Confrontando o passado

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Gio

Acordo e não encontro Brian em casa, Lane me informou que ele já acordou e saiu.
Vou tomar café preocupada, será que aconteceu alguma coisa?
Ele volta da rua com a novidade que a viagem será agora pela manhã, perco a fome e subo para o quarto terminar de arrumar minhas coisas.
Deixei meu celular no quarto e ao voltar encontro duas mensagens não lidas.
Uma do Sr Jhon perguntando onde estou. Eca que velho nojento!
E outra de um número desconhecido me dizendo para desistir do casamento ou vou me arrepender.
Não sei quem faria algo assim, poucas pessoas sabem do nosso casamento e todas nos apoiam.
O rosto de Lia, a raiva em seu olhar e a tensão quando toquei em seu nome para Brian me vem na memória. Duvido que Mark tenha dado meu número para sua irmã, porque acho que nem ele o tem, mas não sai da minha cabeça sua reação ao ouvir a palavra noiva ontem a noite.
Estou ficando paranóica como Brian.
Desço e seguimos para o aeroporto de Seattle.
Brian tem um hangar onde um jato executivo nos aguarda. Eu reviro meus olhos.
- O que foi amor?
- Claro que você tem um hangar com um jato executivo nos aguardando, não sei porque imaginei que viajaríamos no máximo de primeira classe.
Brian ri e me responde.
- Você vai viajar de primeira classe, mas em um avião privado.
Por dentro o avião é ainda mais impressionante que por fora, estofamento em couro. Percebo que Brian gosta de ambientes com a decoração em estilo clean, todos os locais decorados que possui e já vi tem o mesmo toque de chique e simples dosados com equilíbrio.
Acordei com uma dor de cabeça que está evoluindo para enxaqueca, porque passei a noite virando na cama preocupada com a viagem. Massageio minhas têmporas e Brian percebe.
- Se estiver cansada, no fim do corredor tem um quarto, nosso voo será longo e eu vou trabalhar a maior parte dele.
- Acho que vou aceitar, não dormi nada essa noite e minha cabeça está me matando.
- Depois que decolarmos eu te levo até o quarto.
Nos sentamos e uma aeromoça muito simpática nos avisa que a decolagem será em breve e qualquer coisa é só chamar.
- Carol essa é minha noiva, srta Giovanna Cooper. Traga um copo com água e uma aspirina para ela.
- Bem vinda a bordo, srta Giovanna, parabéns pelo noivado.
- Obrigada, Carol.
O piloto decola e como prometido Brian me leva ao quarto, depois que bebo o remédio.
- O que eu mais quero é aproveitar esse quarto com você, mas minha perna ainda não está liberada para o que tenho em mente.
- Eu também quero, mas não sei se estou pronta, muita coisa aconteceu na minha vida essa semana, procuro ainda entender toda a revolução que te conhecer causou.
Ele abre um sorriso lindo e diz.
- Você não sabe o que trouxe para a minha vida vazia, Gio. Espero lhe mostrar com o tempo. Não vou lhe pressionar a nada, você já tem bastante coisa para ocupar a sua mente. Relaxe e lembre-se que haja o que houver estou do seu lado e passaremos por tudo junto.
Ele beija a minha testa e sai.
Eu deito com mil e um "e ses" na minha mente, o que mais me atormenta é o "e se meus pais não se importarem de voltar a se relacionar comigo".
O remédio começa a fazer efeito e acabo adormecendo, acordo com Brian me chamando.
- Acorda, Bela Adormecida. Vamos pousar.
- Não acredito que dormi 5 horas.
- Você precisava, está se sentindo melhor?
- Sim.
- Nós iremos direto para o hotel, seus pais não sabem que antecipamos a viagem, acham que só chegaremos no fim da noite. Isso lhe dá um tempo para decidir se quer encontrá-los hoje ou se precisa de mais tempo e deixamos o confronto para amanhã.
- Quero terminar logo com isso. Acho melhor irmos direto para a casa deles e de lá seguimos para o hotel.
- Faremos como achar melhor.
Tim saiu primeiro do avião quando pousou eu nem sabia que o motorista estava nesse voo, não o vi quando entramos no jato.
Quando desembarcamos um carro já nos aguarda. Entramos e Tim me pede o endereço dos meus pais.
- Acho melhor passarmos na loja primeiro, assim se papai estiver por lá, poderemos conversar primeiro com ele.
É também o local menos provável de encontrar logo de cara Harper e Simon.
Saímos do aeroporto em direção ao comércio da minha família e eu olho pela janela a paisagem da minha cidade natal.
Não imaginei a saudade que sentiria de olhar para essas montanhas todos os dias.
- Deve ter sido bonito crescer com essa paisagem ao redor.
- Foi aconchegante, a vista de cima dessas montanhas é espetacular, era o meu quintal. Eu e Belle nos divertimos muito ao sair da escola e correr por essas montanhas.
Eu e Brian trocamos um olhar cheio de significado, minha infância aqui foi feliz, decido compartilhar algumas boas lembranças com ele.
- Foi em uma ocasião de brincadeiras na montanha que decidi virar médica. Meu pais já eram donos da loja na cidade, mas eu e minha irmã ainda não éramos envolvidas durante grande parte do tempo no atendimento, éramos escaladas em turnos para ajudar.
Brian me olha interessado na narrativa, respiro fundo e permito que a doce recordação daquele momento invada meus sentidos.
- Um dia, aos oito anos, eu e Belle subimos em uma árvore muito alta para o nosso tamanho, nós duas caímos. Eu estava um pouco mais baixo que Belle na árvore não me machuquei tanto, ela teve fratura exposta no braço. Eu precisei buscar ajuda, quando voltei fiquei impressionada com o jeito que o médico lidou com duas crianças assustadas, ele tranquilizou Belle que estava mais apavorada que eu, aproveitou que não estava tão assustada com o osso da minha amiga para fora e para que não entrasse em pânico me escalou como auxiliar, eu fiquei segurando o rosto de Belle, enquanto ele imobilizava o braço para tratar corretamente no hospital da cidade.
- Ele foi sensível com vocês duas.
- Sim. No fim, tocou minha bochecha agradeceu minha ajuda e disse que daria uma ótima médica porque não apavorei com a situação. Foi assim que nasceu meu sonho de ajudar as pessoas como ele fez conosco. Conforme cresci, percebi que tinha a distância emocional necessária aos médicos, que não apavorava em situações de emergências, sempre agi com calma.
- Verdade, quando aconteceu o acidente conosco, sabia o que fazer para que ficasse confortável para ir até o hospital, sem entrar em pânico.
- Como foi a sua infância?
- Em colégios internos até completar 18 anos.
- E antes disso.
Brian sorri e seu semblante se suaviza.
- Lembro de todos os momentos que passei ao lado dos meus avós. Minha avó era uma mulher muito doce, fazia questão de cozinhar todos os dias para meu avô que chegava cansado do escritório. A empresa sempre foi bem sucedida, mas meu avô era conservador, uma visão que não ajuda em uma empresa de desenvolvimento de tecnologias. Em casa era proibido falar de negócios. Ela me deixava participar de cada momento em que estava na cozinha, no Natal preparávamos biscoitos de canela. Meu avô me levava às vezes ao escritório, eu ficava com Judy enquanto estava em reunião. Fazia isso principalmente quando meu pai chegava fora de controle, me protegia do lado irracional do meu progenitor.
- Sinto muito que vocês os tenha perdido tão cedo.
- Eu também, foi um choque sair de um lar e ficar trancafiado o resto da minha infância em um colégio. Meu pai não queria ter nada a ver comigo, nunca mais tive dias despreocupados como os que tive com vovó. Bom, mas chega de falar de mim, nós chegamos.
A conversa estava tão boa que não percebi que já estávamos parados a algum tempo em frente à loja da minha família.
Desço do carro apreensiva e entro na loja, não encontro ninguém da minha família à vista.
- Gio? É você mesmo?
- Danielle?
Danielle é uma das poucas amigas da minha irmã que ficou ao meu lado com toda a situação familiar que se desenvolveu, com isso acabaram rompendo a amizade. Harper não a perdoou por ficar ao meu lado.
- Você está trabalhando aqui? Onde estão meu pais, minha irmã?
- Ela nunca quis assumir a loja, principalmente depois que Dom e Carter nasceram, seu pai acabou me contratando.
- Brian, essa é Danielle, funcionária dos meus pais. Danielle, esse é meu noivo, Brian.
- Prazer em conhecer você, Brian. Que bom que você reconstruiu sua vida Gio, você merece ser feliz.
- Vem, vamos para a casa dos meus pais, eles não estão aqui.
Nós saímos e voltamos para o carro, Brian não pressiona por respostas. Danielle me deu o olhar de pena que me fez correr dessa cidade e praticamente não mais voltar.
- Você está bem?
- Estou, são só lembranças ruins.
- Você não está só, lembre-se disso e tudo ficará bem.
- Obrigada.
Brian me puxa para o seu lado e me beija na testa, me aconchego em seus braços grata pelo conforto, enquanto Tim nos leva para casa dos meus pais.
Toco a campainha e aguardo, não tenho liberdade mais para entrar aqui sem ser anunciada.
Somos recebidos pela minha irmã que me olha com frieza, apenas abre a porta e permite que entremos, sem dizer uma palavra.
Eu olho para Brian que apenas indica com a cabeça para entrar, como bem disse, não estou só.
Entramos e escutamos enquanto Harper avisa mamãe que ela tem visitas.
- Mamãe você tem visitas, vou para o quarto com a minha família, enquanto estiver ocupada.
Harper sempre se faz de vítima e claro que minha visita não é um motivo para agir de forma diferente.
- Visita? Qu...
Minha para a sua pergunta quando me vê.
- Gio? você não chegaria mais tarde?
- Desculpa, Sra a culpa foi minha, estava muito ansioso para conhecer a família da minha razão de viver.
Olho para Brian e agradeço silenciosamente o tempo que me deu para me recompor da atitude fria da minha família
- Mãe esse é meu noivo Brian, amor essa é minha mãe Sarah Cooper.
- Oh perdoe meu modos, fui surpreendida, aguardava a visita de você mais tarde, sentem-se por favor, vou chamar seu pai.
Nos sentamos enquanto ela sai em busca de meu pai, Brian aperta a minha mão e olho ao redor observando as mudanças feitas na casa em que cresci.
Meus pais voltam, meu pai que corre para me abraçar com lágrimas nos olhos.
- Minha filha que saudade de você. Como você está linda!
- Oi papai, como você está?
- Melhor agora com toda a minha família unida novamente. Que bom que você reconsiderou e resolveu nos visitar. Fiquei magoado quando sua irmã disse que estava muito ocupada para vir me ver quando fiquei doente.
Olho para minha mãe que abaixa a cabeça envergonhada e percebo o que houve, elas enganaram meu pai que entraram em contato comigo e mentiram para ele que eu me recusei a vir.
- Acho que está enganado senhor, Gio não sabia da sua doença até que ligou ontem para informar que estávamos a caminho.
- Quem é você?
- Papai esse é Brian, meu noivo, Brian esse é Scott Wilson Cooper meu pai.
- Noivo?
- Sim, vim apresentá-lo a vocês. Nos casaremos na semana que vem.
- Por que um casamento apressado, minha filha? Está grávida?
- De novo a culpa é minha Sra Sara,  não quero mais esperar para acordar todos os dias ao lado dessa mulher incrível.
Meu pai olha para Brian com orgulho no olhar ao ver a forma que se refere a mim. Infelizmente minha irmã e cunhado resolvem participar dessa conversa. Acho que a curiosidade de Simon foi maior do que a antipatia de Harper para mim. Papai e eu sempre nos demos muito bem, ele tentou me apoiar em tudo que aconteceu, mas mamãe fez a cabeça dele que era melhor apoiar a futura mãe dos seus netos.
- Brian esses são Harper minha irmã e seu marido Simon.
- Simon é ex noivo de Gio - Harper tenta me constranger.
- Azar o dele e sorte a minha, garanto que consegui a melhor das irmãs Cooper para me casar.
Me dá uma vontade de rir da resposta de Brian. Ele consegue ao mesmo tempo deixar Harper e Simon com raiva, minha mãe envergonhada e meu pai com um risinho preso nos lábios, acho que no fundo concorda com a visão do meu noivo.
- Como ousa dizer isso, se nem me conhece?
- Não preciso conhecê-la, basta dizer que o caráter de Gio é inquestionável. Amo seu senso de justiça, honestidade e inteligência. Essa mulher me tem em suas mãos desde o primeiro esbarrão.
Conversamos mais um pouco, meu pai se sente cansado e sobe, aproveito que ficamos apenas os interessados e confronto minha mãe e irmã.
- Como tiveram coragem de mentir dessa forma para o meu pai, dizendo que recusei a vir quando nem sabia do ataque cardíaco.
- Eu decidi assim e mamãe concordou, não queria você perto da minha família.
- Como se tornou essa pessoa tão baixa e egoísta Harper? E a senhora como teve coragem de concordar com isso?
Minha mãe não me responde, totalmente envergonhada de sua mentira ser descoberta.
- Na época achei que o que fazíamos era o melhor, seu pai não podia ter um ambiente hostil ao redor. Hoje não agiria assim, sabendo como se sente.
- Agiria sim mamãe, não me contou a verdade quando liguei, acha mesmo que papai não diria nada sobre ter recusado a vir aqui em um caso de emergência?
- Já chega de show Gio, a decisão foi minha. Mamãe estava preocupada com papai, eu assumi a responsabilidade de tudo com Simon e decidimos assim.
- Claro que o casal que só sabe agir pelas minhas costas faria assim, agora você mamãe?
- Me desculpe Gio, errei. Vamos mudar de assunto, águas passadas não movem moinho e você e seu noivo estão aqui por outro motivo. Então o casamento será semana que vem? Precisa de ajuda?
Seguro as mãos de Brian e sorrio.
- Não, está tudo encaminhado.
- Irão se casar em Seattle? - Simon pergunta.
- O local do casamento é uma surpresa para minha noiva. Por enquanto será uma cerimônia bem íntima, mais tarde se ela quiser faremos outra celebração aqui em Jackson.
Percebo a postura rígida em Brian, ele não gostou da intervenção na conversa da minha irmã e seu marido.
Amei todas as vezes que ele me defendeu e isso me deu força para deixar bem claro que o que fizeram foi muito errado.
Nós nos despedimos e prometemos voltar para o jantar.
- Você quer sua família em nosso casamento?
Brian me pergunta e não sei o que responder. Aquela menina que viveu nas montanhas quer muito a família em seu casamento. A mulher que voltou e encontrou uma mãe e irmã egoísta quer distância dessas pessoas. Só meu pai que quero em minha vida.
- Não sei, acho que depende do jantar.
Volto a olhar em silêncio pela janela enquanto nos dirigimos para o hotel. Apesar de tudo essa viagem me fez bem, precisava confrontar o passado para viver meu futuro sem arrependimentos.

Um CEO em minha vida (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora