Capítulo 40

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Aviso de gatilho
Neste capítulo contém assunto delicado

Quando o sábado chegou, eu tive visita. Estava sendo uma tortura para mim. Nunca achei que não sair da cama fosse tão chato, tão entediante. Era super fácil nas férias, quando eu não precisava ficar. Agora, eu tinha uma semana para respeitar e ainda assim, mesmo depois de quase quatro dias, eu não tinha assimilado a informação. Não tinha me deixado pensar sobre a gravidez. Em partes porque eu tinha medo de me apegar e perder, também porque, eu podia amar os sobrinhos do meu Camarada, mas eu definitivamente ainda não estava pronta para ter filhos. Uma coisa era ir buscar as crianças, passar o dia com elas e depois devolver para os pais. E pensar que eu seria mãe a receber a criança de volta...

Pensar sobre sempre me levava a: então por quê eu estou fazendo isso? Era tão fácil seguir a vida e deixar o destino nas mãos de... Qualquer um, exceto nas minhas. Depois, no entanto, o que eu diria para o Dimitri quando eu voltasse para colocar o outro diu e tivesse toda aquela surra de dores uma segunda vez? O que eu diria para ele como desculpa? Eu mal tinha conseguido inventar uma de porquê eu estava tão triste, porquê eu não "queria" sair da cama. Na verdade, eu nem tinha dado uma desculpa. Eu apenas tinha dito que não queria falar sobre aquilo. Dimitri aceitou naquela noite, mas eu vi nos olhos dele, na manhã seguinte, quando eu disse que não iria para a faculdade porque não queria que aquela conversa não estava acabado e que ele não acreditava em mim, mas me daria esse tempo. Ele, definitivamente, olhou-me preocupado quando chegou do trabalho e eu ainda estava na cama.

Imagine o meu horror, quando, hoje, ele chegou em seu ápice de preocupação e se ofereceu para me levar em algum médico. Qualquer médico, dissera ele. Ele estava achando que eu estava deprimida ou algo assim. Em partes, eu estava, mas eu também não tinha certeza. E eu entendi o Dimitri, nós estávamos no tratamento de silêncio, mesmo que quando ele chegasse em casa, depois de jantarmos, nos abraçávamos na cama e dormíamos. Requeria tudo de mim para não contar a verdade e isso estava me deixando doente, alguma parte dentro de mim estava morrendo. Poderia tudo ter sido tão mais fácil, mas eu não queria machucar o meu Camarada em contar e, se depois de todo esse esforço e sofrimento, não dar certo.

A cada vez que eu tomava os remédios e que eu ficasse um minuto extra pensando sobre aquilo, era um minuto extra que eu ficava mais e mais confusa. Um minuto que eu me sentia boba por não dizer a verdade e sozinha. Eu jamais iria me perdoar se eu decidisse furar o repouso e perdesse o bebê. Eu não poderia fazer nada se isso acontecesse enquanto eu seguia, exatamente, tudo o que a médica me dissera. A parte impaciente em mim, não aguentava mais ficar na cama e eu precisei intercalar com o sofá. Isso também me ajudou a ocupar a minha cabeça e não ficar pensando e repensando na minha realidade. O futuro era uma coisa para depois.

Foi em uma dessas tardes, depois de quase um ano e meio, que eu decidi escrever. Foi o momento mais triste do meu dia, quiçá do meu ano todo, por hora. Eu tinha escrito uma carta de desculpas para o bebê. Não que eu estivesse me despedindo dele, ainda não era hora, se houvesse essa hora. Porém, eu precisei me desculpar, eu tinha provocado isso, eu tinha escolhido tirar o diu, eu tinha escolhido fazê-lo lutar para continuar ali, eu tinha escolhido não contar para o pai dele. Todas as escolhas ruins tinham sido, totalmente, minhas e eu sentia muito. Eu sentia muito por ter que ter tomado-as, eu sentia muito por ter que fazer ele passar por isso, eu sentia muito por eu mesma ter que passar por isso e por Dimitri, por mais que ele não soubesse ainda. Eu apenas sentia muito por toda a situação. Eu desabei em assinar a carta como "mamãe". Nunca imaginei que doeria tanto.

Por que tinha que ser tão difícil? Estar emocional demais e ainda ter Dimitri me olhando com seus olhos amorosos e preocupados, acabava com a minha determinação. Era muito egoísta da minha parte esconder isso dele? Mesmo que fosse para protegê-lo? Eu sentia, em algum lugar dentro de mim, que se eu contasse não daria certo e a gravidez não seguiria, apenas pelo fato dele querer tanto. Dimitri estava pronto para ser pai de novo. Nós estávamos nos divertindo, curtindo nossa vida de casal, nossa vida a dois. Nós curtimos cada fase do nosso relacionamento. Nós tínhamos ficado por alguns meses, depois namoramos por quase um ano, agora estávamos noivos há meses de novo. Tinha sido rápido demais, mas nós não precisávamos disso para ter certeza que era com o outro que nós queríamos viver. Agora, um bebê? Não fazia parte dos planos. Se fizesse, eu não teria sofrido tanto para colocar o diu.

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