Cap. 10 - Uma conversa estranha

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Renato entregou a nota de cinco reais à senhora que estava atrás do balcão e esperou pelo troco. A mulher de ar antipático devolveu-lhe três moedas de cinquenta centavos e uma latinha de Coca-Cola, dando-lhe as costas logo em seguida. Um outro cliente se posicionou do lado direito da barraca, exigindo a presença da vendedora.

- Ok, muito obrigado, então - disse Renato a si mesmo, uma vez que a mulher se achava afastava o suficiente para ouvi-lo.

- Não liga para ela - falou a voz atrás dele. Renato virou-se e viu Poliana com um sorriso estampado no rosto. - Dona Marizete é assim o tempo todo. Algumas pessoas aqui em Rio das Pedras juram que ela nunca deu um sorriso na vida - comentou Poliana em tom de segredo.

Renato olhou para a mulher, que vinha do fundo de sua barraquinha, trazendo duas latas de Sprite e alguns churrasquinhos para o novo cliente. Vendo o rosto carrancudo da senhora, Renato acreditou na história de Poliana. Embora estivesse vendendo bem mais do que a sua concorrente ao lado; aparentemente, a tal Marizete não era dada a sorrir para seus clientes.

- Parece que você tem razão.

- Pode apostar que tenho mesmo - riu Poliana, assim que os dois começaram a andar lado a lado. - E aí? Gostando da festa? É uma festa simples... do interior... mas é tradicional aqui.

Renato pensou um pouco.

- Não deu pra avaliar ainda. Preciso de mais tempo pra saber. Acabei de chegar - defendeu-se o rapaz.

- Ok, desculpas aceitas. Mas, só porque você está aqui há poucas horas, hein? Mas não vai fugir de fazer uma análise de nossa quermesse. Ainda hoje!

- Pode deixar, eu vou fazer. E a propósito: uma hora e dez minutos mais precisamente.

- Oi?

- Você não disse que estou aqui há poucas horas?

- Sim.

- Então. Estou aqui há uma hora e dez... - ele conferiu no relógio. - ... e onze minutos.

Poliana parou, de repente, obrigando Renato a fazer o mesmo. Eles ficaram frente a frente. A moça com cara de espanto.

- Você está contando o tempo? - ela apontou para o próprio relógio.

Renato não sabia se ela estava brava, ou aquele era uma pergunta retórica. Na dúvida, era melhor não falar nada que fosse ofensivo ou deselegante.

- Aconteceu sem querer... é tão ruim assim?

- Bem - os dois voltaram a caminhar. -, se você tá marcando o tempo que passa aqui na quermesse, isso diz muita coisa sobre como tá se sentindo.

- Sério? E o quê eu estou sentindo?

- Tédio.

- Eu não estou entediado - defendeu-se Renato.

- Está, sim. Se você estivesse se divertindo, não estaria olhando para o relógio a cada minuto.

- Eu não estou olhando para o relógio a cada minuto - protestou Renato. - Na verdade, acho que a cada cinco...

- Jesus! A coisa é pior do que eu imaginei. Vamos ter que arranjar alguma coisa para que possa se divertir, rapaz. Que tal o pau-de-sebo?

- O pau de quem?

- Calma, rapazinho. Não é o pau de alguém. É o pau-de-sebo. Aquele mastro gigante ali - ela apontou para um mastro que despontava no mar de barraquinhas. - Quem conseguir escalar até a ponta ganha um presente.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora