Capítulo 1

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— Rosemarie? – A minha professora e doutora, madame Irina Mikhainovna, chamou.

Era minha hora de responder a prova e se eu falhasse, eu seria reprovada e seria um inferno para conseguir refazer. Eu me levantei, rezando para receber uma pergunta que eu soubesse ou que conseguisse me lembrar. Eu havia ido dormir muito tarde por ter entrado madrugada a dentro estudando, ainda mais por ter tentado continuar minha crônica antes de dormir. Quando eu percebi já eram quase quatro horas da madrugada e eu poderia dormir só até às sete horas se eu não quisesse chegar atrasada. Eu ainda teria que disputar o banheiro com a Mia e dois brasileiros.

— Fale sobre amiloidose. – Ela perguntou e me encarou. Respirei fundo.

— É um tipo de degeneração proteica, com grande concentração de proteína fibrilar e componentes do plasma sanguíneo. O mecanismo é por síntese anormal e deposição. – Respondi tudo o que eu consegui me lembrar e rezei para ser o suficiente.

— Exemplos. – Ela me encarou ao final da minha resposta.

— Baço em sagú e lardáceo. – Deus do céu, eu me lembrava que tinham outros exemplos, mas eu não tinha certeza. Arriscar um errado só me prejudicaria.

— Características. – Encarou as próprias unhas, claramente fazendo pouco caso do meu esforço.

— O baço em sagú apresenta substituição dos limpócitos no folículo e no baço lardáceo ocorre a deposição em formato difuso. – Eu não tinha muita certeza, mas isso era tudo o que eu me lembrava e eu achei que fosse o suficiente.

Quando a professora me mandou sentar, eu imaginei que eu tivesse arrasado e passado na prova. Eu sabia que ainda faltava informações nas minhas respostas, mas ainda assim parecia mais completo do que muitas respostas dos meus colegas de grupo. O meu horror quando ela recomeçou sua sessão de perguntas para a indiana do meu grupo. Eu imaginei que uma pergunta complexa para cada um seria o suficiente. Não era por nada que todos os veteranos diziam que era difícil passar nessa matéria. Além de ser doutora em sua área, ela também era chefe do departamento. O que complicava consideravelmente a minha vida e dos meus colegas de grupo.

— Rosemarie. – Eu me levantei novamente. — Mecanismo de icterícia obstrutiva.

— Hum... – Eu pensei, não era difícil, eu apenas precisava me lembrar da aula dela há três semanas atrás. Ou talvez da minha aula de bioquímica ou fisiologia. — A bilirrubina é produzida no baço e enviada para o fígado de forma não-conjugada. No fígado a bilirrubina é conjugada com o ácido glicurônico... – Eu continuei explicando o máximo que eu lembrava.

— Características do paciente com icterícia obstrutiva. – Ela nem ao menos me deixou finalizar e isso me fez pensar que ou eu estava muito errada, ou eu estava certa o suficiente para mostrar que eu sabia o conteúdo.

— Pele amarelada, urina e fezes escuras.

— Errado. Pode se sentar.

Errado? Como assim errado? Onde eu errei? Merda! Eu estava começando a ficar ansiosa e quase não conseguia manter a minha perna parada. Cada vez que meus amigos recebiam uma pergunta fácil e erravam eu ficava inconformada e ainda mais ansiosa. Por quê as fáceis nunca vinham para mim? Ninguém vai passar nessa prova pelo jeito. Por mais que eu tivesse estudado muito na madrugada e para as aulas anteriores, e a doutora soubesse que eu tinha esse conhecimento, parecia que eu também não ia passar.

— Rosemarie? – Eu me levantei, hesitante. Eu não poderia errar mais nada se eu quisesse ter um resultado, pelo menos, satisfatório. — O que causa estagnação do sangue na circulação pulmonar?

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