Capítulo 26

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Nós chegamos em casa no começo da noite seguinte. Passar a noite no hotel foi a melhor decisão que tomamos. Dimitri estava exausto, tão cansado que assim que conseguimos a chave do quarto, ele acabou dormindo antes de mim – o que é uma raridade –. Sobrou para mim a arda batalha de arrumar um russo na cama e arrancar sua calça jeans para dormir mais confortavelmente. Tenho certeza que ele não se lembra até agora de seu sorriso safado, em meio ao sono, quando percebeu que eu estava despindo-o. Eu queria rir do lapso de consciência de dois segundos dele para logo em seguida dormir agarrado em mim. Quando acordamos, sem despertadores e sem aquela obrigação em cumprir horário, já era quase madrugada novamente. Isso nos rendeu um pedido de delivery, porque eu estava morrendo de fome. Afinal, havíamos negligenciado as refeições por mais horas de sono. Bem, eu dormi tudo o que eu podia, inclusive uma parte do nosso retorno para casa, mas Dimitri tivera um momento de insônia difícil para dormir durante a noite. Como eu sabia? Eu acordara inúmeras vezes com ele acariciando os meus cabelos.

— Hum... Que preguiça! – Gemi e estiquei todos os meus músculos ao me espreguiçar depois de deixar meus tênis na sapateira de entrada do apartamento do meu russo.

Dimitri riu e me olhou com uma pitada de luxuria pelo meu pequeno gemido e muito provavelmente por eu ter desabotoado a minha calça jeans. Eu não sei onde estava a minha cabeça ontem quando eu coloquei a calça na minha mala. Eu sempre odiei viajar de jeans. Em algum momento da viagem os meus pés inchariam, a sensação dos meus vasos sanguíneos sendo comprimidos pelo tecido apertado e o botão apertando a minha barriga. Honestamente, viagens devem ser feitas de moletom, ainda mais se tiver ar condicionado no transporte, caso contrário, deixe as pernas livres. Não que o Dimitri tivesse vindo com o ar condicionado ligado ou que eu tivesse passando calor, mas sim, eu tinha feito a burrada de voltar mais de seis horas, sentada, de calça jeans.

— O que vamos jantar, Camarada? – Eu me agarrei ao corpo másculo à minha frente, abraçando-o por trás. — Claro, eu vou ser a janta depois, mas primeiro você precisa me alimentar. – Comentei e desci minhas mãos pelo abdomen dele até o começo da pélvis.

— Você já está com fome? – Dimitri riu e segurou minhas mãos antes que eu pudesse tocá-lo ainda mais ao sul.

— Chips não é janta, Camarada! – Reclamei e meu russo me puxou para me colocar sob seu braço.

— Você deu sorte que sobrou alguns pelmenis. – Ele deu um beijo na minha testa e nos arrastou apartamento adentro.

— Eba! – Eu quase saltitei. Entendia porque o pequeno Alexey gostava tanto da comida. Dimitri tem dotes culinários maravilhosos. Outros dotes tão maravilhosos quanto, mas por hora, meu estômago estava regendo as minhas necessidades. — Então você esquenta a comida enquanto vou colocar nossas roupas para lavar.

— Seu pedido é uma ordem, minha rainha. – Dimitri brincou e meu coração aqueceu, afinal, toda brincadeira tem um fundo de verdade, certo?

Meu russo me passou a mala que ele ainda estava carregando em seu ombro. Estava muito mais vazia que muitas das vezes que eu fizera o translado entre o hostel e o apartamento dele, mas eu sabia que a máquina de lavar estava quase cheia. Fazia alguns dias que não tínhamos dado atenção à isso e assumo que a minha parte do armário já estava quase vazia. Talvez tenha sido por isso que eu fiz uma péssima escolha na madrugada antes de ir para Omsk. Separei algumas roupas do Dimitri para lavar depois ou elas encheriam de bolinhas de outras peças. Sentei no chão por um segundo, encarando a máquina começar a funcionar. Ver o meu reflexo no vidro me deixou enjoada, porque era assim que eu me sentia agora; revirada, bagunçada, perdida.

Não me dei muito tempo ali no chão. Primeiro, porque eu provavelmente vomitaria enquanto assistia o interior da máquina girar, segundo que eu precisava pensar e organizar a minha própria cabeça antes de conversar com o meu russo. Honestamente, hoje eu não tinha condições e amanha eu precisava ir trabalhar. Domingo de tarde. Eu tinha que estar pronta até domingo de tarde. Eu não aguentava mais essa situação e, embora eu amasse Dimitri com todo o meu coração, essa foi a primeira vez que eu pensei que não queria dormir aqui. Não podia deixar o pânico e a ansiedade me fazerem correr. Foi difícil colocar um sorriso no rosto quando tudo o que eu queria era chorar. A fome também tinha passado e eu estava estranhamente desanimada agora. Eu sabia, é claro que eu eu sabia.

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