Como dar a última ordem

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Penúltimo capítulo

Boa leitura.

Incapaz de localizar um papel de carta mais adequadamente pomposo no meio da noite, redigi meu bilhete de abdicação no verso de um panfleto de turismo que descrevia as belezas de nosso lar ancestral – VEJA UMA MASMORRA DE VERDADE!

CONHEÇA A VISTA DAS TORRES! – que encontrei perto da porta da frente. Escrevi:

Querida família,

É inútil travar uma guerra contra os Kim. Decidi que é do nosso interesse que eu retorne a Coreia do Sul, que abdique do posto de príncipe. Porém, meu último ato como seu soberano é ordenar que todo Min se submeta sem luta ao domínio dos Kim.

Estou colocando nosso clã sob o poder de Kim Seokjin para que possamos ter paz. Daqui em diante, vocês serão súditos dele.

Esta é a minha ordem, dada à meia-noite de 9 de junho e efetiva a partir das 6h30 deste mesmo dia.

Min Yoongi.

Pus o bilhete na comprida mesa de jantar, ainda cheia de pratos e taças do festim arruinado, onde tinha quase certeza de que Dorin iria encontrá--lo na hora do café da manhã. O panfleto parecia ridículo apoiado num candelabro de prata manchado e eu esperava que ao menos minhas palavras soassem oficiais.

De qualquer maneira, se alguém lesse minha diretriz, eu já estaria morto. O destino dos clãs não seria mais problema meu.

Isso não vai acontecer, Yoon.

Eu desejava me apresentar a Seokjin de modo majestoso e poderoso, por isso não havia tirado minha roupa, o que tornava difícil mudar de marcha no apertado Panda. O sapato se prendia na embreagem, mas consegui manobrar para fora do estacionamento e sair para a estrada estreita e tortuosa que se retorcia como uma trepadeira venenosa em direção ao castelo de Seokjin.

Felizmente eu havia gravado o local da casa dele – sua proximidade da minha propriedade ancestral, sua grandiosidade horrível – na vinda com Dorin, porque pude refazer o caminho, mesmo sendo uma rota confusa nas montanhas escuras. Ou talvez eu tenha me perdido algumas vezes, porque a viagem pareceu durar uma eternidade. Por fim, vi as torres pontudas do castelo tentando esfaquear a lua cheia e peguei a trilha que seguia para lá, quase vertical, interrompida por curvas fechadas que brotavam da escuridão como bonecos de caixas de surpresa e me obrigavam a apertar o freio várias vezes para não voar pelos penhascos íngremes que apareciam à esquerda e à direita, nas aberturas da floresta densa.

– Vai! – Eu encorajava o Panda, dando tapinhas no volante, instigando o motor que lutava, certo de que ele estava prestes a desistir.

O asfalto terminou, mudando para terra batida, e continuávamos a subir.

Finalmente, quando começara a acreditar que a montanha não acabaria nunca, um portão de ferro surgiu diante de mim, com pelo menos dois metros e meio de altura. Por que não pensei nisso? Parei o carro e puxei o freio de mão com o máximo de força que pude, tendo visões do pobre Panda desaparecendo pela estrada vertical e mergulhando na ribanceira, para jamais ser visto de novo. Levantando a calça para que a barra não se arrastasse na estrada de terra, fui até o portão e me aventurei a puxar a pesada argola de ferro que servia de maçaneta, certo de que seria uma tentativa inútil.

Porém, para minha surpresa, o portão se moveu uns dois centímetros. Puxei com mais força, lutando contra o peso, e consegui abri-lo apenas o bastante para me esgueirar para dentro. Grande sistema de segurança de Jin!

Timeless • [YoonJin]Onde histórias criam vida. Descubra agora