Cap. 08 - Uma mudança de hábito

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Joana estava parada próximo à janela olhando para fora e girando o pingente em formato de globo preso à correntinha que usava. Suzy , deitada no sofá, com os fones nos ouvidos – para variar – fingia não ouvir música, mas, na verdade, estava de olho nas duas mulheres adultas da sala. O silêncio incômodo da médica dizia mais do que qualquer palavra. Vanda, percebendo a inquietude da filha, depositou a xícara com elegância sobre o pires em cima da mesinha de centro.

- Ok, pode falar. Desembucha logo.

- Oi? – disse Joana, parecendo distraída.

- Por que essa cara de preocupação?

Joana voltou para o sofá.

- Essa história do Renato por aí... numa cidade desconhecida... é muita novidade de uma vez.

- Se conheço bem o Wesley, eles vão se divertir a noite toda.

- A senhora confia mesmo nesse rapaz?

- Com certeza. O Wesley é um rapaz encantador, difícil não gostar dele.

- Eu confesso que estou besta, mamãe. Nunca imaginei que o Renato pudesse fazer um amigo assim tão rápido.

- Ele só não havia encontrado o amigo certo.

- Não, a senhora não está entendendo... o Renato é a pessoa, digamos... menos sociável que eu já vi na vida.

- Seu filho só precisa sair mais, Joana. Conhecer pessoas. Não é saudável para um adolescente ficar trancado dentro de um apartamento o tempo todo. Você é médica, meu Deus, deve saber disso melhor do que eu.

- Falar é tão fácil, difícil é arrancar aquele lá de dentro do quarto. E olha que eu tento. Já o coloquei na natação, judô, futebol... nada deu certo. Ele sempre ia na primeira aula e não voltava mais – Joana colocou um pouco de café numa xícara, adicionou açúcar e ficou mexendo a colher metodicamente.

Vanda ajeitou-se melhor no sofá.

- E você chegou a perguntar se ele queira fazer alguma dessas atividades?

Joana parou com a xícara no ar pensativa por alguns segundos.

- Na verdade, não.

- Tá vendo. Não custava nada ter perguntado antes de matriculá-lo, não é mesmo?

Joana assoprou o café, que produziu uma vasta cortina de fumaça à sua frente, tomou um gole prolongado e depositou a xícara sobre o pires.

- Conversar com o Renato não é uma tarefa muito fácil. Ele me evita o tempo todo. Sempre que tento puxar assunto, ele reage com mau humor – ela pareceu distante. – Confesso que não sei mais o que fazer, mãe.

- Ele só tem dezessete anos, Joana. É um adolescente. Seria estranho se você conseguisse falar com ele de forma tranquila. Faz parte da natureza deles evitarem os adultos, mas você não pode desistir. Insista. Uma hora ele acaba cedendo.

- Não sei não.

Vanda deixou escapar um leve sorriso.

- Você também não era fácil, quando menina.

- Eu? Até parece, dona Vanda. Eu sempre fui uma menina tranquila, nunca te dei trabalho. Vivia estudando pelos cantos.

- Durante os primeiros anos da escola, sim. Mas na adolescência, a coisa mudou um pouco. Não se faça de esquecida, mocinha.

Joana deu de ombros.

- Eu só gostava de namorar um pouco.

- Um pouco, Joana? Você vivia aos beijos por essa cidade. E cada dia com um garoto diferente. Acho que dos catorze aos dezesseis anos, você encontrou pelo menos uns dez homens da sua vida – Vanda riu.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora