Como ser um Príncipe

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Boa leitura!

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A boa notícia era que o clã Min também tinha sua propriedade bem impressionante. A má notícia era que ela estava aberta aos turistas quatro dias por semana. Essa era outra manifestação de nossas “circunstâncias reduzidas”, como Dorin gostava de chamar o que, aparentemente, era uma dificuldade econômica grave.

–As visitas só começam às 10 da manhã – tranquilizou-me Dorin, ajudando a levar minha mala para nossa mansão úmida. Ele desviou de uma placa de metal que instruía aos visitantes: “PROIBIDO FUMAR! PROIBIDO TIRAR FOTOS COM FLASH!” numas sete línguas. – Estamos muito populares este ano – acrescentou Dorin, como se isso fosse algo ótimo. – As autoridades do turismo da Romênia aumentaram bem a publicidade. O tráfego de carros aumentou 67 por cento.

Minha nossa.

– Claro que há áreas privativas – acrescentou ele, vendo meu desapontamento. – Os quartos e banheiros estão quase todos fora do circuito de visitas. Se bem que alguns americanos conseguem achar os toaletes privativos. Acho que estranham a comida. De qualquer modo, não se assuste se abrir uma porta e encontrar um dos seus conterrâneos empoleirado por lá.

Turistas? Entrando no meu castelo? Aposto que ninguém entrava sem autorização na propriedade dos Kim.

– Dorin?

– Sim?

Ele arrastava minha mala por uma escada alta e curva, feita de pedra. A lâmpada numa tocha falsa tremeluzia na parede, imitação barata do fogo de verdade que eu tinha quase certeza de que ardia na casa de Seokjin. Ele não aceitaria nada menos do que a coisa de verdade. De novo acariciei o jaspe-sanguíneo em meu pescoço e a palavra inaceitável relampejou na minha mente. Isso era inaceitável. Se as coisas acontecessem como eu esperava e se eu vinha mesmo para liderar essa família, iria reivindicar nosso castelo para os Min e não para turistas. A ideia me empolgou de forma surpreendente. Quando chegamos ao patamar mais elevado, examinei os tetos abobadados, os corredores que já haviam sido majestosos. É, poderíamos dar uma melhorada.

– O que acontece agora? – perguntei a Dorin, acompanhando-o pelo corredor e entrandonum quarto gigantesco.

Dorin largou a mala no chão.

– Você precisa conhecer a família. Todos estão muito ansiosos para jantar com você. Eles vão chegar logo.

Imagens da “família” de Seokjin me vieram à mente.

– Quantos virão? – perguntei, esperando não ter que confrontar um número muito grande de meus parentes vampiros de uma vez.

– Ah, só uns 20 parentes mais próximos. Achamos que não seria sensato sufocar você em seu primeiro dia aqui, mas, todo mundo está curioso para ver nosso herdeiro há muito esperado. Acho que vai querer tomar banho, não é? Trocar de roupa? – sugeriu Dorin.

–Vou – respondi, aproveitando a oportunidade para ficar sozinho por um momento. Para refletir. Para me concentrar. Isso tudo estava acontecendo depressa demais. Eu precisava pensar.

Dorin andou pelo quarto acendendo luzes. O espaço era empoeirado, datado e frio, mas habitável. Não estava distante demais de sua glória anterior.

– Espero que se sinta confortável aqui – disse Dorin, jogando minha mala na cama dedossel. – Vou voltar para buscá-lo dentro de uma hora. Tire um cochilo, se quiser.

–Obrigado.

–Ah! Quase esqueci. – Dorin foi até um grande guarda-roupa, abriu a porta e tirou um blazer pendurado num cabide. Estava um pouco desbotado mas ainda era lindo. A seda que sem dúvida já reluzira carmim havia se suavizado num vermelho mais fechado. – Isso era do seu pai ômega. Achei que talvez você quisesse usá-lo para o jantar. É de fato uma ocasião importante e nós partimos tão depressa que não lhe dei chance de pôr na mala um traje formal.

Como se estivesse num transe, fui até Dorin e passei as pontas dos dedos pelo tecido.

–Reconheço isso. Da fotografia.

–Ah, sim, do retrato. – Dorin sorriu. – Mihae tinha muitas vestes, mas esta era sua favorita. Ele adorava a cor intensa, tão parecida com sua personalidade. Usou-o em muitas reuniões adoráveis, numa época diferente, antes do expurgo... – Por um momento ele pareceu a ponto de chorar, mas depois se animou. – Você fará justiça a ele, Príncipe Yoongi, e trará uma nova era para nós. Talvez todos sejamos felizes outra vez, em breve. E talvez o maior sonho de seus pais, a paz entre os Kim e os Min, se concretize afinal.

Acariciei o tecido de novo.

– Mas não tem problema eu usar isso?

–É mais do que apropriado – garantiu Dorin. – É perfeito.

Então ele me deixou sozinho e coloquei o blazer na cama com delicadeza. Eu usava o colar dele, ia pôr seu blazer e estava em sua casa. Mas como poderia me mostrar à altura do legado de Min Mihae ? Será que eu era um príncipe de verdade ou somente um fantasma – uma sombra pálida e superficial dele –, como acreditara o homem do restaurante?

Dúvidas não vão ajudar agora, Yoon. Seokjin acreditava que você era exatamente como ele, em todos os sentidos...

Encontrei o banheiro, tirei a calça jeans e a blusa que havia usado na viagem e tomei um banho de chuveiro longo e quente. Depois de me secar, peguei a camisa branca do cabide, abri a fileira de botões de madrepérola que descia pelas costas, fechei com cuidado, coloquei por dentro da calça junto ao cinto, fechei o blazer, puxando-o em volta do corpo como um abraço do passado. Um abraço que ficara do meu pai.

Servia perfeitamente. Como se tivesse sido feito para mim.

Eu me olhei num espelho dourado que ficava no canto do quarto, vendo o reflexo à luz de uma lua cheia, clara, que brilhava como um farol através de uma série de janelas de vitral.

Era assim que Mihae se via? À luz desta lua? Neste mesmo espelho?

A gola do blazer era alta, chegando quase a roçar no queixo, mas o decote mergulhava fundo, emoldurando o jaspe-sanguíneo no pescoço. O blazer se curvava sobre meu peito, depois caía abruptamente como uma cachoeira despencando num penhasco dos Cárpatos, terminando numa enorme cauda de seda que farfalhava como um sussurro quando eu andava. Sussurros que sem dúvida seguiam qualquer ômega que ousasse usar aquela veste imponente.

Esse que dizia muito sobre o ômega que o usasse. Dizia a todo mundo que a visse: “Sou poderoso e lindo e é impossível alguém não olhar para mim. Eu serei notado.”

Eu não tinha nenhuma tiara de prata, por isso juntei os fios alvos frouxamente atrás do pescoço e deixei que caíssem livres, branco lustroso sobre o tecido vermelho lustroso, declarando minha posse mais jovem, mas ainda dramática, sobre o blazer.

O jovem que eu via refletido no espelho, com olhos escuros brilhando ao luar, parecia mesmo um príncipe.

Forte. Decidido. Destemido.

Houve uma batida à porta e Dorin me chamou.

–Seus convidados chegaram. Você está pronto?

–Pode entrar – convidei.

Dorin enfiou a cabeça no quarto e seus olhos alegres e enrugados se arregalaram. Por um longo momento ele apenas me encarou, dizendo por fim:

–É. Você está pronto.

Depois ficou de lado, permitindo que eu passasse pela porta. Notei que ele fez uma pequena reverência.

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Obrigada leitora que mimou timeless com vários comentários e votinhos💜 Por vc, vou tentar atualizar o mais rápido possível. Os capítulos já estão todos escritos, como sabem os créditos não são meus, é uma adaptação (bem melhorada da versão hetero de quase duas década atrás haha🤪) então meu único trabalho é reescrever kkkkk, mas queria avisar que faltam 4 capítulos para o fim.

Timeless • [YoonJin]Onde histórias criam vida. Descubra agora