Capítulo 39

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Aviso de gatilho
Neste capítulo contém assunto delicado que pode causar sofrimento


Quarta-feira

Era lindo... Tão lindo!

Eu estive nesse lugar, ao menos, uma vez por mês desde meados de Março e Abril. Tinha sido assustador no início e eu sempre me sentia um pouco depressiva e vazia. A água caia furiosa de seu topo e atropelava tudo rio abaixo. A força era tanta que eu podia sentir a raiva da natureza. O barulho da correnteza era tão forte que meus ouvidos zumbiam e me dava vontade de abraçar meu próprio corpo. A umidade era tanta que me deixava claustrofóbica e me fazia suar. Acima da queda, no horizonte, o céu vermelho era angustiante e triste. Não era um pôr-do-sol bonito de ser admirado, era daqueles que traziam um sentimento de que algo está errado e algo ruim está para acontecer. O conjunto melancólico da paisagem e aquele aperto no meu peito sempre me faziam correr para longe.

O que me levava para outro ambiente, totalmente, o oposto, mas tão depressivo quanto. O solo seco, sem vida e triste. Se eu aguçasse apenas a minha audição, agora que a fúria da queda d'água não me deixava mais surda, tenho certeza que em algum lugar por ali tinha alguma cobra ou algo assim. Eu podia ouvir o chacoalhar característico. Por sorte, eu nunca tinha sido picada, mas eu sempre a encontrava, metros à frente, morta. Então, de onde vinha o som?

O céu ainda avermelhado, o calor dos ambientes e o medo sempre me faziam acordar suando e com o coração disparado. Meu corpo todo doía, provavelmente, pelo tanto que eu ficava tensa durante toda a noite. O sonho, na verdade, o pesadelo sempre me deixava depressiva pelo resto do dia, às vezes até da semana. E quando eu, finalmente, achava que tinha me livrado do pesadelo, voltava a acontecer no mês seguinte. Tão ruim quanto no mês anterior e, exatamente, os mesmos sentimentos.

Dessa vez, estava diferente. Quando eu vi a cachoeira, a angustia me tomou como sempre, mas o arco-íris lindo surgindo do seu topo, fez-me admirar por alguns segundos além. A curiosidade surgiu e eu me aproximei da margem. A queda, ainda que fosse tarde, não parecia ser tão severa como sempre. A correnteza tinha abrandado e a água cristalina fez meu corpo coçar. O calor do sol forte me fez pensar se seria tudo bem que eu desse um mergulho. Era a primeira vez que a paisagem tinha mudado e eu não me sentia oprimida pela força e opulência. Muito pelo contrário. Inspirei o ar limpo, fresco e com um suave toque do cheiro de plantas e flores. Pela correnteza silenciosa, o canto dos pássaros era audível e belo.

— Wow! – Respirei fundo, a paz me fez sorrir.

Eu me sentei na margem do rio e passei a mão pela água. Estava fresca, não fria. O sol lançando raios convidativos no centro da água, onde a mata densa dava um intervalo, estava me atraindo. Como se o calor daquele brilho esquentasse o meu interior. Olhei ao redor, procurando se eu tinha alguma companhia. Não tinha ninguém para a minha sorte. Aproveitei a privacidade e tirei minhas roupas, deixando-as na segurança de uma pedra mais elevada a alguns passos de distância da margem. Não queria que meu suave vestido branco e roupas íntimas molhassem.

A água estava menos amena do que eu imagina. A mudança de temperatura fez meu corpo tremer, ainda assim, eu mergulhei. Meu queixo bateu pelo frio, mas ter submergido na água clara e cristalina encheu meu corpo com uma energia maravilhosa. Eu nadei até aquela região iluminada, meu corpo acostumando com o frio. Gemi, quando eu emergi na superfície, o sol quente me aqueceu e abraçou. Meu corpo absorveu o calor muito bem vindo. Passei as mãos pelo meu cabelo e eles grudaram na minha coluna até quase a minha bunda. O vento morno e o sol aqueceram o meu rosto, meu colo e toda a pele que estava exposta por eu estar de pé. A água não batia muito abaixo do meu umbigo ali, cobrindo apenas alguns poucos dedos acima do vértice das minhas pernas. Os pedregulhos do solo e a areia fizeram cócegas nos meus pés, roubando de mim, uma suave risada. Era tão bom... Tão lindo. Tão tranquilizante.

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