Elvis retirou uma fantasia da arara e exibiu para Renato, sorrindo.
- Que tal essa?
- Para quem?
- Pra mim, claro!
- Você está pensando em ir à festa do Juliano vestido de Mulher Maravilha, Elvis? Pirou?
- Qual o problema?
- Se os amigos dele forem um pouquinho parecidos com o diabo, e eu acho que são, afinal: iguais se atraem, pelo menos neste caso. Você vai virar motivo de piada.
- Não sei por quê. Eu sou praticamente uma Gal Gadot!
Renato balançou a cabeça incrédulo.
- Igualzinho!
- E depois, eu posso aproveitar o laço e já pegar algum boy que esteja disponível por lá – Elvis riu da própria piada. – Alguém que curta ser amarrado e dominado, se é que você me entende.
Observando Elvis, que exibia sua língua de forma lasciva, Renato começou a olhar ao redor. A loja de fantasias estava superlotada – algo normal, considerando que estavam a poucos dias do Hallowenn – mas para sua sorte (e de Elvis), ninguém estava prestando atenção nos dois. A disputa pelas últimas fantasias disponíveis era mais interessante do que assistir ao Elvis se insinuando.
- Elvis – começou Renato -, desculpa acabar com os seus sonhos, mas olha bem pra essa fantasia... isso aí não vai entrar nem na sua coxa, cara.
Elvis fez uma careta, colocou a mão sobre a boca e olhou para os lados de olhos arregalados. Então começou a se abanar com as mãos, fingindo uma falta de ar que, com certeza, não estava sentido.
- Gente, vocês ouviram isso – disse a uma plateia imaginária. – Meu amigo aqui, exatamente esse que me conhece há século, uma pessoa que eu aprendi a confiar, uma pessoa que eu acreditava ser o melhor do amigo do mundo. Pois é, ele é gordofóbico!
- Deixa de ser ridículo! E para de show! – Renato tomou a fantasia das mãos do amigo. – Vem. Vamos procurar alguma coisa mais à sua altura.
- À minha altura ou à minha gordura?
- Quem está dizendo isso é você. Eu só quero achar algo interessante. Que faça você brilhar.
- Não adianta tentar me agradar... você disse que eu sou gorda!
Renato deixou escapar um "afff" impaciente, mas preferiu não continuar com a brincadeira. Deu as costas a Elvis e saiu em busca de algo, que na visão dele, fosse mais apropriado para o amigo, que fingindo estar chateado, acabou seguindo Renato pela loja, fazendo caras e bocas.
Nada ali parecia feito para pessoas acima do peso. Era um verdadeiro festival de fantasias destinadas a pessoas magras ou muito magras. Depois de uns dez minutos, Renato já passava os cabides de um lado para outro com desânimo.
- Tô começando a achar que esta loja é gordofóbica! – disse Renato.
- Querida, a senhora não sabe de nada. Eu vivo isso o tempo todo. Imagina a dificuldade que é para eu achar uma roupa normal que me sirva. É uma novela.
- Tô vendo...
- Um dia eu ainda serei uma empresária poderosa e vou ter minha própria linha de roupas para pessoas fofinhas.
Renato balançou a cabeça, concordando com a fala de Elvis.
- Tá aí. Você sabia que isso pode ser uma ótima ideia?
- É claro que eu sei, eu sou um gênio dos negócios.
Renato bufou baixo. Às vezes ele se esquecia de que era um tremendo erro fazer qualquer tipo de elogio a Elvis. Com uma autoestima pra lá de elevada, Elvis transformava qualquer letra em um texto, desde que a letra fosse um elogio a sua pessoa.
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Entre Meninos (Romance gay) - Concluído
Ficção AdolescenteQuando a mãe de Renato o avisa de que eles passarão o mês de férias na fazenda da avó, o rapaz fica indignado. Amante de roque, cinema, séries e literatura; Renato é um típico menino da cidade. Passar um período entre vacas e cavalos, no meio do mat...