Cap. 03 - Um corpo que enfeitiça

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Já havia passado do meio-dia, quando Joana e Vanda entraram na sala com as mãos ocupadas, graças as várias sacolas de supermercado que traziam. Vanda tinha passado os últimos dias ocupada preparando a cara para receber a filha e os netos e esquecera de fazer supermercado. Nada que um pulo em Rio das Pedras, cidade vizinha à sua fazenda não resolvesse.

Renato estava deitado no sofá, mergulhado na leitura de "O Jogo do Anjo" e ouvindo AC/DC. Sua mãe e sua avó passaram por ele, mas o menino nem percebeu. Se havia algo em que Renato era bom, era fugir da realidade e se esconder em um mundo paralelo. De preferência que fosse de algum livro.

Vanda e Joana seguiram direto para cozinha e menos de um minuto depois, a médica retornou à sala. Parada ao lado do sofá, esperou ser percebida pelo filho, mas ele não deu sinal de que ia notá-la. Ou pelo menos fingiu que não via a mãe. Impaciente, Joana puxou os pés de Renato para fora do sofá, forçando-o a se sentar.

- Que é? Cê é louca?  – reagiu o garoto.

- Como você consegue?

- O quê? – perguntou, enquanto removia os fones do ouvido. – O que foi que você disse?

- Como você consegue ler e ouvir música ao mesmo tempo?

Renato deu de ombros.

- Pra mim é normal...

Joana vistoriou a sala com o olhar.

- Cadê sua irmã?

- Sei lá... deve estar no quarto ouvindo Justin Bieber ou qualquer outra merda que ela chama de cantor.

- Olha a boca, rapazinho.

- Tô mentindo? A Suzy só ouve mer...

Joana fez sinal para que o filho não terminasse a frase. Renato era um ótimo filho. Sempre tirara boas notas, nunca dera trabalho algum, mas quando o assunto era seu relacionamento com Suzy, o rapaz perdia o controle e se tornava, no mínimo, desbocado. Isso irritava a médica.

- Quando é que vocês dois vão se acertar?

Renato franziu a testa e fez um gesto repulsivo com a boca.

- Quem sabe quando ela se mudar de continente...

- Meu Deus, vocês são irmãos! Deveriam se dar bem.

- Mais fácil você conseguir a paz entre judeus e palestinos. A Suzy é... é... nem sei o que dizer

Joana balançou a cabeça negativamente e já se preparava para fazer um discurso interminável sobre como deveria ser o amor entre irmão. Um lengalenga que deixaria Renato entediado; mas o rapaz acabou salvo pelo telefone da mãe que começou a tocar. A médica retirou o aparelho do bolso e conferiu o número. Por um segundo, seu humor, ou o pouco que restava dele, desapareceu. Ela recusou a chamada e recolocou o celular no bolso da calça.

- É ele, não é?

- Oi?

- Meu pai... era ele ligando, não era?

- Não era ninguém...

- Mãe, para com isso. Eu não tenho mais cinco anos. Eu sei que era ele.

- Esquece isso, ok?

- Até quando você vai fugir? Uma hora a gente vai ter que conversar sobre isso.

- Sobre o quê?

Renato fez cara de espantado.

- Sobre a separação de vocês, por exemplo...

- Não quero você e sua irmã se preocupem com isso. Seu pai e eu estamos resolvendo nossas vidas, tudo bem?

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora