Any Franco
As luzes das câmeras estavam na minha direção quase me cegando, mas mesmo assim continuo com o sorriso nos lábios como se estivesse tudo bem. Arrumo a gola da minha camisa sentindo o tecido roçar contra a minha pele, que com certeza já estava vermelha diante da alergia que havia começado a aparecer nos últimos dias de entrevistas diárias com diferentes meios de comunicação e revistas.A repórter não deve ter nem 30 anos, mas age como se tivesse. Ela dá mais uma conferida no tablete em suas mãos antes de voltar à atenção para mim outra vez lançando um dos sorrisos falsos selecionados na sua coleção de ”bons” para fingir estar gostando dessa entrevista (o que seria uma bela mentira, já que nenhuma de nós duas queríamos realmente estar ali).
- Bom, é uma honra tê-la conosco, Any – ela aperta a minha mão fazendo com que a câmera acabe dando um foco no nosso ato. Dou de ombros com um leve levantar de lábios tentando soar como algo tímido – Espero que esteja preparada para a lista de perguntas energéticas que os fãs preparam para essa noite – explica com os olhos brilhando e por isso sei que a terá pelo menos uma na lista extremamente polemica.
Mas eu aguento. Todas são desse jeito: as mesmas perguntas, mas mesmas falas e indagações. Já sei as respostas que devo dá para todas na minha cabeça, tanto que a Sabina nem levanta a cabeça ao ouvir a fala da jornalista, mantendo o olhar no celular. Faço que sim usando um gesto com as duas mãos. Odeio lugares abafados e de repente sinto uma vontade terrível de fumar – o que é péssimo se for parar pra pensar, porque eu estou em uma fase de perdão literal na minha saúde.
- A primeira pergunta é de uma fã do Brasil – avisa me fazendo ficar aliviada. Eram sempre as mais divertidas e curiosas. Gostava delas – “Você sentiu muito ao ter que mudar o seu cabelo, por causa de toda a imagem que certos escritores preferem passar?” – termina com um leve arquear de sobrancelhas. Já ouvi algo parecido com isso em algumas outras entrevistas, por isso me sinto bem em dizer:
- Foi estranho no começo – digo sendo sincera – Passei toda a minha adolescência mantendo os cachos no tamanho ideal, então foi meio chocante ter que mudar para algo tão radical desse jeito – passo o dedo pelos meus fios. Não sumiram os cachos, na verdade, estava menos volumoso e mais encaracolado – Mas eu já me acostumei.
- Ótimo... – ela passa os olhos pelas perguntas – A próxima fã é de Los Angeles e a pergunta dela é sobre o seu namoro com o jogador de basquete mundialmente conhecido: Charlie Blythe, o nosso Charlie Charlie – diz animada, mas não encaro tudo com tanta animação. As vezes é delicado entrar no meu namoro com o Charlie por questões que são abordadas sobre ele, além do motivo principal que o faz ser tão conhecido pelas pessoas – Ela pergunta se por acaso existe a possibilidade de um casamento vim por aí... – o alívio toma conta de mim e da minha melhor amiga empresária que também solta um suspiro do outro lado. Acabo rindo para mostrar que estava tudo bem por ali.
- A possibilidade sempre assim, mas acredito que o Charlie esteja focado na temporada que está chegando e eu no lançamento do próximo livro – respondo sendo direta e limpa nas informações. Já bastam as que circulam pela internet sobre ele e sobre o nosso relacionamento – Então, sem casório pelos próximos meses – afirmo os fazendo rirem diante da minha “piada”.
- A nossa próxima pergunta é de uma fã aqui de Londres mesmo que queria saber o motivo dessa sua viagem para Las Vegas, sua cidade natal, tão de repente assim – a curiosidade é de ambas as partes – É saudade ou existe alguma surpresa por trás? – Sabina me encara também querendo saber a resposta para a essa pergunta. Quase mostro a língua para ela.
- Não! É apenas o casamento de um amigo próximo – respondo. O que é verdade. O grande Krystian Wang que todos pensavam gostar do outro lado da moeda acabou noivando com a Hina (uma garota incrível que foi descoberta em uma das viagens perigosos dele para o Japão) – Nada demais.
- A nossa penúltima pergunta é de uma fã australiana – faço uma cara de surpresa, porque nem mesmo eu sabia que existia uma leitora australiana dos meus livros – E a pergunta dela é algo que todos querem saber: você já tem a ideia de qual vai ser o tema do seu próximo livro? – encaro toda a situação com um ponto nervoso na minha cabeça.
- Surpresa – digo tentando soar misteriosa, o que eu consigo. Mordo o lábio inferior esperando a continuação da entrevista, já que na verdade, não existe nenhuma surpresa. O motivo real de eu estar indo para Las Vegas é o fato de eu não ter a menor ideia do que escrever para a minha próxima história, sendo assim a viagem toda tem apenas um desejo: acordar a minha criatividade que parece estar dormindo.
- Any, a próxima e última pergunta é de uma fã que diz ser antiga no seu universo literário. Então, ela sempre teve uma dúvida desde o seu primeiro livro - diz com o tablete na mão repassando o seu instrumento com uma questão levantada no seu semblante.
- E qual seria a dúvida? – estico as minhas pernas que já estavam doloridas diante de toda a parada li. Ela me olha, depois olha para o aparelho parecendo estar pensando sobre a próxima pergunta em tom de questionamento interno e isso me faz ficar confusa.
- Pra quem foi que foi que você dedicou o seu primeiro livro? - faço uma cara de quem não entendeu nada - "Esse livro é dedicado a um alguém que foi embora e levou consigo o meu coração" - diz citando a dedicatória do meu primeiro livro que já estava esquecido no fundo da minha memória - Pode nos dizer pra quem foi? – algo cresce dentro de mim e acredito ser o pânico. Sabina nos olha entendendo exatamente o que causou tal reação dentro de mim – Isso pareceu bem estranho a primeira leitura, mas depois começou a fazer sentido, já que você ainda não conhecia o Charlie nessa época – engulo em seco. Estou tremendo, quase gritando.
- Não é nada demais – digo meio enrolada – Tão nada demais que nem me recordo pra quem foi escrito isso... – batuco com os dedos na cadeira com força. Com intensidade impressionante abaixo o olhar, depois encaro a mexicana que rói as unhas rapidamente esperando alguma reação.
Lancei a segunda temporada de My Teacher.
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My Teacher - Beauany 2Temp
Teen FictionÉ mais fácil fingir que nada aconteceu. Fingir que durante todo esse tempo só aconteceram coisas boas, pessoas novas e conquistas. Talvez assim, só assim, eu possa esquecer que não aconteceu um final feliz para nós dois. Possa esquecer todas as sens...