Capítulo 11

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Dimitri e eu devoramos uma pizza inteira. Nós estávamos deitados no chão de carpete de madeira, digerindo um mínimo do nosso jantar. Um misto de dor de estômago e felicidade por estarmos rindo de alguma das minhas gafes da universidade e como eu não tinha desistido ainda de ir embora desse país doido.

— Eu juro, Camarada, ela saiu correndo de lá de onde ela estava dando a lecture dela e parou bem do meu lado e começou a gritar, perguntando por quê eu estava rindo. Eu não poderia dizer para ela que estávamos rindo de uma piada exatamente dela! – Dei uma olhada de lateral para ele. — Eu disse que foi apenas um comentário não relacionado à aula, mas de qualquer forma, ela me expulsou do auditório.

— E o que aconteceu depois? – Ele deitou de lado para me olhar melhor, o sorriso brincalhão ficava tão bem nele.

— Eu tive uma aula com ela na semana seguinte. Ela disse que eu era uma das melhores alunas que ela já ensinou. – Eu dei de ombros, admirando o homem deitado ao meu lado. — Tenho certeza que ela é maluca!

— Russo é assim mesmo, Roza. Primeiro a gente grita e depois a gente pensa com a razão.

— Eu nunca te vi gritar. – Sussurrei, olhando fundo nos olhos dele.

— Eu não acho que gritar resolva algum problema. – Ele deu de ombros como se fosse a coisa mais lógica do mundo. Eu concordava com ele, mas por ser russo, não esperava que ele tivesse esse pensamento.

— Você deveria ensinar isso para os outros. Aparentemente, dizer que não entende o seu idioma é a mesma coisa que dizer que estou surta. – Eu ri, desgostosa por tantas situações que já passei e ter ganhado uma dor de cabeça por ter um russo gritando comigo por motivo nenhum. — É instantâneo, Camarada. Eu digo que não entendo russo, vocês gritam e falam mais rápido. Que lógica louca é essa?

— Acho que somos apenas impaciente, eu realmente não sei.

— Camarada, você é russo de verdade? – Eu me sentei no chão para encarar o homem. Era possível que ele estivesse ainda mais gostoso daquele jeito descontraído? — Nunca te vi gritar e você tem a paciência de um santo!

— Até onde minha mãe me fala, eu sou russo. – Ele riu e eu o acompanhei. Eu adorava esses momentos despojados que nós tínhamos. Uma raridade que eu fazia de tudo para aproveitar.

— Ei, Camarada, você acha que pode ser meu paciente por umas duas horas? – Dei um sorriso que eu jurava ser angelical para convencer o homem. Tudo bem que o meu plano B seria começar a implorar vergonhosamente. Eu precisava muito praticar antes que a minha prova chegasse e eu falhasse.

— Você não pretende se vingar e me injetar nada, certo? – Ele me olhou, desconfiado e eu quis jogar algo nele. Que lógica era aquela? Eu não era vingativa!

— É claro que não! – Minha voz saiu uma oitava mais aguda e eu sorri para acalmar o meu choque. — Eu preciso de um paciente pra treinar propedêutica, mas eu não posso atrapalhar os estudos da Mia e já que estou aqui hoje, achei que eu poderia te pedir isso. Eu treino um pouquinho e depois você me dá uma agulhada na bunda. – Revirei os olhos. O mundo era tão injusto!

— Claro, por que não?! – Ele deu de ombros e também se sentou no chão com um pequeno sorriso no rosto para esperar por minhas instruções. — O que eu preciso fazer?

— Ficar de pé e tirar a roupa. – Comentei, animada e já me levantando. Precisava pegar a minha apostila na minha mochila para revisar tudo o que eu precisava fazer.

— Tirar a roupa? – O russo questionou, desconfortável e eu percebi, pela primeira vez o que eu tinha pedido para ele fazer.

— Ah... Eu estava pensando em revisar inspeção geral, percussão, palpação e ausculta de tudo o que que eu já aprendi, mas eu posso treinar só palpação dos nódulos e da tireoide. São os mais difíceis e eu tenho certa dificuldade com isso... – Voltei até o homem, desistindo da minha apostila. Se eu tinha pouco para treinar, não ia precisar de ajuda para lembrar.

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