Capítulo 56 - Parte 1

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Me concentro no som do ambiente. Com os olhos fechados, começo a perceber as coisas ao meu redor, a brisa fresca, o som das folhas, o sol batendo sobre meu rosto e uma paz enorme toma conta de mim.

Entro em um leve estado de meditação, sem perturbações e sem barulho. Mas como coisas assim não duram, eu logo sinto um jato de água se chocando contra meu rosto. Abro os olhos.

Eu: Vitor! – Exclamo para o mesmo. Ele aproveita a deixa e submerge pra dentro da piscina.

Reviro os olhos e uso a manga da minha blusa pra enxugar a água em minha face. Sem querer, meus olhos focam nos danos causados pelo "acidente". Claro que não foi só um, tinha que ter mais. O que só aumentou a preocupação dos meus amigos.

Depois que apaguei, lembro de ter acordado num lugar estranho, que logo fui informada que era a pequena clínica da cidade. Ao abrir os olhos, me deparei comigo deitada em uma maca sendo tratada pelo doutor de plantão. E lá ele me explicou toda a minha situação.

Primeiramente ele me parabenizou pela sorte, por que além de eu ter sida mordida por um filhote de cobra – que geralmente são mais venenosos que cobras adultas – o Marco estava enganado. A espécie é sim venenosa!

Então eu tenho o combo azar e certeza duvidosa.

Mas a questão é que apesar de venenosa, a cobra verde tem grande dificuldade de inocular veneno graças a uma característica na sua dentição. Quer dizer, veneno ela pode inocular, mas não em grandes quantidades, e principalmente se for filhote como foi o caso. E ainda tive a sorte que mesmo com tudo isso, o maldito filhote possuía saliva tóxica. E mesmo isso não conseguiu me afetar tanto assim, até por que era mesmo um filhote, e foi tratado rapidamente. Depois de me passar essas informações, o médico conseguiu tratar qualquer reação adequadamente, já que não é um evento incomum naquela região, e o doutor já tinha certa experiência no assunto. Então tratou da mordida para que as bactérias não adentrassem mais meu sangue e me passou alguns remédios para isso, que são basicamente antibióticos – pra alguma ardência ou dor futura – antitérmico, já que febre está incluído como algumas das sequelas provocadas pela mordida e algum outro específico pra esse tipo de situação graças a minha reação alérgica pela mordida.

Enfim. Ele colocou um curativo pro caso de infeccionar e essas coisas, mas não foi tudo. Além de alguns arranhões pelo modo qual eu sai rapidamente da água, aconteceu uma coisa que eu não percebi. No meio da minha "corrida" pra fora, eu acabei cortando meu pé direito – o mesmo da mordida – em uma das rochas pontudas que tinha naquele laguinho que eu sequer NOTEI. E como na hora eu tinha altas doses de adrenalina no meu corpo e tava mais preocupada com a merda de uma cobra vindo na minha direção, e é claro, o fato dela já ter me mordido.

Segundo o nosso "especialista" Marco, era um filhote que devia ter se perdido da mãe, estava com medo, e ao me ver entrado no lago tão perto dele, se sentiu ameaçado. Filhote demoníaco, isso sim. E essa foi a história de como descobri meu recente pavor de cobras.

Mas o corte no meu pé não foi tão profundo, o médico esterilizou a ferida, prevenindo infecções e algum resquício de alguma coisa, e pra ajudar a cicatrizar deu pontos, só por garantia.

Então somando todos esses fatos, chega a um só lugar.....na verdade não chega a lugar nenhum. Por que? Porque eu estou impossibilitada de andar, e não é nem por causa dos machucados. Nos primeiros dois dias eu não conseguia pisar no chão, mas aos poucos foi melhorando a situação, e eu já consigo me equilibrar e dar alguns passos. Mas como eu disse, eu tenho amigos super protetores que não me deixam em paz.

Júlia: Já tá bom né mocinha? – Provoca.

Ela sabe que eu odeio ficar no centro das atenções e ser tratada como criança, por isso faz isso.

O Garoto do CaféOnde histórias criam vida. Descubra agora