Capítulo 64

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Recomeço – Capítulo 64
Enquanto ocorria a cirurgia de sua mãe, Raquel se manteve de cabeça baixa. O choro parecia não findar.
Foram duras as palavras que ouviu de sua mãe naquele dia, mas isso não queria dizer que iria abandonar a sua mãe.
Estava magoada por pensar que a mãe achava que aceitaria dinheiro para sumir da vida das pessoas de sua família.
Isso doía, sentia como se seu coração tivesse quebrado em vários pedaços.
— Filha, você não quer ir para casa? — Rogério que estava ao lado de Raquel perguntou, pois notara que a filha estava muito preocupada com o estado de Rita.
Com a pergunta do senhor, todos desviaram o olhar para observar a engenheira.
— Não, pai, eu vou aguardar.
— Filha, eu sei que você está preocupada, mas estou notando que você não está emocionalmente bem — segurou uma das mãos da filha e notou muito fria — Sófia, leve-a pra casa — Desviou o olhar para a loira que estava do outro lado da engenheira, observando.
— Amor... — Sófia iria tentar convencer Raquel, contudo foi interrompida.
— Por favor, não tentem me convencer — Raquel pediu.
- Raquel, acho que eles estão certos, você não aparenta estar bem – Norma que estava sentada em um banco mais afastado, comentou – minha amiga, você precisa estar bem em um momento desses – disse, pois por várias vezes viu a amiga chorando e se levantando, demonstrando seu desespero. Sentia que Raquel começara a se sentir culpa pelo ocorrido, mesmo não tendo feito nada.
- Espere a cirurgia acabar. Quando terminar, Sófia te leva para casa – Rogério disse tentando passar tranquilidade, mas a última coisa que estava era tranquilo, Ricardo havia sumido sem dar notícias. Temia o seu filho ter feito algo.
- Mas, pai, o senhor vai ficar aqui sozinho? – a engenharia indagou.
- Eu fico com ele, Raquel, você pode ir tranquila – Norma anunciou – Amanhã, você retorna.
- Escute Norma, amor, é preciso – Sófia envolveu o corpo da engenheira com seus braços.
Raquel apertou os seus punhos força e se sentiu totalmente rendida. Seu corpo tremia. Estava nervosa... temia que o pior acontecesse.
- Irei, mas qualquer novidade, me liguem – anunciou.
- Vai ser melhor assim, filha – Rogério avisou e o doutor Hernandes surgiu, aparentemente cansado – Como ela está, doutor? - levantou-se rapidamente. Queria saber o estado de sua esposa.
Raquel fez o mesmo. Necessitava muito saber como a mãe estava, já que temia perdê-la.
- Ela está aparentemente bem – Doutor Hernandes anunciou e todos passaram a respirar aliviados – Agora vamos aguardar como ela vai reagir a cirurgia.


Antes de ir para casa como combinado com seu pai, Raquel foi ver sua mãe.
Era difícil vê-la deitada naquela cama desacordada e ligada a aparelhos.
- Mãe, o que aconteceu entre a gente? – Raquel perguntou ao dar um leve toque no vidro da UTI– Quando é que a gente se perdeu dessa forma? Eu sempre te amei tanto... sempre fiz de tudo para ser o melhor para a senhora se orgulhar, mas nunca pareceu o suficiente – lágrimas começaram a rolar por sua face – Eu não sei o que fazer, mãe, a senhora disse para eu me manter distante, mas como posso? A senhora parece estar tão frágil.
Recolheu sua mão e passou a olhar para o teto.
Sentiu-se totalmente perdida.
Os últimos acontecimentos mexeram muito com ela.
- Por que a senhora me trata dessa forma? – indagou – queria tanto ser aceita. Fazer parte da família... mas vejo que isso nunca será possível – soluçou baixo – Espero que depois de tudo que aconteceu. As coisas possam a ficar diferente. Eu sei que você me quer distante, mas te juro, mãe, eu irei te mostrar que não sou essa pessoa ruim que pensa. Que não estou atrás de seu dinheiro ou querendo me vingar. Eu sei dos erros que cometi, voltei disposta a mudar e é isso que irei mostrar para você – Voltou a tocar a fina espessura que separava ela de onde a mãe estava  - Desejo que seja forte, mãe, e que volte a ficar bem novamente.
Alguém tocou seu ombro.
- Raquel – Doutor Hernandes surgiu – É melhor você ir para casa. Conversei com seu pai e ele disse que você não está bem... ele pediu para eu conversar com você... – Deu uma pausa – Descanse, volte pra casa... qualquer novidade, você será avisada. Não precisa ficar se desgastando dessa forma.
- Eu já estou indo. Falei com ele que iria – Ficou olhando para sua mãe – Não esqueçam de me avisar se caso algo acontecer – balançou sua cabeça tentando afastar os pensamentos ruins.
- Claro, querida, mas fique tranquila. Ela está reagindo bem.

Raquel saiu de onde estava  e a primeira coisa que fez foi se jogar nos braços de Sófia.
Não conseguiu conter o choro.
- Meu amor, não fiquei assim – Segurou a face da engenheira – Vai ficar tudo bem... ela vai ficar bem.
- É o que espero, amor – apertou o corpo de Sófia com seu braços.
- Vá pra casa descansar, Filha, depois você retorna – Rogério que estava observando a demonstração de afeto das duas mulheres, falou.
Ele se sentia desconfortável por ver Raquel com a ex de Ricardo, no entanto, preferia não julgar. Depois queria ter uma conversa franca com a filha e também, ele notou que o que estava havendo entre as duas mulheres era verdadeiro.
- Está bem, pai – Raquel saiu do abraço de Sófia e foi para o de Rogério – Não esqueça de me chamar se caso algo acontecer.
- Filha, não precisa ficar repetindo isso sempre. Iremos te avisar. Vá tranquila – Rogério disse e começou a se lembrar das conversas que havia tido com Rita sobre Raquel. Mesmo a senhora rejeitando a engenheira, ela permanecia lá – Quando Rita melhorar, eu preciso ter uma conversa muito séria com ela.

_*_
Já passava das 3 horas da manhã e Paola mantinha-se acordada, observando Ricardo que estava deitado em seu colo.
Fazia um bom tempo que desejava estar com engenheiro, porém não passava por sua cabeça que seria naquelas condições.
Nos últimos anos, ela se arrependeu muito pelos erros cometidos. Sabia que havia enganado muitas pessoas no passado, mas agora estava de volta e disposta a fazer tudo diferente.
Desejava conversar com Raquel, contudo, pressentia que ainda não era o momento.
Deslizou as pontas de seus dedos pelos cabelos desalinhados de Ricardo.
Era difícil acreditar que ele havia se tornado um homem muito amargurado e com sede de vingança.
- Sófia – esse nome surgiu em sua cabeça. Pelo que Ricardo havia lhe dito, não havia mais esperança para eles reatarem o relacionamento.
Isso era muito bom para Paola, todavia, foi o motivo que fez Ricardo desgraçar sua vida.
Nunca passara por sua cabeça que o engenheiro um dia seria capaz de fazer algum mal a Rita, a quem ele era tão apegado.
- Espero que você esqueça essa mulher de vez – pegou o celular e notou que estava muito tarde – Ricardo – moveu o corpo do engenheiro lentamente.
- Sófia – Ricardo disse ainda dormindo.
Paola ouvindo o nome daquela mulher, perdeu a paciência e empurrou o corpo do engenheiro para o outro lado do sofá.
- Acorde, Ricardo – disse furiosa.
- O que houve? – Ricardo olhou para os lados sem entender o que havia acontecido – Foi só um sonho – pensou.
- Nada, Ricardo - Levantou-se. Não conhecia Sófia, mas já estava pegando um certo ódio pela mulher – Você precisa tomar um banho e dormir. Vou pegar uma roupa para você.
- Acho que suas roupas não servem em mim – Disse analisando o corpo da mulher – ou será que você sai com tantos homem assim a ponto de já ter peças deles aqui? – Falou com certo deboche.
A mulher foi até Ricardo furiosa.
- Não te devo satisfação de minha vida. Saio com mil homens se eu quiser, mas essas roupas são de meu irmão – Falou e Ricardo deu um sorriso de canto.
- Sabe, já que você veio atrás de mim... quer me reconquistar, por que você não aproveita.
- Eu não estou entendendo, Ricardo – Paola olhou para Ricardo confusa.
- Tomar banho comigo – disse e ouviu uma gargalhada tomando conta de seu ambiente.
- Você acha que vou me sujeitar a todo tipo de situação para estar com você? Acorda, Ricardo, olha seu estado. Nem se eu estivesse desesperada – Falou e notou o olhar confuso de Ricardo sobre si – Sim, eu voltei para te reconquistar, mas não aceito migalhas.
- Eu não estou entendendo.
- Claro que não tá, esperava que eu estivesse me jogando aos seus pés – Respirou fundo – Eu me arrependo de tudo que fiz. Tínhamos sonhos... queríamos ter uma família... eu desejo isso novamente, mas não com o Ricardo que estou vendo agora. Esse homem agressivo... arrogante, eu não quero – Disse e caminhou em direção ao quarto.
- Eu não me importo para o que você pensa ou deixa de pensar de mim – não queria se sair por baixo naquela discussão.
- Eu sei que importa – Paola finalizou.

_*_

Enquanto observam as pessoas paradas pelo corredor da clínica, Norma e Laura foram para o refeitório da clínica.
- Você está bem, amor? – Laura indagou ao notar a feição da ruiva pensativa.
- Estou preocupada com Raquel. É interessante Rita a rejeitar e ela sentir tanto por vê-la aqui.
- Bom, querendo ou não, Rita é a mãe dela. Eu não tenho um bom relacionamento com minha família, mas quando acontece algo, eu sou uma das primeiras a ir socorrer - Sentaram-se em uma mesa.
- Acho que você está certa – Norma se deu conta de que Raquel tentaria ficar perto da mãe mesmo depois de tudo.
- Eu vou pedir um café para nós.  Precisamos disso dar uma despertada – Laura levou a sua mão até a de Norma que estava sobre a mesa – Vai ficar tudo bem, amor.
- Obrigada por ser tão presente em minha vida – Norma sorriu, pois Laura estava sendo uma namorada perfeita.
- Não precisa agradecer por isso - Levantou-se e foi pedir os cafés.
No momento em que fico ali sozinha perdida em seus pensamentos, Norma viu um vulto feminino passando por si e em seguida, ouviu o nome de Laura sendo dito por uma mulher que ela não conhecia.
Ao olhar para onde Laura estava, Norma se deparou com uma mulher loira – que usava o uniforme da clínica – cheia de intimidade para cima da sua médica.
Norma estreitou o seu olhar, não estava acreditando no que estava vendo. A desconhecida a todo momento tocava no corpo de Laura e ela não fazia nada para isso não acontecer.
- Eu não vou me sujeitar a esse tipo de situação - sem dizer nada a Laura, Norma saiu do refeitório.

Recomeço (COMPLETO)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora