Capítulo 42

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Ando lentamente em direção à sala de aula, me arrastando pelos corredores sem qualquer animação. Hoje ainda é terça, não me atrasei hoje, e ainda tem uma longa semana pela frente. Me sinto tão entediada. O que me anima um pouco é que faltam poucos meses pro fim do ano letivo e, graças a Deus férias, os feriados de fim de ano.

Tento não pensar muito nisso, pro caso de eu me distrair e sair andando mais que deveria, tô nessa vibe de lerdeza agora.

Abro a porta da sala e vejo que não falta muita gente, o professor ainda não chegou. Hoje começamos com química. O que eu acho errado, não devia começar o dia com uma coisa tão chata, é deprimente.

Não dou bom dia a ninguém, até por que não sou obrigada, e me sento no meu lugar habitual. Hoje meu querido irmão fez o grande favor de me esperar.

Me ajeito em minha cadeira e ponho meus fones, colocando pra tocar em seguida uma das minhas milhares de músicas de violino, da minha playlist pra me acalmar. Estou com um leve gatilho pra me irritar, graças as piadinhas do Bruno durante o trajeto pra cá por causa do Miguel.

Não, não poderíamos estar discutindo sobre a viajem dos nossos pais, que por sinal eles partem hoje. Muito menos sobre o fim do ano, do semestre. De absolutamente NADA. Tinha que ser sobre o Miguel, sobre como eu e ele vivemos grudados, corridinhas, dancinhas, troca de olhares infinita. Enfim, palavras dele, não minha.

E isso me irrita profundamente, por que parece as pessoas do meu círculo social estão tão desesperadas pra me desencalhar, que não me deixam ter a droga de um amigo em paz!

Tudo bem que eu posso estar um fazendo um leve drama, o tão chamado "cu doce". Mas foda-se.

Seleciono uma das minhas várias músicas instrumentais de piano e violino pra tentar me acalmar e não estragar o resto da minha manhã, essa irritação repentina só pode ser a TPM, que legal! Alterações de humor era tudo que eu precisava.

Os alunos começaram a chegar em grande quantidade, então aumento mais o volume e fecho os olhos, fico alguns segundos nessa leve meditação, até que sinto meu fone ser puxado e um par de olhos me encarando. A levar em conta o perfume, eu não preciso nem abrir os olhos pra saber quem é.

Tiro o outro lado do fone e encaro suas esferas castanhas-esverdeadas, que no momento me encaram com curiosidade.

Miguel: O que foi? - Questiona, parado em pé em frente à minha carteira.

Desvio o olhar.

Eu: O que foi o que? - Devolvo.

Miguel: Sua cara de quem comeu e não gostou. - Insiste.

Eu: Estou com uma leve irritação, graças ao babaca do meu irmão. - Resumo, ele me olha ainda em dúvida que seja só isso. Sim, ele consegue perceber coisas que nem eu sei sobre mim. - TPM.

Termino de explicar e seus olhos transmitem seu entendimento, ele assente levemente com a cabeça.

O Miguel sai da minha frente e me empurra levemente pra poder sentar comigo, na mesma cadeira. Suspiro com a aproximação repentina, a gente tá colado.

Miguel: Que bom que me avisou, vou ficar longe de tu nesse tempinho.

Olho pra ele irritada.

Eu: Seu nojento! Só quer ficar perto de mim quando eu tô de boa né? Sai daqui então. - Exclamo, e tento empurra-lo pra sair da minha cadeira.

Mas ele não move um músculo, sou mais mole do que pensei.

Ele ri.

Miguel: Mia, você já é bipolar suficiente normalmente – olha pra frente – Aguentar tu de TPM é foda né.

O Garoto do CaféOnde histórias criam vida. Descubra agora