Eu não esperava entrar em um novo período na minha vida em que eu não saberia responder a pergunta: que merda está acontecendo? E parecia que quanto mais os dias passavam, mais essa pergunta ficava constante e menos eu entendia o que estava rolando. Era como se a dúvida e a confusão tivessem instaurado uma condição permanente no meu cotidiano.
Ao menos, o meu atual sincronismo com a vida de Dimitri indicou que não era apenas eu que não sabia como responder essa pergunta. A troca de olhares confusos indicava exatamente o jeito que nos sentíamos. Além da confusão, o sentimento maior de querer matar a senhora Yeva estava prestes a vencer a imobilidade do meu corpo. Eu ia matar essa velha! Por quê, infernos, ela tinha que ter inventado um mentira tão cruel como essa? Cruel para Dimitri, certamente. Eu não me importava que meu pequeno sobrepeso me dava a aparência de grávida, mas eu lutaria com unhas e dentes para proteger o meu Camarada do que toda aquela história poderia resultar.
— Nós não-
Eu estava pronta para falar a frase ridícula de "nós não estamos grávidos, eu não estou grávida" quando a tempestade realmente caiu na cozinha. Se eu pudesse e tivesse força o suficiente, eu teria agarrado o braço do Dimitri e nos levado para longe daquele pandemônio. De um velha russa gritando e gesticulando aos quatro ventos, de um gangster bloqueando o caminho daquele tornado, da ex-esposa do Dimitri argumentando furiosamente com a velha e uma Viktoria ainda mais exaltada. Quando elas iam começar a se bater? Porque, pelos ânimos aflorados, eu tinha certeza que seria muito em breve. Honestamente, eu não queria estar aqui para assistir.
Dimitri me trouxe ainda mais para baixo de seu braço, entendendo mais facilmente que eu a desgraça da gritaria que a cozinha da Olena virou. Discretamente, meu Camarada me levou meio que para suas costas, eu o abracei e tentei, em vão, arrastá-lo em direção à porta da entrada da casa. Assim poderíamos fugir daquele inferno e fingir que nada dessa noite tinha acontecido. A minha diferença de mais de uma cabeça de altura e muitos quilos não fez nem cócegas na minha tentativa de tirar Dimitri do lugar. O olhar de pavor da minha mãe para mim dizia exatamente o que eu queria agora: nós precisamos ir embora.
Antes que eu pudesse começar a implorar para o Dimitri que era melhor a gente ir embora, o gangster enfiou os dedos em seus lábios e soltou o assovio mais estridente que eu já tinha ouvido em toda a minha vida. Num ambiente fechado como a cozinha pequena cozinha da Olena, o assobio reverberou e sim, machucou como o inferno os meus ouvidos. As mulheres, ao menos, se acalmaram o suficiente para o silêncio voltar a reinar ou o mais próximo possível que três russas revoltadas poderiam ficar. Se Abe não tivesse ameaçado levar os dedos de volta para a boca, eu tinha quase certeza que elas teriam voltado a brigar.
A tensão estava tão acumulada dentro da cozinha que um suspiro em falso e toda aquela loucura voltaria a reinar. Os olhares de raiva entre as três russas e em como Dimitri apertava minhas mãos ao seu redor, indicava em como os ânimos estavam uma merda. Eu fiz uma suave carícia com as pontas dos meus dedos onde as minhas mãos tocavam sua barriga, esperando que ele pudesse respirar e relaxar. Essa briga não era dele, embora eu não tivesse entendido muito da gritaria para confirmar. De qualquer forma, não queria Dimitri metido com nenhuma daquelas mulheres loucas.
— Agora que as senhoras se acalmaram, acho que podemos conversar como pessoas civilizadas. – O gangster falou como se fosse o juiz daquela loucura toda.
— Vocês até podem conversar. – Eu falei, saindo de trás da proteção que Dimitri havia armado para mim e procurei pela mão dele e entrelaçamos nossos dedos automaticamente. — Mas nós vamos embora.
— Não sem comer. – Yeva saiu empurrando todo mundo em seu caminho até mim e eu tinha quase certeza de que ela seria capaz de socar o Dimitri para sair da minha frente uma segunda vez. Meu Camarada já havia entendido que estava faltando alguns parafusos fora do lugar na cabeça das pessoas de sua família hoje e tudo o que ele estava tentando fazer era me proteger. Camarada, me proteja ao me levar para casa!
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Love on the Brain
FanfictionRose era apenas uma imigrante misteriosa sentada, diariamente, na mesma mesa do café com sua bebida fumegante à esfriar. O único pedido do dia que durava, no mínimo, 6 horas. Seu rosto sereno enquanto digitava no computador e no final da tarde, abri...