Capítulo 2

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Encarei meu quarto, pensando em o que mais eu poderia vender para conseguir um pouco mais de dinheiro. Estava cada vez mais difícil entregar uma crônica e sem isso, eu ficaria sem dinheiro pelo próximo mês. O episódio no Brew's café, há alguns dias atrás, tinha dificultado tudo. Eu tinha perdido totalmente o pouco da minha inspiração que ainda me restava e a vontade de escrever.

A faculdade, ocupando quase todo o meu tempo piorava muito. Eu estava na época de precisar de tempo antes de escrever. É isso o que acontece quando você perde a inspiração pelo caminho. Respirar fundo, conectar-me com aquela pequena parte artística dentro de mim e tentar desenvolver nem que fosse um mísero parágrafo. Tempo, no entanto, era algo que estava faltando. Suspirei, derrotada. Talvez eu pudesse pedir um dinheiro emprestado para Mia e rezar para conseguir melhorar a minha situação financeira. Suspirei novamente. Eu não podia fazer isso com ela. Sabia o quanto estava complicado para todo mundo.

Eu tinha só mais uma opção. Poderia ligar para minha mãe e resolver isso. Ou talvez piorar tudo. Eu sabia o que ela iria falar e, honestamente, eu não tinha condições de ouví-la dizer que eu tinha feito uma péssima escolha e deveria voltar para casa. Ela não entendia. Nunca entenderia até precisar de um médico, até perder alguém importante. Eu jamais gostaria que ela passasse por isso. Por mais que parecesse que eu estava fazendo isso por meus motivos egoístas, como ela gostava de dizer, eu estava fazendo por ela também. Minha mãe era tudo o que me sobrara. E eu não poderia perdê-la da mesma forma que eu o perdi, por negligência.

Sai do quarto com a gata de Mia – Kosh¹ – me encarando. A gente não tinha uma boa relação e, certamente, ela me odiava mais por saber que eu já cogitei em vendê-la mais de uma vez. Eu não acho que a Mia perceberia tão rápido estando tão ocupada com a faculdade quanto eu. A mama do hostel, com certeza, ficaria aliviada. Eu não tenho certeza de quantas vezes ela já nos pediu para nos livrar da gata. No fundo, eu tinha alguma afeição pelo bicho, ela me fazia companhia algumas vezes e eu poderia desabafar para ela sem ser julgada ou questionada.

Encarei uma das janelas no corredor principal do hostel, o celular sendo agitado entre meus dedos, conforme a ansiedade me consumia. Eu poderia fazer isso, certo? Era como as últimas ligações, perguntava se estava tudo bem, pedia dinheiro, ouvia a bronca da dona Janine, segurava as lágrimas e desligava. Ao menos, no dia seguinte eu teria algum dinheiro na conta. Por mais que minha mãe não aprovasse nada dessa minha nova vida, ela não iria simplesmente me desamparar e deixar morrer de fome.

— Alô. – Eu tive muito que me controlar para não tirar o celular do ouvido e desligar a ligação. — Rosemarie?

— Oi, mãe. – Sussurrei depois de alguns segundos, os olhos fechados com força pelo arrependimento. Talvez se eu não visse o mundo exterior, nem o meu reflexo contra a janela, talvez eu não enxergasse mais uma das minhas falhas. Ou, como minha mãe gosta de lembrar: quanto tudo isso é um erro. — Tudo bem?

— Você perdeu seu relógio? – Ela murmurou e eu quase me bati. Merda de fuso horário!

— Me desculpa, eu posso ligar mais tarde! – Eu estava tentada a desligar a ligação, mas ela ficaria ainda mais brava por eu tê-la acordado por motivo nenhum.

— O que você precisa, Rosemarie? – Eu até poderia ouvi-la esfregar a mão na testa. Ótimo, eu tinha dado uma dor de cabeça à Janine logo nas primeiras horas do dia.

— Você acha que poderia me enviar um pouco de dinheiro? – Eu perguntei sem muitos rodeios, só iria piorar a situação se eu enrolasse demais. Estava claríssimo que ela não queria conversas, eu não ia tomar mais de seu tempo.

— Achei que a gente tivesse combinado que você lidaria com isso. – Suspirei, as coisas realmente não poderiam ser mais fáceis entre nós duas. — Você devia voltar para casa, Rose. Entendo que pra você foi melhor fugir e viver seu luto se ocupando com outra coisa. Isso se você estiver vivendo um luto.

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