O começo da noite na Avenida da Orla de Paraíso era agitado. Além dos turistas que invadiam o calçadão, havia os moradores da região mais cara da cidade, que começavam a voltar do trabalho.
Renato saiu da estação Tulipas e foi tomado por uma onda de frio. O vento que soprava do rio obrigava as pessoas a usarem casacos para se proteger. Quando saiu de casa, o rapaz não se deu ao trabalho de levar agasalho, visto que o sol estava forte. Desprotegido, ele esfregou os braços, meteu as mãos nos bolsos da calça e começou a caminha em direção a sua casa. A pequena jornada de pouco mais de duzentos metros, com certeza, seria o suficiente para esquentá-lo.
Um rapaz vindo na direção contraria trazia um cachorro preso por uma correia de couro, assim que se aproximou de Renato, o animal pulou em sua direção para cheirá-lo. Foi o suficiente para que ele se assustasse e desse um passo para o lado.
- Desculpa – disse o rapaz. – Mas não se preocupe, o Tobby é de boa, ele não morde.
Renato apenas concordou com a cabeça e continuou andando. O coração ainda acelerado. À sua direita, na areia da praia criada artificialmente na orla do Estige, um casal animado tirava fotos em esculturas feitas de areia. Renato riu ao se lembrar que os pombinhos apaixonados estavam desembolsando uma quantia nada simpática para eternizar aquele momento junto a obra de arte de um dos artistas locais. "Turistas!", pensou.
Assim que chegou ao seu destino, Renato parou, esfregou outra vez os braços, esperou os carros passarem e atravessou apressado a avenida em direção ao seu prédio. Ao perceber a aproximação do rapaz, o porteiro abriu o portão.
- Boa noite, seu Ricardo.
- Boa noite, Valdermir. Tudo bem contigo?
- Tá tudo em paz, seu Ricardo.
- E sua esposa, melhorou da gripe.
- Ela té bem melhor sim, senhor. Obrigado por perguntar.
Renato apenas sorriu.
- Esfriou bastante hoje, né? – disse o homem lá de dentro da guarita.
- Um pouco...
- Melhor o senhor se agasalhar... não vai pegar uma gripe também.
- Saí bem cedo de casa e esqueci de levar um casaco. Às vezes, me esqueço de como o tempo aqui em Paraíso é maluco. Mas vai ficar tudo bem... valeu.
- Bom descanso, seu Renato.
- Obrigado... e bom trabalho.
Renato seguiu em direção a entrada do prédio e parou diante do elevador, cruzou os braços e esperou que ele viesse.
Assim que o elevador parou no térreo e a porta abriu, Renato entrou e acionou o botão referente ao seu andar. Quinze segundos até chegar em casa. Quinze segundos para pensar em como sua vida estava tomando um rumo que ele nunca pensou que fosse tomar. Um rumo bom. Ele estava feliz. A conversa com mãe fora, de longe, a melhor decisão que havia tomado nos últimos tempos, talvez a mais importante de sua vida, tinha mudado alguma coisa lá dentro dele. Estava em estado de graça.
Ao sair do elevador, o rapaz se sentiu estranhamente leve. Era como se tivesse tirado uma tonelada de entulhos que o estava esmagando.
Renato seguiu pelo corredor rumo ao apartamento onde vivia, estava sorridente. Embora o prédio tivesse apenas dois apartamentos por andar, a caminhada da porta do elevador à entrada das residências era até considerável, visto que os apartamentos naquele edifício eram bem grandes.
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Entre Meninos (Romance gay) - Concluído
Teen FictionQuando a mãe de Renato o avisa de que eles passarão o mês de férias na fazenda da avó, o rapaz fica indignado. Amante de roque, cinema, séries e literatura; Renato é um típico menino da cidade. Passar um período entre vacas e cavalos, no meio do mat...