Renato e Wesley andaram em silêncio até um banco afastado e instalado próximo ao desfiladeiro que separava Ressurreição do rio, bem no alto da falésia do Estige. Eles sentaram-se, olhando aquelas águas negras hipnotizantes (mais enegrecidas ainda pela noite nublada).
Do outro lado do rio, Paraíso ainda pulsava. Era possível ver a enormidade de carros que iam e vinham pela avenida que acompanhavam a margem oposta do Estige e os quadradinhos iluminados nos vários prédios mostravam que ainda havia muita gente acordada, mesmo as duas ou três da manhã (Renato não fazia ideia de que hora era exatamente). Pequenas figurais humanas, minúsculas à distância, aproveitavam a praia artificial. Renato soltou um risinho imperceptível, era óbvio que Paraíso tinha ficado com a melhor margem do Estige. Enquanto sua cidade herdara uma enorme faixa de terra, que fora coberta de areia para criar um litoral fake, Ressurreição, ficara espremida contra um penhasco rochoso.
Ao mesmo tempo em que Renato contemplava a geografia do lugar, Wesley encarava os próprios pés, mergulhado em um silêncio incômodo e sem saber como começar a conversa. O cowboy sabia que alto diferente havia se instalado entre ele e seu amado. De repente, a intimidade de um casal apaixonado dera lugar a sensação de eles não passavam de pessoas estranhas um para o outro.
Definitivamente, eles eram – agora – dois estranhos.
- Você está bem? – quis saber Renato, sem encarar o namorado, preferido continuar olhando para serezinhos que povoavam a praia do lado de Paraíso.
- Tô bem, sim. E você?
- Tranquilo...
Wesley movimentou os ombros em círculos, tentando relaxar. Renato finalmente o encarou (meu Deus, como ele é lindo!).
- Você não me ligou esta semana – provocou Renato.
- Estava atolado em trabalhos – disse Wesley, virando-se para Renato. – Mas você também não me ligou.
Renato concordou com a cabeça.
- Tive uma semana complicada também.
Um pequeno silêncio, enquanto os dois se encararam. A vontade de avançar o sinal e beijar o namorado tomava conta do corpo de Renato.
- Imagino... – disse, finalmente, Wesley.
- Senti sua falta.
Wesley não respondeu. Apenas olhou para frente, também observando as luzes que iluminavam as várias janelas dos prédios de Paraíso.
- Você não me disse que ia aparecer por aqui... tipo, na festa do Juliano – continuou Renato.
- Bem, parece que eu não fui a única pessoa a esconder uma saidinha, não é?
- Como assim?
Wesley encarou Renato. Um olhar duro e frio que fez Renato temer o que vinha pela frente. Um jeito estranho de encará-lo ao qual ele nunca tinha assistido. Alguma coisa ruim estava prestes a acontecer, ele podia sentir a tempestade no ar.
- Até onde me lembro, você também não me contou que viria pra cá hoje.
- Eu ia contar, mas... – Renato se calou.
- Mas o quê?
Com as mãos pousadas sobre os joelhos, Renato começou a apertar os dedos, fazendo uma força contra suas pernas, como se quisesse acordar de um sonho ruim. Ele juntou as mãos cruzando os dedos e começou a mover os polegares em círculos rápidos para tentar controlar o nervosismo.
- Então... eu achei que você não quisesse falar comigo.
Wesley franziu a testa.
- Por que eu não ia querer falar com você?
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Entre Meninos (Romance gay) - Concluído
Teen FictionQuando a mãe de Renato o avisa de que eles passarão o mês de férias na fazenda da avó, o rapaz fica indignado. Amante de roque, cinema, séries e literatura; Renato é um típico menino da cidade. Passar um período entre vacas e cavalos, no meio do mat...