Cap. 34 - Amigo é coisa é pra se guardar

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A primeira semana após a família da doutora Joana voltar de Rio das Pedras tinha sido surpreendentemente tranquila. Durante os sete dias que se passaram, Renato permaneceu em alerta e ficou esperando que Suzy aprontasse alguma coisa, que intensificasse as chantagens ou que abrisse, de uma vez por todas, o bico para o pai. No entanto, a garota ficou quieta. Estranhamente quieta. Uma quietude incômoda.

Muitas vezes, trancado no quarto, conversando com Wesley, Renato expunha toda a sua desconfiança em relação à irmã. Suzy era uma cobra que espreitava pelos cantos da casa e podia lhe dar um bote a qualquer momento. O cowboy também não botava a mão no fogo pela garota, mas sempre aconselhava o namorado a aproveitar a suposta (e suspeita) trégua da irmã para relaxar e respirar um pouco. Qualquer momento de paz seria muito bem-vindo.

- E quando você vem pra cá, afinal? – quis saber Renato. – As aulas começam na segunda.

- As suas aulas começam nesta segunda, as minhas só na próxima semana. – informou Wesley.

- Tô achando essa sua faculdade bem folgada, como assim vão começar o semestre no meio do mês de agosto? – brincou Renato.

- Ah tá, esqueceu que a gente sempre entra de férias depois de vocês? Nada mais justo que voltemos às aulas um pouco depois, né? – Renato ouviu Wesley suspirando do outro lado da linha. – Caramba, olha só como eu estou falando: "A gente", eu mal entrei na faculdade e já estou falando como se fosse um veterano – ele riu.

- Você pode até não ser um veterano, mas oficialmente, já é um aluno da Universidade de Paraíso. Isso é o que importa.

Outro suspiro de Wesley.

- Verdade... nem eu meus sonhos mais loucos, eu podia imaginar que algo assim fosse acontecer um dia... não que eu não quisesse, muito pelo contrário, eu sempre sonhei com isso, mas se imaginarmos essa possibilidade tipo há uns dez anos, eu diria que era loucura.

- Você fez por merecer... e isso é só o começo, hein? Você ainda será o maior veterinário do Brasil!

Wesley riu.

- É muito bom ouvir a sua voz – disse o cowboy. – Estou com saudade.

- Eu também.

Um breve silêncio, quando eles ficaram cada um de um lado da linha ouvindo a respiração do outro.

- Bem... preciso ir, gato, minha avó tá me chamando... – disse Wesley finalmente.

- Tudo bem, vai lá.

- Um beijo, lindinho.

- Outro.

Renato desligou o celular, jogou-o de lado na cama, sobre o moleskine, que usava para fazer seus desenhos (quase sempre de Wesley), levantou-se e seguiu até a janela. Abriu as persianas, revelando uma enorme parede envidraçada. Renato encostou a testa na enorme área de blindex e suspirou, fitando o horizonte à sua frente.

Do vigésimo terceiro andar do edifício Athena, além do mar de prédios, concreto e ruas superlotadas de carros, era possível ver as águas negras do Rio Estige como uma gigantesca cobra de vidro, cortando o infinito, serpenteando a divisa entre as cidades de Paraíso e Ressurreição.

Renato abriu a janela e o ar entrou gelado no quarto. Ele ficou ali parado por alguns minutos sentindo a temperatura do vento que batia em seu rosto. Gostava da sensação gelada na pele. Mais além, alguns pássaros dançavam no ar, cortando as nuvens e mergulhando em direção ao rio.

A imensidão do céu trouxe uma sensação de sufocamento a Renato. Há sete dias, ele não via – a não ser por meio de vídeo chamada – o cara que tinha virado sua vida do avesso; e a ausência estava doendo. Doendo mais do que imaginou que pudesse doer. O medo de que Wesley desistisse de se mudar para Paraíso e, por consequência, acabasse se esquecendo dele bateu forte. De repente seus dias pareciam vazios sem Wesley. E, pelo menos por hora, Renato não sabia o que fazer da vida sem o cowboy.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora