Como não trazer alguém em casa

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E então, Chanyeol, como foi a produção de feno este ano?- perguntou Appa, tentando puxar conversa.

- Boa, eu acho.

Chanyeol parecia inseguro até mesmo para dar essa resposta simples, provavelmente por estar na berlinda, sob a inspeção dos meus pais.

- Eu ficaria feliz em mostrar alguns dos controles de pragas sem quimica que nós usamos, se você estiver interessado... - Appa – interrompi. - Você prometeu. Nada de sermões ambientais.

Por que meus pais tinham feito tanta questão de jantar com Chanyeol, afinal? Eles viviam falando em espaço pessoal e autonomia de aprendizado - até que chegou a hora de eu sair com um cara. De repente viraram a própria familia coreana tradicional, insistindo para que Chanyeol jantasse com a gente, apesar de ele ter crescido ali do lado e entregar feno na nossa casa quase toda semana. Era uma pagação de mico.

E o fato de Seokjin estar de péssimo humor não ajudava em nada. - Mais leite de soja? – ofereceu mamãe. Chanyeol levantou a mão, um pouco depressa demais. - Não, obrigado.

- A gente acaba se acostumando com o gosto – falei, dando força.

- Ah, é. Acho que sou mais fă de leite comum.

Que explora as vacas – acrescentou papai, apontando um garfo na direção de Chanyeol. - Pobres animais, postos em fila, com as tetas presas no metal frio..

- Tetas? - Pai, por favor. Não fale essa palavra...

- O que é que tem? -  Appa levantou as mãos, cheio de inocência. - Chanyeol mora numa fazenda. Tenho certeza de que ele está familiarizado com as tetas das vacas.

Cada gota de sangue no meu corpo correu para o rosto. Era bem tipico do meu pai falar da anatomia das vacas durante meu primeiro jantar com Chanyeol e depois acusá-lo de estar "familiarizado" com o equivalente bovino dos seios. Como se Chanyeol  gostasse de dar uns pegas nos animais de criação ou algo parecido.

Olhei para Seokjin, esperando que ele desse um sorrisinho afetado, mas ele apenas remexia a salada, examinando um dos premiados tomates cereja de papai como se fosse uma forma de vida alienigena melequenta que inexplicavelmente tivesse ido parar na ponta de seu garfo.

- Querido – interveio mamãe. - Talvez a gente pudesse mudar de assunto.

Experimentei um breve instante de alívio, até que mamãe se virou para Chan e comentou: Soube que vocês estão lendo Moby Dick na aula de literatura.

- Ah, é.

- Adorei esse livro quando tinha a idade de vocês – disse mamãe. - A ideia da aventura no mar. E como provoca reflexões! O que persar da baleia branca? O que ela simboliza? - perguntou ela, ainda falando com Chanyeol. - Deus, a natureza, o mal ou simplesmente o orgulho de Ahab?

Houve um momento de silêncio enquanto o pobre Chanyeol tentava pensar numa resposta àquela pergunta, o que, pela expressão dele, era quase tão palatável quanto o leite de soja.

- É.. Todas essas coisas? - propôs ele finalmente. - Estamos lendo a versão resumida – observei, feito idiota. Eu estava acostumado a morar com uma professora: sempre havia algum tipo de questionário durante o jantar. Mas será que mamãe precisava atormentar o coitado do Chanyeol ?

- Talvez tenham cortado algumas metáforas..

- A baleia representa as forças ocultas da destruição que anseiam romper a superficie de um mundo complacente – intrometeu-se Seokjin, falando pela primeira vez e fazendo com que todas as cabeças se virassem na sua direção.

Timeless • [YoonJin]Onde histórias criam vida. Descubra agora