Epílogo

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A vida nos surpreende mais do que imaginamos. Nunca acreditei muito em destino. E tenho certeza que não foi ele que a colocou em meu caminho. O que eu tive foi uma grande sorte.

Há quase três anos atrás, se alguém me dissesse que estaríamos aqui hoje, eu provavelmente mandaria essa pessoa se internar. Talvez não chegue a esse ponto, mas com certeza eu acharia que esse ser tem algum problema.

E ao olhar pra trás, e ver tudo que passamos, com certeza eu faria tudo de novo. Só pra poder sentir tudo que eu sinto, e ter o que eu tenho hoje. Inclusive, ela em meus braços.

Mia: Tá olhando o que? – pergunta, franzindo as sobrancelhas grossas em confusão.

Acho que ela percebeu que estava encarando-a.

Eu: Nada. Só vendo como eu tenho sorte por ter você. – Ela pisca algumas vezes e desvia o olhar constrangida.

Com esse pequeno gesto, ela sempre arranca breves sorrisos de mim. Acho incrível como, mesmo depois de quase três anos, ela reage sempre da mesma forma.

Mia: Babaca! – xinga, e prende o longo cabelo castanho claro. – Você tá querendo alguma coisa....

Faço cara de ofendido.

Eu: Você sempre espera o pior de mim! – resmungo.

E isso a faz sorrir antes de deitar com a cabeça em meu colo e esticar as pernas no sofá.

Mia: Claro. Eu te conheço muito bem Miguelzito. – Cantarola, e eu reviro os olhos pelo chamado.

Desde que descobriu minha fraqueza com esse apelido em especifico, ela não para de usá-lo. Sua justificativa é simples; vingança por todos os que criei pra ela.

Não acho que seja necessário, afinal os meus são bem originais e criativos. Além é claro, de combinarem com ela.

Eu: Já disse que te odeio hoje? – arqueio a sobrancelha.

Ela estreita os olhos e sai do meu colo.

Mia: Eu também te odeio. – Fala, e some pelo corredor em direção ao nosso quarto.

Não é bem nosso. Eu aluguei esse apartamento ano passado, depois que eu fiz 20 anos. Queria um lugar pra mim, e é localizado bem próximo da faculdade, o que facilita muita coisa.

Não é tão grande, tem dois quartos, um banheiro e a cozinha é embutida com a sala. Perfeito pra um adolescente "bagunceiro" como minha querida namorada me chama. Discordo, completamente.

Nos últimos dois anos, muita coisa mudou. Após acabarmos o ensino médio, esperamos o tempo pra sermos chamados para as universidades. Foram meses de espera, e escolha sobre o que queríamos fazer. Não só eu e a Mia, mas também todos os nossos amigos.

Finalizamos o primeiro período e eu achei melhor procurar um lugar pra mim, não queria incomodar minha mãe com seu novo namorado, e apesar da insistência dela e da Sophia para que eu ficasse, achei melhor adiantar o inevitável. Claro que eu não as abandonei, visito as duas quase que diariamente. Minha irmanzinha está bem melhor dos traumas e da dependência, não tem tido crises como antes e parece estar se "curando". Por garantia, decidimos deixa-la ainda frequentando a terapeuta, só que com apenas uma sessão semanal.

Logo que vim pra cá, por sinal é um condomínio composto basicamente por estudantes como eu, percebi que tinha sido a melhor coisa que podia ter feito. É muito próximo da universidade, e não precisamos nos deslocar tanto quanto antes.

Um celular toca, e logo reconheço ser o da Mia. Olho o visor de chamadas e vejo o nome Luísa piscar. Vou até a cozinha onde encontro a garota procurando algo nos armários e entrego o aparelho.

O Garoto do CaféOnde histórias criam vida. Descubra agora