Cap. 12 - Um sussurro que grita

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A viagem de volta à fazenda foi silenciosa – até certo ponto. Depois de deixar a S10 na casa de Poliana (prometendo buscá-la assim que pudesse), Wesley seguiu o conselho da amiga e pediu um Uber para levar Renato, e ele próprio, até a fazenda. Durante metade do caminho, os dois permaneceram calados no banco de trás do carro. O efeito do álcool na cabeça do cowboy estava forte. Assim que Juliano saiu de perto deles (não antes de jogar outras tantas frases enigmáticas no ar), o humor de Wesley mudara. Ele acabou abandonando o riso fácil e adotara um aspecto mais fechado. Além, é claro, de substituir a cerveja pela vodca.

Assim que venceram metade do cominho até a fazenda de Vanda, Wesley finalmente foi derrotado pelo cansaço (ou pelo álcool) e acabou dormindo com a cara pregada na vidro do carro. Vez ou outra, balbuciava alguma coisa ininteligível, mas na maior parte do tempo, era apenas o silêncio dentro do carro. Nem o rádio do veículo parecia funcionar.

A solidão do momento fez os pensamentos de Renato voarem e eles o levaram ao início do sexto ano, quando ele fora transferido para a então escola nova. Sem conhecer ninguém, o menino chegou acuado à nova turma. No primeiro dia de aula, um garoto ruivo (ele era bonito? Renato não se lembrava) se aproximou, apresentou-se (Renato já não lembrava do nome do ruivo também) e se mostrou muito simpático e receptivo. Uma demonstração de amizade que não o convenceu. Um alerta, um sexto sentido, ou algo do tipo, deixou Renato incomodado. Ele não sabia como explicar, mas não conseguia confiar naquele menino.

Os dias foram se arrastando e a política de boa vizinhança do menino ruivo só aumentava. Aos poucos, Renato foi baixando a guarda. Deixando-se convencer de que aquele menino era, de fato, uma pessoa prestativa. Eis aí seu erro. Assim que conquistou a confiança de Renato, o ruivo colocou suas garrinhas de fora. O que se seguiu foi um festival de torturas: ele (o garoto ruivo), com frequência, escondia os materiais de Renato, amarrava sua mochila na cadeira, grudava chiclete em sua cadeira e o ameaçava.

Renato nunca entendera a mudança de comportamento daquele colega, que ficou perdido na memória de quando estava no ensino fundamental; e, após um surto de raiva que acabou fazendo com que ele (Renato) fosse trocado de turma, as coisas voltaram ao normal e o menino ruivo foi sendo apagado da sua mente. Talvez Renato nunca mais se lembrasse dessa história, não fosse a aparição de Juliano aquela noite. O sorriso forçado, a tentativa irritante de ser agradável e até aquele perfume adocicado e enjoativo, tudo em Juliano acionava em Renato o mesmo alarme que o fizera desconfiar do menino ruivo há anos.

No sexto ano, Renato fora ingênuo e se deixara levar pela simpatia calculada do garotinho ruivo, mas o tempo passou. Ele não era mais o mesmo menino de anos atrás, não era mais tão ingênuo e, pelo menos desta vez, daria ouvido a seu sexto sentido. Seu encontro com Juliano foi breve, mas ele não confiava naquele rapaz. Não mesmo. Além do que, a presença de Juliano tinha mexido significativamente com Wesley. O clima pesara assim que o rapaz chegou. A tensão entre o cowboy e Juliano era bem nítida.

- Não... eu... ficar calado... – murmurou Wesley, remexendo-se no banco e fazendo uma careta.

- Seu amigo exagerou, hein? – provocou o motorista.

- Pois é... acho que ele passou um pouco da conta. Mas ele tá bem.

Na sequência, o motorista fez uma curva fechada para deixar a BR e entrar na estrada que dava acesso à fazenda. Renato se segurou para não cair em cima de Wesley. Assim que retomou o equilíbrio, ele voltou seu olhar para o cowboy. Ele estava lindo como sempre. Mesmo dormindo e resmungando coisas incompreensíveis, ele era e perfeita representação da beleza.

A camisa xadrez aberta deixava a camiseta branca grudada ao peito musculoso de Wesley à mostra, o chapéu pousado no seu colo e aquela calça que expunha suas coxas torneadas. O corpo de Renato esquentou, ele sentiu que estava ficando excitado e desviou o olhar, evitando encarar o cowboy. O motorista estava concentrado na estrada e ignorava completamente as reações físicas que perturbavam Renato no banco de trás. Melhor assim. Não seria interessante ser pego no flagra. Na verdade, seria bem constrangedor.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora