Capítulo 7

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Acordei na sexta-feira sabendo que eu ia ser demitida. Não porque eu tinha sonhado com isso, ou porque a informação havia chegado à mim de alguma forma. A dor de garganta e  rouquidão eram o aviso claro do que ia acontecer.

Felizmente, Mia já tinha saído para sua aula quando eu acordei. Talvez eu conseguiria fugir dela, porque eu tinha certeza que se ela soubesse da minha condição, ela contaria para a Vika, que contaria para sua mãe e Olena diria ao Mark. O resultado ainda seria o mesmo: eu seria demitida.

Vesti as roupas mais quentes que eu tinha. O vento gelado só fazia a minha garganta arder ainda mais conforme eu respirava. Entre uma aula e outra, eu consegui correr até o departamento internacional da minha faculdade e implorei para a tradutora marcar um horário com o otorrinolaringologista. Para não ser demitida, eu toparia qualquer coisa, até mesmo ir ao hospital.

Claro que eu não contava com uma ida extra ao imunologista e um tratamento de dez injeções intramuscular – mais especificamente, na bunda – para ajudar a minha imunidade. Sem mencionar a dolorida benzetacil e um combo de comprimidos. Nunca me arrependi tanto por ter pedido um tratamento tão potente por causa do meu trabalho na noite seguinte.

E honestamente, depois de ser arrastada para fora da enfermagem, pela dor da injeção e o quanto eu nem ao menos conseguia andar. Eu desisti de fazer o tratamento sem nem ao menos ter começado. Quem precisava de um sistema imune reforçado se ia morrer por causa de uma injeção?

Claro que a dor na minha garganta melhorou consideravelmente depois desse infortúnio. Deixei meu corpo descansar essa noite, a primeira injeção para o meu sistema imunológico, eu tomaria no dia seguinte, quando conseguisse comprar meus remédios. Eu fui literalmente arrastada da policlínica direto para o hostel. Não podia ser mais grata pela ajuda da tradutora que a universidade solicitou para me auxiliar durante as consultas.

— O que, infernos, aconteceu com você? – Mia murmurou quando eu consegui entrar no nosso quarto. Eu mal conseguia andar, imagine subir dois lances de escada já que o elevador estava ocupado com algum aluno de mudança.

— Garganta. – Eu soei num fio de voz. A rouquidão mais proeminente agora ao anoitecer. — Benzetacil na bunda. – Foi tudo o que eu consegui dizer.

— Meu deus! – Mia me ajudou com a minha mochila da faculdade. — Você quer um chá? Um remédio pra dor?

— Acho que eu só preciso dormir agora. – Murmurei, anestesiada por todas as dores do dia.

Mia literalmente me ajudou com tudo, desde a arrancar minhas botas e puxar minha jeans pelos pés. Eu jamais poderia ser mais grata por tudo que ela estava fazendo por mim. Ela chegou até apagar a luz do quarto para que eu pudesse dormir e ela usasse o abajour de sua mesa para estudar. Neguei, afinal, eu dormiria de qualquer forma, ela não precisava se incomodar com o escuro. Ao mesmo tempo que, não foi muito verdade, eu variei entre dormir e chorar de dor a noite inteira.

Eventualmente, acordei com o meu despertador. Eu estava um misto imenso de ferrada e ferrada para caramba. Não havia estudado para a minha aula, a dor de garganta e rouquidão tinham melhorado um pouco, mas eu estava longe de estar bem. Para ajudar, o local da injeção doía mais do que eu poderia imaginar, o banheiro estava ocupado e eu já estava atrasada.

Quando a tarde chegou, a minha sorte não estava muito melhor do que durante a manhã. Minha garganta continuava ruim, eu ainda precisava ir trabalhar e ainda precisava ir na farmácia. E claro, me preparar psicologicamente por saber que eu teria que me aplicar uma injeção em algumas horas. As próximas, eu claramente delegaria para a Mia. Só esperava que ela já tivesse tido alguma experiência antes, nas aulas de cirurgia da faculdade.

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