Como conhecer Vasile

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Demorou menos de uma semana para o inferno se abrir, depois que a carta de Seokjin chegou à região rural perto de Sighişoara, na Romênia.

Enquanto isso, Seokjin sugava tudo o que podia da típica vida de jovem coreano como se ela fosse uma veia farta.

Jogava basquete durante horas e horas, matava aula e até deu uma festa em seu apartamento na garagem, que terminou com uma batida da polícia e uma ameaça por parte de meus pais de deportá-lo no próximo vôo para Bucareste.

Jackson estava o tempo todo a seu lado, como se eles tivessem sido grudados com cola.

E então, Seokjin, mamãe, papai e eu fomos convocados para um encontro com os Anciãos, que aconteceria em Daegu. Eles se dignaram a marcar uma reunião aqui, tão séria era a crise. Não havia escolha a não ser comparecer.

– Não acredito que eles vão se reunir numa churrascaria – reclamou mamãe, entrando com relutância na Bife do Oeste, na véspera de ano- novo, na hora marcada. – É como um tapa na cara. Eles sabem que somos vegetarianos.

– É um jogo de poder – concordou papai.

– Por favor, apenas cooperem – implorei. Eu sentia que as coisas já iam ficar feias obastante sem que papai e mamãe tivessem de se preocupar com a comida. – Aqui servem saladas.

– Cheias de agrotóxicos – fungou papai. – De conservantes.

Às vezes papai assumia uma perspectiva muito limitada.

– Nós viemos para uma reunião – disse mamãe à recepcionista.

– Com um bando de... homens mais velhos – acrescentei. – Eles disseram que reservaram uma sala.

Um medo tão cru quanto a carne que havia nos freezers atravessou o rosto da recepcionista, mas ela conseguiu dar um sorriso enquanto localizava três cardápios.

– Aqui, por favor.

– Ai, merda – não consegui deixar de dizer enquanto entrávamos na sala.

Mamãe apertou minha mão.

– Está tudo bem, Yoongi.

Mas não parecia nem um pouco bem.

No meio de uma sala forrada em lambri e enfeitada alegremente com recortes de papelão de Papai Noel com duendes e renas de narizes brilhantes, 13 dos velhos mais tenebrosos que eu já vira estavam encurvados ao redor de uma mesa circular, golpeando uma enorme bandeja cheia de carne sangrenta, muitíssimo malpassada.

Eles jogavam pedaços de carne vermelha nos pratos e não comiam. Apenas... chupavam. O sumo. O sangue que escorria.

Ainda que o aquecimento estivesse ligado no restaurante, o ar era frio com a presença deles. E o cheiro de sangue fazia minhas narinas pinicarem, penetrava nos poros e me fazia cócegas no estômago.

Meus pais apertaram a barriga e meu pai começou a ter ânsias de vômito.

O vampiro mais velho e mais assustador levantou com relutância o olhar de seu festim. Indicou três cadeiras vazias.

– Por favor, sentem-se. E desculpem-nos por termos começado sem vocês. Estávamos famintos por conta da viagem.

Vasile.

Tinha que ser o tio de Seokjin, Vasile.

Havia uma semelhança muito vaga nas feições deles e a mesma pose de poder contido. Mas o velho vampiro Kim não tinha o charme, a graça e o maravilhoso brilho de malícia que havia nos olhos de Seokjin.

Timeless • [YoonJin]Onde histórias criam vida. Descubra agora