Como sobreviver a um dia quente

203 46 2
                                    

Não consigo fazer isso – reclamou Jimin, riscando outra resposta errada.

Esses problemas não são tão dificeis - retruquei, feliz por ser o último ano em que precisaria ensinar matemática ao Jimin.

A matéria de cálculo acabava com ele e nós estávamos dando nos nervos um com o outro. O fato de fazer um calor insuportável no meu quarto também não ajudava em nada.

Por mais que eu implorasse, appa se recusava a instalar um ar-condicionado, alegando ser desperdicio de energia. Peguei o livro e comecei a ler: - Dois homens estão viajando em dois trens, que saem da estação.. Ninguém anda mais de trem – interrompeu Chim, de birra. – Por que a gente precisa sempre falar de trens? Por que não aviões? Levantei os olhos do livro.

- É impossível ensinar a você. Jimin fechou seu caderno com força. - Falando nisso, e o Jin na aula, hoje, hein? A Sra. Lee quase teve um orgasmo quando ele se levantou e fez aquela palestra enorme sobre Hamlet. - Jimin  fez uma pausa. – Ele chegou bem perto de fazer uma peça sobre a Dinamarca parecer interessante.

- Voltando ao problema.

- Aliás, cadê o Jinnie? –  Jimin abandonou totalmente o cálculo, pulando na minha cama para olhar pela janela. E abriu a cortina. – Seoook- Jiiiin– cantarolou. – Venha brincar. Jimin quer ver você.

- Por favor, nåo chame o cara - pedi, sério.

- Só uma espiadinha naqueles olhos negros e sensuais. – Jimin se inclinou para fora da janela. – Ei, tem alguém vindo. Uma picape parou na sua rua.

Quem é? - perguntei, sem me importar. Devia ser um dos alunos de ioga de papai, chegando cedo. Ouvi o som de pneus no cascalho, depois um motor sendo desligado. Meu melhor amigo se virou para mim, largando a cortina. - Chan. É a picape azul do Chan. Parou perto do estábulo.

-Chanyeol? Tentei parecer indiferente. - Ah, é só nossa entrega de feno. A gente compra da fazenda dele. Depois ele descarrega e vai embora.

- Ah. – Jimin processou isso, depois enfiou a cabeça pela janela e berrou: – Ei, Chanie ! A gente vai descer!- Não, ele não fez isso.

- Jimin! Minha camiseta está furada! E estou de cara lavada!

- Você está lindo . – Ele ignorou meus protestos e me puxou pelo braço. – Além disso, eu disse que a gente ia descer.

Relutante, deixei que ele me arrastasse para fora. -Eu vou te matar. Jimin nem me ouviu. Ele está sem camisa – sussurrou, me puxando pelo quintal na direção da picape dele. Ele estava de pé na carroceria, jogando fardos no chão.

- Olha aqueles músculos!

Chim, cala a boca! – pedi, apertando o braço dele. - Ai! Ele se soltou e franziu a testa para mim.
- O que vocês estão fazendo? - perguntou Chanyeol, sorrindo e fazendo uma pausa no trabalho.

Ele então tirou um lenço vermelho do bolso da calça jeans surrada e enxugou o suor da testa. Os bíceps inchados e a barriga tanquinho brilhavam ao sol poente.

Só estamos estudando matemática - respondi, mudando a posição do braço para esconder o furo da camiseta. Ele ficava bem em cima da barriga, aumentada depois de um verão inteiro jantando fritas.

Quer beber alguma coisa quando acabar ai? - ofereceu Jimin, como se a casa fosse dele.
Beleza - concordou Chanyeol, sorrindo. - Só me deixem terminar de descarregar, antes que o sol se ponha totalmente.

Jimin agarrou meu pulso, sinalizando que deveríamos esperar lá dentro. - Vamos trocar sua camiseta – cochichou no meu ouvido. A gente se vê daqui a pouco - falei para ele, dando uma olhadinha final em seus peitorais.

Nada mau. Mas enquanto eu me virava na direção da casa, vislumbrei um estudante romeno de intercâmbio encostado na lateral da garagem, braços cruzados sobre o peito.

Talvez fosse um truque da luz que ia se esvaindo, lançando sombras duras no seu rosto anguloso, mas ele não parecia feliz

Timeless • [YoonJin]Onde histórias criam vida. Descubra agora