CAPÍTULO 33

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Corro. 

Corro até o suor descer por minhas costas.
Corro até o ar queimar ao passar por meus pulmões.
Corro até esquecer que Jo espera por mim em casa para conversarmos. 

Mas não é como se eu pudesse me esquecer dela, nem que seja por um segundo. Desde que a conheci, há quase três meses, ela não sai da minha cabeça em nenhum maldito momento. É em seus olhos amarelos, quase cor de ouro, místicos e inocentes, que penso antes de dormir e que anseio ao acordar. 

Viro à esquerda, entrando na rua da nossa casa. Ao longe, vejo meu Silverado e seu Chevrolet Camry estacionados lado a lado. Apesar de não saber dirigir, por vezes, sai nele com Ray, que o dirige para Jo, deixando-me mais calmo. Juntas, elas vão ao cinema, shopping e outras infinidades de locais femininos. 

Ela sempre me avisa aonde vai, simplesmente porque gosta e não porque imponho. Mas não é sempre que sai em seu carro, na maioria das vezes, vão com o carro de Ray. 

Apesar de querer estar em sua cola por todo maldito segundo, eu não o faço. Simplesmente porque não quero dar a Jo um motivo para me abandonar. 

Mas se pudesse, ah se eu pudesse.

 Se eu pudesse não a largava por nenhum minuto. Até em suas aulas a acompanharia. Mas infelizmente não posso, então contento com o que tenho. 

Respiro fundo, olhando o jardim ao qual Jo começou a trabalhar essa semana, antes de abrir a porta da frente da nossa casa. 

Após o jantar, calcei um tênis e disse a ela que iria correr. O que não seria a primeira vez, afinal, eu corro quase todos os dias. Mas dessa vez era somente uma desculpa para fugir do confronto com minha menina. Senti-me um covarde quando olhei para o relógio e percebi que fazia mais de uma hora que Jo me esperava. Senti-me como um covarde quando minhas pernas começaram a queimar pelo esforço exagerado e percebi que era hora de voltar pra casa. 

— Hero... — Ela começa, mas a interrompo. Caminho até onde está sentada no sofá e ajoelho em frente a ela. 

— Desculpe-me. — São minhas palavras antes de enterrar meu rosto entre suas pernas. Não do modo que gostaria. Simplesmente abrigo-me, escondo-me, buscando proteção em seu calor. Tentando fugir da vergonha que me assola quando me preparo para responder suas perguntas, a qual eu já sei quais são. 

— Por que ficou estranho quando disse sobre o feriado? Foi por causa do meu pai? Você não quer encontrá-lo? — Pergunta calmamente, afagando os cachos do meu cabelo. 

— Não é por causa do seu pai. — Minha voz sai abafada. 

— Então...? 

— Eu nunca comemorei nenhum dia de ação de graças. Não sei como é, nem como agir no jantar. Bom, sei algumas coisas, claro, mas tudo o que sei aprendi pela televisão. Eu nunca participei de nenhum. 

— Oh Hero. Nunca mesmo? 

— Não. Quando minha mãe era viva, o monstro não nos deixava fazer o jantar, não que tivesse comida de qualquer forma. E quando fui parar no orfanato, eu ainda não conseguia falar pelo trauma que sofri, então as crianças afastaram-se de mim e eu me isolei. 

— Hero... 

— Chamavam-me de cria do demônio, pois meu pai tinha matado minha mãe. Mas ele não era meu pai! E eu não tenho culpa, Jo, eu não tenho. Você sabe que não tenho, não sabe? Eu juro que não tive culpa. — Falo desesperado, querendo que acredite em mim. Tiro meu rosto de suas pernas, para que ela veja a verdade em meus olhos. 

— Shhh. Não, meu amor, você não tem culpa, calma. — Passa o polegar embaixo do meu olho, limpando uma lágrima que não sabia que tinha escapado. 

You Are Mine, Love { Livro 1 Adaptação Herophine}Onde histórias criam vida. Descubra agora