Com fones no ouvido, envolvida pelas canções de Camila Cabello, Suzy atravessou o corredor vazio no segundo anda, em direção ao seu quarto, sem se preocupar com nada, afinal, sua vida estava ótima. Tudo ia muito bem, obrigada. O jantar em família tinha sido melhor do que ela poderia imaginar. A sementinha da desconfiança tinha sido jogada na mente de seu pai e agora era só uma questão tempo, era só cultivá-la para que resultasse em frutos maravilhosos.
Suzy não acreditava que o irmão fosse ceder às suas chantagens, dando-lhe tudo que ela queria (e depois, ela estava pouco interessada naquele monte de tralhas que pedira a ele). Por algum motivo misterioso, Renato vinha se mostrando um cara menos covarde nos últimos tempos. Ela não duvidaria nada se ele, de uma hora para outra, decidisse abrir a boca para escancarar sua viadagem para todo mundo. Ele teve a coragem de jogar na cara dela que estava pensando em ficar com o peãozinho da avó. Daí a assumir diante de todo mundo sua orientação sexual era uma questão de tempo. E perigava, também, ele assumir o namoro com aquele rapaz imoral. Dois vermes. Duas bichas escrotas.
Na escola, Suzy tinha vários amigos gays. Não que ela gostasse deles, mas conviver com os veados dava um certo status. Rendia dividendos importantes. E se era para seu próprio bem, que mal havia em andar com aquelas aberrações, não é mesmo? Por onde ela andava, um séquito de gays ia atrás e até aí, tudo bem, visto que sua obrigação de parecer simpática à causa começava e terminava na escola. O problema era seu irmão. Ter uma bicha na família era demais para ela. E ela não iria deixar isso barato. Mentalmente, a garota prometeu a si mesma que não daria um segundo de paz ao irmão.
A poucos centímetros da porta de seu quarto, Suzy foi bruscamente puxada pelo braço e jogada contra a parede do corredor. Assustada, ela não conseguiu esboçar reação alguma, enquanto Renato arrancava os fones do seu ouvido e a empurrava de volta à parede, ao menor gesto da menina de tentar se desvencilhar do irmão.
- Vem cá, garota! Que merda foi aquela no jantar?
- Ei, me solta!
- Escuta bem! – Renato enfiou o dedo na cara da irmã. – Eu já falei para você me esquecer! Sai do meu caminho, que eu já tô perdendo a paciência contigo!
Suzy empurrou o irmão, batendo as mãos no seu peito. Com esse gesto rápido, ela finalmente conseguiu se livrar daquela possível ameaça.
- Qual o seu problema? – perguntou Suzy, assim que conseguiu se livrar do irmão.
- Você é o meu problema! Por que não faz um favor pra nós dois, Suzy? Finja que eu não existo. Finja que eu morri!
- Até que seria legal... se você morresse, sabe?
- Tenho certeza de que você ia adorar mesmo, mas isso não vai acontecer tão cedo; então, imagina que aconteceu e não fala mais comigo, nem toca no meu nome, combinado?
Suzy deu de ombros.
- Eu disse pra você que não estava brincando, não disse? Então, querido. Aguenta as consequências! Você não tem noção do que vem pela frente!
Dizendo isso, a garota abriu a porta do seu quarto e se escondeu lá dentro tão rápido que Renato não conseguiu nem responder às ameaças dela. Bufando de raiva, o rapaz também foi se abrigar em sua cama.
***
Suzy girou a chave, fechando a porta atrás de si e encostou o ouvido nela para certificar-se de que o irmão não estava mais no corredor. Por um momento, ela acreditou que Renato fosse esmurrar a porta até derrubá-la. Nada aconteceu. O corredor parecia mergulhado no mais completo silêncio. Alguns segundos e ela ouviu apenas o som da porta do quarto do irmão batendo. Definitivamente ele não iria atrás dela.
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Entre Meninos (Romance gay) - Concluído
Ficção AdolescenteQuando a mãe de Renato o avisa de que eles passarão o mês de férias na fazenda da avó, o rapaz fica indignado. Amante de roque, cinema, séries e literatura; Renato é um típico menino da cidade. Passar um período entre vacas e cavalos, no meio do mat...