Cap. 32 - Um nó na garganta

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Às treze horas, do dia seguinte, Renato estava carregando sua sacola All Star para o carro da mãe. Suzy já se encontrava instalada no banco da frente do Corolla do pai, ela decidira voltar com ele para Paraíso. A decisão de irmã poderia ser melhor, no CR-V de Joana, seriam apenas ele e a mãe. Uma viagem inteira sem presença de Suzy era o que Renato considerava algo perto de estar no céu. Ele já podia apostar que a volta para casa seria bem melhor do que a vinda até Rio das Pedras.

Mais cedo, Judite tinha feito um café caprichado (não quero que ocês passe fome na estrada) e ainda preparado um monte de coisas para que Joana levasse a Paraíso. Eram vidros e mais vidros de doces, biscoitos e sabe-se lá mais o quê. Joana reclamou do exagero, mas no fundo adorou os mimos. Era como se tivesse voltado a ser criança outra vez. Em Paraíso, sempre que tinha a chance, ela fazia alusão às delícias que Judite preparava para ela quando era menina.

Destoando do clima de empolgação da sua funcionária de uma vida toda, Vanda passou a manhã toda em silêncio. Vez em quando, exibia um risinho tímido, mas evitava falar qualquer coisa. Ficou durante horas trancada na biblioteca, usando a desculpa de que precisava coloca uns papéis em ordem; mas, no fundo, ela estava sentindo no peito a dor da partida da filha e dos netos. Mais de uma vez, Renato podia jurar que ela fosse cair no choro. Mas dona Vanda era duro na queda e sabia manter, mesmo a duras penas, o controle emocional.

Durante toda a manhã, Renato e Wesley trocaram olhares cúmplices e desejaram um momento a sós para se despedirem como deveria ser. No entanto, a quase onipresença de Manuel obrigara os rapazes a serem discretos. Em poucos dias estaremos morando na mesma cidade, Renato fazia questão de lembrar a si mesmo, e então poderemos ficar à vontade. Naquele momento, o mais prudente era se contentar com as encaradas furtivas e os sorrisos de canto de boca.

Renato voltou à entrada da casa, pegou uma caixa de frutas, outro mimo de Judite, e a levou para o porta-malas do CR-V. Depois de ajeitar tudo ali, ele foi despedir-se da avó, que estava parada junto à porta da sala abraçada a sua fiel ajudante. Joana já havia trocado abrações com as duas mulheres e estava seguindo em direção ao carro. Ao passar pelo filho, Renato percebeu que ela estava com os olhos vermelhos.

- Meu anjo – disse Vanda, ao abraçar o neto. –, vou sentir sua falta.

- Eu também, vó.

Ela se afastou do rapaz e ficou segurando seu rosto, enquanto o observava.

- Promete pra mim que você vai ficar bem.

- Eu prometo.

Vanda inclinou a cabeça para a direita e observou o genro. Manuel estava com as mãos sobre o volante do Corolla e os olhos fixos na sogra e no filho. Seu rosto era vazio, de modo que não se podia ler suas intenções ou imaginar o que ele estava pensando.

- Se precisar de alguma coisa. Qualquer coisa, é só me ligar. Tudo bem?

- Tudo bem.

- E tem mais – ela segurou o neto pelos ombros, quando ele deu sinal de que ia se afastar. – minhas portas sempre estarão abertas para você. Não importa o que aconteça, eu sempre estarei aqui para você.

- Valeu, vó.

Vanda deu um último abraço em Renato, beijou-lhe o rosto e tentou não chorar. O rapaz foi até Judite, que não demonstrara a mesma força de vontade da patroa e estava com olhos vermelhos.

- Obrigado por tudo – disse Renato.

- Ocê é um menino de ouro – retribuiu a velha senhora, abraçando-o. – E volte mais vez, hein?

- Pode deixar, eu volto, sim.

Renato lançou um último sorriso para as duas mulheres ali paradas e foi em direção à SUV da mãe. Os poucos metros que separavam a entrada da casa da fazenda do carro de Joana pareceram quilômetros, Renato não entendeu o que estava acontecendo, mas ele estava sentindo um aperto forte no peito. Um nó na garganta e uma vontade louca de sair gritando.

Assim que se sentou no banco do passageiro e sua mãe ligou o motor do carro. Foi ele quem precisou fazer um esforço sobre-humano para não chorar.

- Tá tudo bem? – quis saber Joana.

- Sim. Vamos embora. – respondeu o rapaz, sem olhar para a mãe. 

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora