Cap. 33 - Apenas dirija!

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Eles já haviam percorrido mais da metade do caminho e Paraíso estava cada vez mais perto. No entanto, o aperto no peito de Renato ainda estava lá. Durante as mais de uma hora de viagem que tinham feito até ali (meu Deus, quantos carros! Parece que o mundo todo está indo em direção à Paraíso), Renato e Joana não tinham trocado uma palavra sequer.

Renato sabia que a viagem seria silenciosa, afinal de contas, eles estavam livres de Suzy e sua tagarelice, mas não imaginou que fosse ser tanto assim. Em sua mente, a imagem de Wesley sem camisa e galopando próximo à cerca, seguido de perto polo fiel Tupã, enquanto o carro se afastava da casa de Vanda, era tão nítida quanto há algumas horas. Por um átimo de segundo, o cowboy meneou a cabeça. Um movimento quase invisível, mas que para Renato dizia muita coisa. De dentro do carro, ele respondeu ao cumprimento com outro leve movimento da cabeça. Gestos simples, mas grandes em significância. Toques sutis que carregavam milhões de sentimentos e, principalmente, segredos indizíveis. Será que minha mãe percebeu alguma coisa?, não, claro que não. Se Joana notara qualquer sinal de cumplicidade entre o filho e o peão da fazenda da mãe, ela não transpareceu, visto que nada disse. Nada insinuou.

- Droga! – reclamou Joana, batendo com a mão no volante e rompendo o silêncio de horas dentro daquele carro. – Onde foi que você aprendeu a dirigir desse jeito, meu amigo!?

À frente deles, um Sandero prata ameaçou ultrapassar o Corrolla, mas acabou desistindo e voltando à faixa da direita, forçando Joana a pisar no freio para reduzir a velocidade. Mais adiante o carro do pai aumentou a distância entre eles. Que vá pro inferno!, pensou Renato, e leve a Suzy contigo!

- Então vai ser assim? – começou Joana.

- Oi?

- Vamos passar duas, três horas, sei lá, presos neste carro sem dizer uma única palavra?

- Dizer o quê?

- Sei lá... qualquer coisa.

- Qualquer coisa é um assunto muito vago, mãe.

Joana respirou fundo.

- Você está mesmo tão chateado assim com a volta do seu pai, Renato?

Renato mordeu o lábio num gesto involuntário.

- O que você achava?

- Eu acho que você já é grandinho demais para ficar de birra. Se tivesse uns sete anos, ainda vá lá, mas você está com dezessete.

- Se eu tivesse sete anos, talvez esquecesse tudo ele já fez. Mas como estou com dezessete, minha memória está ótima!

Joana olhou para o filho por uns cinco segundos, então voltou sua atenção para a autoestrada outra vez.

- Você nunca vai superar aquele incidente?

- Incidente?

- Sim – Joana tentou não parecer nervosa. – Um incidente infeliz, confesso, mas foi apenas isso.

Renato bufou e soltou um riso irônico.

- Aquilo não foi um simples incidente e você sabe disso.

- Você está exagerando, Renato.

O rapaz fechou os olhos, respirou fundo e tentou manter o controle. Queria explodir com mãe, gritar com ela, pegá-la pelo braço e sacudir até ela acordar para a vida. Mesmo sabendo que dentro de um carro e a mais de cem quilômetros por hora, isso não fosse algo tão inteligente assim.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora