Capítulo 46

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Eu gosto de pensar que as pessoas temem a mudança por que não sabem o que esperar dela. O desconhecido assusta qualquer um, e esse "medo" faz as pessoas fazerem coisas estúpidas, às vezes. 

Mas também já ouvi falar que sem medo não há coragem, então ele nós motiva na maioria das vezes. 

No entanto, pelo menos no meu caso, ele apenas assusta. Tanto é que não estou muito afim de encarar a realidade no momento. Talvez seja por isso que meu celular esteja desligado nesse momento, e eu sem coragem pra ver as milhares de mensagens que deve ter. Meu irmão, como o fofoqueiro que é, abriu a boca pra Luísa, informando meu repentino ataque. Não foi apenas pelo fato de eu ter chegado naquele estado ontem, mas sim por que certo alguém bateu a porta de casa, um tempinho depois que eu tinha chegado. 

Amigos, como são o meu irmão e o Miguel, fez com que o Miguel soltasse algumas coisas sobre o ocorrido. Pelo que eu ouvi, sim eu ouvi, ele apenas disse que foi um mal entendido e precisava esclarecer algumas coisas. Como eu tinha dito antes que não queria falar com ninguém, meu irmão apenas disse pra esperar eu me acalmar, e que depois nós acertariamos.

Eu não estou magoada, muito menos triste. Só com um pouco de raiva de tudo. E usei esse tempinho, entre ontem e hoje, pra refletir sobre tudo. Por mais que eu evitasse, esse tudo também incluía nosso beijo, o qual eu relembrei mais vezes do que gostaria. Então fiz algumas conclusões na minha cabeça. 

Nós éramos ótimos como amigos, tendo algumas desavenças é claro, até por que ninguém é perfeito. E nosso beijo também foi ótimo, muito mais que ótimo. Mas por algum motivo, eu vendo a gente tendo algo a mais….. Não sei. Dava um nó na minha mente, e não fazia sentido algum. Mesmo que lá no fundo, eu sabia que era só o medo me cegando. 

Eu realmente me irritei com a ofensa da mãe dele, não sei se ela fez aquilo de propósito pra me atingir ou foi espontâneo, graças a presença da Sophia ali, e levando em conta que em outras situações ela tinha sido legal comigo, essa foi minha melhor hipótese. 

Então uma voz na minha cabeça me fez perceber a resposta.

Eu não gostei de ter sido confundida com suas peguetes por que eu queria ser algo a mais ou a menos?

Eu realmente só queria ser amiga dele? 

Eu não queria que houvesse segundas intenções na nossa "relação"?

Eu gostei ou não dele ter me beijado?

Essas foram poucas das perguntas que rondaram em minha cabeça no resto da manhã, tarde e noite de ontem.

Segundo minha professora de biologia, uma célula começa a se dividir aos poucos, aumentando seu tamanho no corpo humano até ser significativamente relevante ou perceptível. Então associei isso a como eu me sentia com o Miguel. Claro que isso era o mais clichê possível, mas no momento não liguei muito.

Não eram poucas coisas que me faziam gostar dele, a mais incomum era o fato de, além de tudo, eu o admirar. Até por que, como ele disse, ele cuida de mim. Mas não em relação somente aos meus hábitos alimentares, isso era só um detalhe. 

Mas sim sobre o meu jeito de ver as coisas, desde a nossa última briga (se é que aquilo pode realmente ser considerado uma), ele usou a palavra infantil. É claro que eu odiei, quem não odiaria?

E admito que eu realmente sou. Mas a questão é que com ele, isso era atenuado. Eu comecei a ver as coisas pelo ponto de vista dele, e o melhor de tudo isso, é que ele não tentava me mudar, ele me fazia compreender.

Em todos os momentos que eu estive com ele, fora as alfinetadas, eu também vi o que o motivava, o que o inspirava, no geral, essa era uma das coisas que me fazia gostar ainda mais estar com ele. Talvez seja graças a ele que eu não esteja o odiando nesse momento. Raiva é passageira, mas ainda tem um pouco em mim, admito.

O Garoto do CaféOnde histórias criam vida. Descubra agora