Eu estava enjoada. Era impossível que eu tivesse uma intoxicação alimentar justamente no meu primeiro dia de trabalho. Não era nada físico, eu sabia. Eram apenas meus nervos querendo me matar.
Depois que eu voltei do hospital que eu tinha aula aos sábados, tentei dormir um pouco para recuperar e carregar um pouco da minha energia. Eu sabia que a noite ia ser de matar e eu não podia considerar estar cansada. Hoje, nada poderia dar errado, principalmente se fosse minha culpa. Se eu falhasse, com certeza ia ter que voltar para Missoula e eu não ia abandonar tudo logo agora. Pelo menos, não sem antes lutar!
— Espera, você disse o que eu ouvi? – Mia perguntou, pela primeira vez mais alta que eu, simplesmente pelo fato de eu estar sentada no chão do banheiro, depois de ter vomitado todo o meu almoço indigesto.
— Sim. – Gemi, levando a mão ao estômago. Esperando a próxima onda de náusea surgir.
— Você tem certeza que isso não é um intoxicação? Ou, sei lá... uma gravidez? – Ela se encostou à porta, assistindo o meu sofrimento do topo de seu um metro e meio de altura.
— Não. Você realmente ouviu direito o que eu disse. – A náusea torceu meu estômago de novo.
— Isso tudo porque você vai cantar em um restaurante falido? – Ela desdenhou e eu me senti mal, não pelo fato de cantar, mas por ela considerar o restaurante falido. Não era verdade! Eles estavam tento problemas financeiros, mas não parecia tão ruim.
— Exatamente. – Ela me ajudou a levantar quando meu estômago decidiu que não tinha mais nada para ser descartado. — E eles não estão falidos.
— Bem, pelo que você disse... – Mia deu de ombros, considerando não valer a pena essa discussão comigo. — Vá tomar um banho, vou te ajudar com a maquiagem.
Mesmo me sentindo doente, sorri. Por mais diferentes que a Mia e eu fôssemos, nós chegamos a quase uma amizade por dividirmos o mesmo quarto. Nós podíamos tentar nos matar, às vezes – muitas vezes –, mas nunca deixaríamos ninguém machucar a outra e muito menos que a outra sofresse doente sozinha. Não era assim que funcionava. A gente podia não se amar, mas ia colaborar para a vida da outra ser menos pior. Nós estávamos sozinhas naquele país, fazer a vida da outra miserável não era uma opção.
Tomei um banho demorado, sabendo que eu teria tempo de secar meus cabelos, a Mia me maquiar e eu ir para o meu primeiro dia de trabalho. Tomar banho no meio da tarde era o melhor momento, não tinha ninguém para me incomodar e eu pude aproveitar um tempo extra da ducha super quente. Eu mataria por um banho de banheira, ou algo mais privado.
— Eu... Estava mesmo pensando em ir jantar com a Nathalie fora hoje. Você acha que vou me arrepender de ir te assistir cantar? – Mia deu de ombros. Seu humor ácido me fez sorrir, eu sabia que ela estava tentando me distrair e, indiretamente, apoiar-me.
— Se você for lá só por mim, tenho certeza que sim. – Desenrolei o cabo do secador de cabelo, tentando entrar na onda irônica dela. — Mas ouvi dizer que a comida lá é maravilhosa.
— Pode ser. – Ela finalizou quando eu liguei o secador. Era impossível manter uma conversa com todo o barulho.
Graças a genética – provavelmente, do pai que eu não conhecia –, meus cabelos secaram e os sedosos cachos logo se formaram. Adicionei um pouco de óleo nas pontas para dar mais brilho e forma, logo o cabelo estava fora da lista de coisas para fazer antes de ter que sair de casa. Enquanto Mia faria a maquiagem e os meus cachos se ajeitassem, eu poderia pensar em algum penteado diferente para fazer, mas por hora, mantinha minha ideia em deixá-los soltos.
— Você tem um tipo de set list? – Mia puxou conversa quando começou a me maquiar, deixando todos os produtos sobre a minha mesa de estudo.
— Algo tipo isso. – Comentei, preocupada de que eu tinha quase cinquenta músicas separadas na minha lista, mas eu precisava apenas de trinta delas, então acho que eu ia improvisar um pouco.
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Love on the Brain
FanfictionRose era apenas uma imigrante misteriosa sentada, diariamente, na mesma mesa do café com sua bebida fumegante à esfriar. O único pedido do dia que durava, no mínimo, 6 horas. Seu rosto sereno enquanto digitava no computador e no final da tarde, abri...