Como ter escolhas

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CARO VASILE, O senhor sabia que na Coreia do Sul as "opções" são tão abundantes que alguns individuos de mente débil chegam ao ponto de se sentir assoberbados e precisar de aconselhamento psicológico (eu sei: nós gargalhamos!) só porque são incapazes de se orientar em meio às opções quase infinitas inerentes a literalmente cada ato, por mais insignificante que seja?

Aqui, até mesmo pedir uma pizza (finalmente esbarrei em algo comestivel) exige múltiplas decisões. Grande? Extragrande? Com pepperoni? Algum tipo de legume? Mais queijo? Menos queijo? Queijo escondido, como uma surpresa, dentro da massa? E, por falar em massa.. grossa? Fina? Moldada à mão? Ou devemos repensar tudo e pedir no estilo de Chicago? Ou à siciliana?

Francamente, Vasile, pedir comida "para viagem" (também descobri que posso comandar um exército de supostos serviçais, todos andando por ai em velhos Ford Escorts) exige tanta estratégia quanto alguns generais devotam a uma batalha em que sangue de verdade, e não apenas molho de tomate, será derramado.

Por falar nisso, lamentei saber que os Min estão cansados de esperar o retorno de seu príncipe e a consumação do pacto. Eles continuam sendo uma família impulsiva e impaciente, não é?

Mas acusar-me de não me esforçar para cumprir com minha obrigação – e depois tentar cravar uma estaca num Kim num ataque de ira. Esse tipo de coisa pode precipitar um conflito terrivel, Vasile.

E de repente considero toda essa possibilidade enfadonha demais. Será que nós, vampiros, devemos sempre recorrer tão rapidamente à violência?

Será que não poderiamos nos sentar em volta de uma "breja gelada" e "esfriar a cabeça", como minha televisão e meus colegas de time vivem insistindo para que eu faça? (O senhor ficaria pasmo com o esforço que os adolescentes coreano fazem para conseguir qualquer quantidade de cerveja, que é proibida aos menores de 21 anos, Na verdade é espantoso, Vasile – tudo por um pouquinho de lúpulo fermentado. Se ainda fosse por sangue...)

Retornemos à pequena explosão de tensões entre os Min e os Kim. Por favor, aconselhe os dois lados a permanecerem pacientes, lembrando-lhes que somos vampiros. Por que tanta pressa quando temos a eternidade? E já que estamos no assunto dos impetuosos Min e da violência, nosso Príncipe Omega-à- espera me deu um tapa na cara bem impressionante um dia desses.

O senhor, dentre todos os vampiros, sabe como é dificil fazer minha cabeça se virar com o uso da mão aberta. Devo dizer que admirei a força por trás do tapa.

Muito impositivo.

E o modo como os olhos dele relampejaram foi bastante régio. Quanto à causa de minha humilhação pela bofetada de Príncipe Min.

Talvez seja melhor deixar para outra missiva. Enquanto isso, será que eu poderia lhe pedir que mandasse, com extrema presteza, algumas das minhas roupas formais? Digamos, talvez, o smoking Brioni que adquiri em Milão. E despache um par de abotoaduras discretas também. Confio no seu julgamento.

Tenha em mente que a maior parte dos meus colegas de festa estará usando smokings alugados. (O senhor sabia que é possivel alugar roupas? Isso não parece repulsivo? Vestir calças usadas por uma sucessão de predecessores de pedigree duvidoso e higiene incerta? Mas é verdade.)

O fato é que desejo, é claro, me apresentar de modo adequado à minha posição – sem sobrepujar indevidamente os demais. A deliberada demonstração de superioridade por meio da vestimenta é algo grosseiro, não acha? Desde já agradeço pela ajuda. Seu sobrinho, Seokjin

P.S.: Que diabo. Por que não me despedir com o cumprimento coreano tradicional? "Feliz Natal", tio Vasile. "E próspero ano-novo, "

P.P.S Realmente - " Aconselhamento Psicológico.?"

Timeless • [YoonJin]Onde histórias criam vida. Descubra agora