"Ele a beijou ternamente. Nem mesmo a tarde ensolarada de Miami se comparava ao calor do amor deles." Eu digitava furiosamente no meu computador. Precisava entregar mais essa crônica ou talvez eu passaria fome nas próximas semanas. Não estava sendo fácil continuar escrevendo para o jornal da minha antiga cidade, Missoula, quando parecia que a faculdade estava ocupando completamente o meu tempo e pensamentos. No entanto, eu não tinha muitas escolhas. Era entregar mais uma crônica ou Hans Croft, meu contato no jornal, jamais me pagaria no final do mês. E talvez eu perdesse a minha única fonte de renda no momento.
Eu estava falhando em todos os aspectos da minha vida. Meu exame de bioquímica semanas atrás havia sido um fiasco, o novo semestre já estava ocupando todo o meu dia e eu não conseguia acabar o meu texto. Eu finalmente havia entrado no meu terceiro ano da faculdade. Parecia que tudo iria piorar a partir de agora e eu realmente não queria ligar para Janine mais uma vez para perguntar se, além de ter pagado o meu semestre e o hostel, se ela poderia me mandar algum dinheiro extra. Infernos, eu realmente ia passar fome esse mês se eu não entregasse logo a minha crônica.
O pior era que eu não tinha nenhum outro trabalho na cidade. Durante o verão, eu cuidava dos cachorros e gatos dos meus colegas que voltavam para seus países para visitar a família durante as férias. Ou recebia algum dinheiro para verificar se estava tudo em ordem no apartamento, ou levar o dinheiro do aluguel de alguns outros colegas. As férias eram a minha época mais abundante. Durante o semestre, as coisas eram muito mais complicadas.
Suspirei e fechei meu computador. Não tinha mais o que fazer, eu havia perdido totalmente a minha inspiração para continuar o texto. O casal em quem eu havia me inspirado aquela tarde havia ido embora do Brew's café há mais de 2 horas e eu já não me lembrava o suficiente para escrever o final do meu texto. Eu estava ferrada, ainda mais quando a neve começou cair do lado de fora. Da minha mesa eu conseguia ver os altos centímetros de neve que caíra na noite anterior, ficar branco e fofo novamente. Gemi. De onde veio tanto azar de uma vez só?
Olhando no relógio, eu tinha mais algumas horas para continuar no café até que Ivan me avisasse que era hora de ir embora. Ivan era o barista do lugar e por mais que eu frequentasse o café desde que abriu, há um semestre atrás, eu não sabia mais nada sobre ele. Esse era o problema de escolher estudar na Rússia sem saber falar o idioma. A única coisa que eu sabia era que ele é perfeito no trabalho dele e bonito demais. Uma pena não saber o meu idioma, nós poderíamos ter um momento interessante.
Não é como se eu tivesse muitas opções quando eu escolhi vir para cá. Na verdade, essa era minha única opção. Minha mãe não bancaria a minha faculdade nos Estados Unidos e eu soubera que na Rússia as aulas seriam em inglês. Eu poderia me virar com o Google tradutor por seis anos. Depois eu voltaria para o meu país e faria o USLME. Parecia fácil, difícil estava sendo continuar e para voltar para casa, eu ainda precisava me formar.
Por mais que Janine achasse que isso era uma loucura, ela concordou em pagar pelo menos o meu estudo e moradia. Não comprometeria tanto a sua renda, mas ainda assim era o suficiente para me deixar desconfortável em pedí-la. Ainda mais por sempre ouvir o discurso de que eu deveria parar com a brincadeira e voltar para casa. O arrependimento quase me matava e a promessa que eu daria um jeito de me manter, só deixava tudo mais difícil e impraticável. Eu vinha falhando nisso também e eu tinha certeza que dessa vez, quando eu ligasse pedindo ajuda, ela me mandaria voltar para casa e embora fosse tentador... Eu não podia, tinha uma promessa a cumprir.
Suspirando, pedi um lanche para o Ivan. Ele estava acostumado a decifrar a minha meia dúzia de mímicas e apontar coisas no cardápio. Então foi fácil pedir, pagar e voltar para a minha mesma mesa de sempre. Eu havia me acostumado àquele lugar. Era impossível estudar no quarto que eu dividia com a Mia e seu gato de estimação. Eu não conseguia me concentrar nenhum segundo, ainda mais com o bichano atacando meu pé a cada segundo. Eu realmente não entendia porque ele me odiava tanto.
A mesa no fundo do Brew's era o melhor lugar para mim. Eu tinha uma bela visão do café, das pessoas, dos pedidos sendo feitos, da porta de entrada, do piano no canto direito. Era daquele lugar que eu tinha conseguido as melhores histórias do último semestre. Algo havia dado errado hoje e eu decidi que se eu não quisesse falhar na minha prova de anatomia patológica no dia seguinte, eu já deveria ter começado a estudar há muito tempo. Pelo menos em alguma coisa eu precisava ser bem sucedida nessa semana.
Eu não poderia falhar em mais uma coisa, não queria assumir que Janine estivera certa durante todo esse tempo. Eu seria uma boa médica e isso não era uma brincadeira. Eu não permitiria que outras pessoas passassem pelo o que eu passei quando eu o perdi. A dor da perda, da falha, da impotência. Perder alguém tão jovem e saudável era um trauma. Uma dor que não importava se foi há 10 anos ou 10 dias, doía e sangrava da mesma forma. Era essa mesma dor que me impedia de voltar para casa. Eu tinha uma promessa a cumprir e não poderia suportar voltar no mesmo lugar em que ele morreu.
Essa é uma dor que eu não desejo para ninguém. Por mais que a minha mãe ache que eu esteja cometendo um erro, ela não entende, felizmente. Mesmo com todos os absurdos que ela me diga, as ameaças e cada um dos momentos que ela deixava claro que estava decepcionada comigo, eu não quero nunca que ela esteja no meu lugar. Talvez hoje minha escolha, minha promessa tenha sido um erro, mas quando alguém realmente precisar, eu vou ter a certeza de ter feito a escolha certa e dado o meu melhor por isso.
[NOTA FINAL]
Oi, novamente!
Bem vindos a todos à mais uma história no nosso lindo universo de Romitri!
A quem não me conhece/minhas histórias, estão todos convidados a conferir outras das minhas história no meu perfil. E para quem me conhece, está convidado a reler!
Amo muito a companhia de cada um de vocês!
Bom, essa história é mais um dos meus projetos, estou usando algumas das minhas experiências e conhecimento.
Não vou dar spoilers por aqui, mas quero que vocês me deem spoilers nos comentários!
O que vocês esperam de Love on the Brain? O que vocês imaginam e gostariam de ver por aqui?
Espero vocês nos comentários!
Até logo!
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Love on the Brain
FanfictionRose era apenas uma imigrante misteriosa sentada, diariamente, na mesma mesa do café com sua bebida fumegante à esfriar. O único pedido do dia que durava, no mínimo, 6 horas. Seu rosto sereno enquanto digitava no computador e no final da tarde, abri...