Como conhecer a eternidade.

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Último capítulo, tenho um recadinho nas notas finais

Boa leitura!

Seokjin bateu na palma da mão com aquele instrumento rudimentar, mas
mesmo assim potencialmente mortal.

- Fiz tudo o que pude para impedir que chegássemos a esse ponto, mas você se recusa acooperar. Vou lhe oferecer uma última chance, Yoongi. Eu vou abrir o trinco, você vai sair para a noite e meus guardas garantirão seu retorno em segurança ao carro. De lá, você viajará para casa e esquecerá todo esse episódio. Essa é a minha oferta, que está sobre a mesa.

Enquanto Seokjin falava, seus olhos tinham ficado completamente pretos, as íris consumindo a parte branca, como se ele fosse algum exótico animal noturno. A transformação era tão cativante e aterrorizante quanto fora na primeira vez em que eu a vira, na sala de jantar dos meus pais, quando ele sentiu sede do sangue que iria curá-lo. Foi necessário cada grama da minha coragem para que eu não implorasse para ele abrir o trinco, deixando que eu fugisse em segurança. Mas eu não podia fazer isso. Nosso relacionamento curto, intenso e confuso chegaria ao clímax naquela noite, para o bem ou para o mal. Eu não iria esperar nem mais um dia.

Dominei a voz com esforço.

- Não estou interessado em sua oferta de fuga. - Apontei para a estaca. - É exatamente por isto que estou aqui. Isto, na sua mão, é o ponto crucial do meu trato também.

Seokjin me observou atento, sem dúvida apanhado desprevenido.

- Você esperava que eu sentisse medo, Jin? - perguntei, desejando que meus olhos ou minha voz não traíssem meu pavor.

- Esperava.

- Pela primeira vez, acho que você é quem foi ingênuo. Subestimou minha capacidade.

Seokjin hesitou e o silêncio naquele salão quase fúnebre foi ensurdecedor, a não ser pelos estalos esparsos das tochas.

- Vamos conversar - disse ele por fim.

Andando à minha frente, sem esperar para ver se eu o seguia, ele me guiou por um labirinto de corredores que se abriam em aposentos amplos, como uma série de túneis ligando cavernas - às vezes se abaixando sob alguns lintéis construídos numa época em que os homens eram muito mais baixos do que Kim Seokjin, às vezes subindo rápidos lances de escada que pareciam não ter propósito. Aquele não era um castelo destinado a dar as boas vindas aos visitantes, e sim a confundir inimigos. Não era um lar. Era um covil. Uma teia de aranha feita de pedras. Enquanto penetrávamos mais fundo no imponente palácio, as curvas pareceram ficar mais fechadas; os corredores, mais estreitos; as escadas, mais íngremes.

Percebi, sentindo algum pânico, que estava completamente perdido. Inteiramente à mercê de Seokjin. Se as coisas não acontecessem como eu esperava, eu jamais escaparia. Meu corpo jamais seria encontrado.

Ele parou tão de repente que trombei em seu ombro enquanto ele estendia a mão para abrir uma porta que eu nem tinha percebido na parede. Virando a maçaneta e empurrando-a, Seokjin ficou de lado.

- Primeiro, os ômegas.

Observei-o com cautela. Seus olhos não estavam mais totalmente negros, mas continuavam frios. Passei por ele.

- Obrigado.

Enquanto Seokjin fechava a porta, olhei para o aposento, depois para ele.

- Seokjin... isso é lindo.

No coração do labirinto dos Kim havia uma biblioteca ricamente decorada, uma versão magnífica do cenário que Seokjin havia montado em nossa garagem. Um gigantesco e antigo tapete turco cobria o chão de pedras e as paredes eram forradas com estantes cheias de livros - como eu esperaria de Seokjin. Poltronas de couro rasgado e gasto, testamento das horas que sem dúvida ele havia passado com as obras de Brontë, Shakespeare e Melville. Enfiado no meio dos livros havia um troféu vermelho, com um jogador de basquete arremessando uma bola que saía das pontas dos dedos dourados. O prêmio de Seokjin por ter vencido um torneio de lance livre em dezembro. Virei-me para ele, sorrindo, animado porque ele guardara um pedacinho de sua vida de adolescente coreana.

Timeless • [YoonJin]Onde histórias criam vida. Descubra agora