— O que foi isso? – Perguntei, horrorizada, e me afastei um mínimo do meu camarada. — Isso foi um gemido de dor?
— Você está com a mão pesada! – Ele reclamou e eu senti meu coração bater na garganta. Ou não bater.
— Isso doeu? – Insisti.
— Difícil não doer se você quase atravessou os dedos na minha pele, Roza.
Dimitri esfregou a pele onde eu tinha acabado de pressionar. Eu estava estudando para o meu exame prático de propedêutica e ele estava sendo meu paciente como de costume. Nós estávamos perdendo o almoço do dia seguinte de Natal. Eu ainda não estava acostumada em comemorá-lo em Janeiro, mas a semana de feriado entre o Ano Novo e o Natal ortodoxo, tinha me dado mais alguns dias para estudar. Eu tinha tentado insistir que meu Camarada passasse o dia com a família dele, mas a preguiça pelo jantar da noite anterior e nossa aventura, nos fez ficar na cama. Meu camarada de cueca e eu com a camiseta dele, roupas que surgiram depois da atividade maravilhosa que tivemos de madrugada. O meu presente de Natal, um lingerie totalmente transparente e sexy, agora dobrada sobre a máquina de lavar, era uma lembrança maravilhosa da madrugada anterior. As algemas ainda nos cantos da cama quase me fizeram desistir de praticar para o exame para uma segunda rodada da aventura.
Bem, isso até meu pesadelo começar com o gemido de dor do meu russo. Eu estava praticando alguns dos sinais em palpação do sistema digestório e eu não queria crer que o meu camarada estava reagindo justamente aos sinais de McBurney. Eu testei o sinal de sensibilidade de rebote e ele também reagiu com uma careta de dor. Na verdade, eu testei todos os sinais que poderiam me indicar uma apendicite. Eu quase entrei em pânico quando ele reagiu a todos eles com um pequeno silvo de dor. Não podia acreditar que estava passando por essa situação uma segunda vez com alguém que eu amo. Eu tentei controlar todo o meu pavor e pânico, mas eu não consegui não tremer de ansiedade.
— Desde quando você começou a sentir dor? – Eu perguntei baixo e me repreendi pelo pânico. Eu estava estudando para ser médica, precisava manter a calma.
— Hum... Eu não estava exatamente. Era só um incômodo. – Dimitri se apoiou nos cotovelos para me olhar.
— E não passou pela sua cabeça me falar nada? – Cobrei com um pouco de raiva, mas me esforcei em pensar que não era exatamente culpa dele.
— Era só um incômodo, achei que fosse passar logo, Roza. – Dimitri acariciou minha coxa já que eu estava sentada sobre meus calcanhares.
— Você esteve enjoado? – Perguntei, tentando me lembrar todo o protocolo de perguntas além de só o prático. — É claro que você esteve enjoado. – Minha memória focada nele me alertou. — Você tem comido menos. Vomitou?
— Não. – Ele me olhou com um pouco de delicadeza, provavelmente, consciente do pequeno surto crescendo em mim.
— Nós vamos para o hospital. – Falei já saindo da cama. Podia ser só um incômodo e enjoo, mas ele tinha reagido ao meu toque. Quanto antes nós resolvermos essa situação, menor a chance dele ter algo pior como o Mason. Eu não podia perder meu Camarada.
— O que? Por que? – Ele sentou assustado, enquanto eu puxava roupas de dentro do armário.
— Porque você deve ter uma apendicite e nós precisamos investigar pra tratar isso. – Expliquei sem dar tempo para ele me impedir ou negar. Puxei uma pequena mala do armário também.
— Roza. – Dimitri saiu da cama e me segurou antes que eu enfiasse dentro da mala todas as roupas dele que eu conseguisse separar. — Está tudo bem, não é nada.
— Não está. – Eu suspirei e abaixei a minha cabeça. As lágrimas vieram mais rápido em meus olhos do que eu esperava que poderiam vir. Eu estava surtando e isso era péssimo para o Dimitri. — Mason morreu por causa de uma apendicite complicada. – Eu o relembrei, desabafando tudo o que tinha dentro de mim de uma vez. — Eu não consigo passar por isso de novo, Dimitri, e eu me prometi jamais deixar outras pessoas passarem pela mesma dor que eu passei, incluindo eu mesma. E ainda que pareça ser só um incômodo bobo e um enjoo, pode piorar e muito e...
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Love on the Brain
FanfictionRose era apenas uma imigrante misteriosa sentada, diariamente, na mesma mesa do café com sua bebida fumegante à esfriar. O único pedido do dia que durava, no mínimo, 6 horas. Seu rosto sereno enquanto digitava no computador e no final da tarde, abri...