvio que se tivesse dado ao meu noivo a atenção que ele merecia, não teria chorado nos ombros amigos da minha irmã, os problemas que até então eu nem sabia que tínhamos!

O casamento? Aconteceu. Ela foi a feliz noiva no meu lugar enquanto estava ao mesmo tempo, a caminho de Seattle, ao encontro da minha melhor amiga Anabelle que me escutou chorando ao telefone a noite toda e me deu a solução.

- Você é muito inteligente, Gio. Deveria vir fazer a faculdade de medicina em Seattle. Está na hora de viver seus sonhos e não o dos seus pais.

Desde então, eu não visito minha família e converso com meus pais nas datas festivas de forma esporádica. Ainda me dói o apoio que não tive e o fato de que minha irmã e meu cunhado moraram com eles, porque eu os abandonei.

Meus primeiros anos de faculdade foram bancados com o dinheiro da minha casa vendida. Pelo menos ele teve a decência de vender e dar a minha parte. Quando acabou o dinheiro e Annabelle saiu da kitnet para seu casamento eu me vi sem saída.

Desço para a garagem do prédio viajando em lembranças quando encontro o Sr. Brian gargalhando ao lado de seu carro.

Não digo nada e entro no veículo quando ele abre a porta. Pelo menos o olhar irritado dele se foi, talvez eu tenha uma chance de me explicar e permanecer empregada.

- Me desculpe pelo acidente, você estava distraído. Eu tentei chamar sua atenção, quando não consegui, resolvi seguir em frente e colocar as coisas no aparador da sua sala. Eu não deveria ter deixado o carrinho tão próximo - digo com a cabeça baixa de vergonha.

- Olha Gio, não começamos com o pé direito, mas acidentes acontecem e já que não temos como voltar atrás, vamos deixar pra lá, pelo menos até chegarmos ao hospital. Por que você trancou a faculdade de medicina?

Ele toca meu braço para chamar minha atenção e sinto uma corrente elétrica percorrer meu corpo.

- Tive que adiar um pouco minha formatura, minha colega de quarto precisou sair da nossa kitnet depois que se casou e eu tive que assumir o aluguel só. Não contava com isso, não quis me afundar ainda mais com empréstimos que sabia não ter como pagar, sem um planejamento, pelo menos.

- Uma boa linha de pensamento, e quais são seus planos?

- No momento se resume a pagar o aluguel atrasado e sobreviver em Seattle.

- Você não é daqui?

- Não. Sou do interior de uma cidade chamada Jackson no Wyoming.

- Há quanto tempo mora aqui?

- Alguns anos.

O hospital fica relativamente perto e o restante do percurso é feito em silêncio. Depois que contei o motivo de ter trancado a faculdade, o Sr. Brian me deu um olhar esquisito e voltou os olhos para o caminho pensativo.

O que ele tanto pensa e qual o motivo da testa enrugada em preocupação?

Não sei o motivo de estar preocupada com os problemas desse homem quando não consigo achar a solução nem para os meus.

Solto um suspiro e olho pela janela. Será que essa maré de azar não vai me deixar? Não posso ser demitida por um acidente, posso?

Um CEO em minha vida (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora