Não sei quanto tempo passou desde que estou deitado na cama. Podem ter sido dias, horas, minutos ou meses. Mas não sei determinar.
Jo veio aqui diversas vezes durante esse tempo, mas não queria vê-la, não queria ver ninguém. Só queria ficar só. Sinto uma mão macia acariciar meu cabelo, antes de uma voz suave e triste soar pelo quarto.
— Meu amor. Hero, fala comigo.
Fecho os olhos com força, quero ficar sozinho, por que ninguém entende? Por que Jo não entende? Ela suspira cansada, antes de atender ao telefone que havia começado a tocar.
— Alô. — Ela diz para quem está no outro lado da linha. — Não, Blake, ele ainda está lá.
Ela levanta da cama e sai do quarto, para que eu não escute a conversa, mas deixa a porta entre aberta e eu consigo continuar a ouvir parte da sua conversa.
— Eu não sei o que fazer, Blake. Ele está deitado na cama faz quatro dias. Quatro dias que não come, na verdade, o faz somente uma vez no dia, como uma resposta automática ao ver que está no fim de suas energias. Não faz suas higienes ou reage a qualquer coisa. As únicas palavras que ele me diz são, quero ficar sozinho. — Ela suspira e sua voz torna-se ligeiramente mais rouca. — Esse não é o Hero que eu conheci, eu não estou sabendo lidar com isso sozinha. — Ela desabafa.
Mata-me escutar a tristeza em sua voz, mas não posso ajudá-la, mesmo que quisesse, não consigo obrigar-me a sair da cama. Os pensamentos nebulosos rondam minha mente, como em outras vezes que resolvo isolar-me. Jo irá deixar-me, disso não tenho dúvidas. Há milhares de homens perfeitos para ela, lá fora.
Quem sou eu, afinal?
Somente um merda que não merece ser amado por ninguém. Um homem problemático, de mente fodida. Minha garota merece algo melhor, alguém melhor. Mas, nunca suportaria a dor de não tê-la comigo.
Nunca suportaria acordar e não vê-la. Seria uma morte lenta e dolorosa não tê-la comigo para sempre. Então por que não acabar logo com isso de uma vez? Sofrer por antecipação, não ajuda. Pensar em Jo sendo feliz com outro, também não. O som insistente da campainha cessa meus pensamentos.
— Blake, depois eu te ligo. Tem alguém batendo na porta. — Jo diz fungando um pouco.
Escuto passos antes de ouvir o barulho da porta sendo aberta.
— Oh, Jo — Uma voz feminina diz.
Um minuto se passa sem que nada seja dito e eu imagino que elas possam estar se abraçando.
— Entre, Ray. Sente-se no sofá, sinta-se em casa. Aceita alguma coisa? Um café, refrigerante, água... — Jo fala finalmente.
— Não, querida, estou bem obrigada. Estava preocupada, você não tem ido para a universidade.
E depois que recebi sua mensagem, percebi que poderia ajudá-la.— Obrigada, um ombro amigo é sempre bom...
— Sim, sim, claro. Sempre é. Mas, além disso, posso ajudá-la de outra maneira. Sabe, quando fiz o college, tinha como concentração a psicologia, meus pais queriam que assim fosse. Afinal, eles são terapeutas e queria que eu seguisse seus caminhos. Quando acabei o college, ingressei no mestrado para poder exercer como terapeuta, eu tentei duro, mas aquele curso não é para mim. Além disso, apesar de antiético, meus pais costumavam discutir os seus casos em casa, comparando quem tinha o paciente mais problemático. Além de obrigar-me a assistir programas sobre comportamento humano.
— Hmm... — Sinto hesitação na voz de Jo. — E no que isso pode me ajudar?
— Bem, quando respondeu minha mensagem e eu retornei com uma ligação e você desabafou comigo sobre o que estava passando com o seu namorado, o...
— Hero. — Jo completa.
— Isso. Bom, quando me falou sobre, logo veio à memória um dos casos do meu pai, ele tinha os mesmo sintomas que Hero, claro, cada caso é um caso, mas há vários níveis da doença, e...
— Você está dizendo-me que Hero tem alguma doença? — Jo pergunta incrédula, sua voz chorosa.
Oh sim, querida. Eu sou um fodido. Um doente maldito. A pessoa que a faz sofrer a cada maldito segundo do dia. Nunca me quiseram, por que seria Jo, suave e especial como um anjo, a única a me querer?
Isso é a porra de uma piada dos infernos!
A vida mostrando-se uma cadela novamente.
Elas continuam a conversa, mas minha mente bloqueia suas vozes, meus pensamentos são a única coisa que escuto agora. Chega! Não quero ter que viver para ver Jo abandonar-me, para vê-la com outro.
Sento-me na cama, minha visão escurece de repente e tudo gira. Estou fraco, consequência de não ter comido esses dias todos. Espero até minha visão voltar ao normal e levanto em direção ao banheiro. Com muito custo, finalmente minhas mãos encontram a beira do balcão de mármore preto da pia.
Olho-me no espelho e a visão embaçada me impede de ver meu reflexo.
Após alguns segundos, meu rosto começa a entrar em foco. Olheiras profundas são o que vejo, a barba, que antes era por fazer de modo sexy, agora se encontra ligeiramente grande e descuidada. Os cabelos bagunçados, percebo que devo ter perdido uns dois quilos, já que meu rosto está mais anguloso.
Estou fedendo agora percebo, mas pudera, eu fiquei quase cinco dias sem fazer minhas higienes pessoais, o resultado não poderia ser outro. Encosto minha testa no espelho e respiro fundo.
— Jo... — Sussurro antes de alcançar a navalha que uso para barbear-me. Uma lágrima escorre por meu rosto.
— Eu te amo tanto.
Memórias correm por minha cabeça. O sorriso doce de minha mãe, quando disse que me amava e que iriamos nos livrar do monstro.
Quando acordei no hospital depois do coma e descobri que existia outro tipo de sorriso, além daqueles cheios de amor que minha mãe me dava. O sorriso cheio de pena. Um sorriso que não quero voltar a receber quando Jo me abandonar.
Volto até o dia que vi Josephine pela primeira vez, seu fascínio por rosa e meu fascínio por ela. Seu vício por livros e meu vício por ela. Seu sorriso fácil, outro tipo de sorriso que descobri. O sorriso feliz, puro e inocente, como somente ela pode dar. O modo como ela perdoou fácil todas as merdas que fiz com ela, todas as vezes que fui um babaca completo, um idiota sem tamanho, um mero imbecil.
O nosso primeiro beijo, o seu primeiro beijo e o meu quase primeiro beijo. A primeira vez que fizemos amor. A primeira vez que ela fez amor e que eu fiz amor. Afinal, antes somente fodia.
O modo como acolheu meus amigos como seus e como nos fez sentir como a família que nunca tivemos, seja por sermos órfãos ou somente desprezados por causa de nossas escolhas. Como me recebeu em seu coração e me entregou-o sem reservas, mesmo que por pouco tempo, pois logo o entregará a outro.Encosto a navalha no meu pulso esquerdo e pressiono. Uma gota de sangue surge, antes de escorrer em um fio. Não sinto dor, estou entorpecido, somente quero acabar com esse sofrimento.
O sofrimento antecipado de não ter Jo comigo no futuro. E o sofrimento de Jo, por finalmente abrir os olhos e ver que sou o fodido de merda. Um idiota que perdeu a própria mente.
É por ela, somente por ela.
Pela minha menina.
Pelo meu anjo.
Minha doce criança.
Pelo amor da minha vida.
Para que ela não sofra mais.
Para que eu não a faça sofrer mais.
É por Josephine, que com os olhos embaçados pelas lágrimas que me vieram por conta das lembranças, que eu sussurro um.
— Fica bem, meu amor. — Antes de deslizar a lâmina pelo meu pulso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
You Are Mine, Love { Livro 1 Adaptação Herophine}
FanfictionSINOPSE O que acontece quando o cara babaca encontra o amor em uma menina inocente? Hero Fiennes Tiffin... Tatuado, musculoso e bad boy. A vida sempre foi uma cadela comigo. Tenho uma banda chamada Sin, que significa pecado, palavra que me define. G...