Odeio parecer frágil, mas é como me sinto agora. Estamos sobre a moto, retornando para o navio. Não tenho mais como continuar passeando, com tantas confusões ao meu redor.
Chegamos no porto e Chris entrega as chaves e os capacetes ao rapaz da entrada. Subimos para o Luxor e lá de cima, Chris para em um corredor para conversar. Sei que ele percebeu o meu nível de tensão. Posso ser muito boa naquilo que me proponho a fazer, porém diante de pressão eu me sinto perdida. Sei que ainda é resultado do trauma no qual a minha mãe estava certa ao dizer que não superei de verdade.
— Ok. Me diga, o que está se passando nessa cabecinha? — Ele bate na minha cabeça, do alto de seus dois metros de altura.
— Muita coisa. Meus neurônios nunca tiveram que trabalhar tanto. Nem quando eu tive que decorar o nome de cada osso do corpo humano, na faculdade. — Relato.
— Madá, não torne sua situação mais difícil. Aceite a minha proposta. Amanhã podemos seguir cedo para Dublin, em um vôo particular. Agilizo tudo no cartório de um amigo e ainda amanhã assinamos os papéis. Pronto. Daí, você resolve todo o resto. Com o casamento, você pode ir ao Brasil acompanhar a cirurgia do seu pai. Retornar assim que ele estiver bem. E ainda pode aceitar a proposta da Madeline e ter a sua própria clínica de estética. Ou, continuar aqui no navio comigo e, agora, eu te realocar em outra função. É simples. — Ele diz.
Deixo as lágrimas escorrerem pelo rosto. Me sinto horrível agindo assim, tirando a liberdade de alguém em prol de benefícios de um visto e por orgulho de não ter que retornar para o Brasil e de não perder para a bruxa Keka. No entanto, enxergo o casamento como a melhor solução. Para mim, que vou obter o visto definitivamente, para o Chris que ficará livre da mãe e dessa ideia de casar com quem não ama, para Mary que poderá ficar no meu lugar no apartamento, para Ceci e Joy que terão com quem dividir as despesas, para a Charlotte que não perdeu o emprego e enfim.
Chris seca as minhas lágrimas e beija minha testa.
— Não vou transformar a sua vida, Madá. Continua sendo a mesma pessoa, eu não pretendo te prender, te limitar, mandar em você, nada disso. Estaremos na mesma casa, sim, com nossos nomes entrelaçados, sim, com um papel assinado, sim, porém nada disso é verdadeiro, ainda. Para nós dois, continuaremos o nosso namoro, nossa amizade, da mesma forma que antes.— Eu sei. Embora continue me achando uma oportunista. — Desabafo.
— Meu Deus... Você não é uma oportunista, Madá. Eu é quem estou te dando essa opção.
— Não quero alianças. Por favor!
— Isso significa um sim? — Faço que sim com a cabeça e ele sorri. — Ok. Mas não posso aceitar sua condição. Vamos precisar de alianças na frente do juiz. É só uma formalidade, depois você pode tirar. — Levo as mãos ao rosto e respiro fundo. Deus do céu, em que loucura tô me metendo.
De repente todos os meus planos foram jogados em alto mar. Minha vida se transformou completamente em trinta dias. Depois de cinco anos da rejeição que sofri, estou me casando mais uma vez por livre e espontânea pressão.
E ainda terei que voltar ao Brasil e ouvir o sermão de minha mãe quando eu contar que me casei com um cara que conheci faz apenas trinta dias e que por sinal, é meu chefe. Filho de uma mãe que me odeia, irmão de uma louca que mal fala comigo, ex-prometido de uma grega aprendiz de cobra.
Senhor dos céus!
Sempre soube que eu era doida, só não previa que a vida contribuiria com a minha insanidade. Cadê a Madalena pregadora que saía dando a perereca pra deuses e o mundo? Onde joguei essa maldita? Cadê a infame que saiu do Brasil para morar na Irlanda e que jurou ter lançado o coração aos tubarões? Onde foi parar aquela piriguete que não tinha vergonha em tomar a atitude com um homem ou de ser a primeira a sair e deixar o infeliz sem meu telefone?
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O CEO, O MAR E ALGUÉM PRA MADÁ 🔞🔥
RomanceIrreverente, desbocada e feminista, Madalena é uma jovem nascida no interior da Bahia que decide se aventurar em um emprego temporário na Irlanda. Ela consegue uma vaga de massagista em um transatlântico e segue para Dublin carregando na mochila pou...