Cap. 45 - SOBRE ARMÁRIOS E FELICIDADES

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Renato saiu da estação do metrô e se dirigiu à charmosa loja Paraíso Café, que permanecia aberta, funcionando no mesmo lugar há anos e desafiando a gigante Starbucks ao seu lado. Ele entrou e se sentou em uma mesa com vista para o rio. Gostava de ver as águas escuras do Estige que corriam silenciosas.

O movimento na loja era no mínimo interessante, considerando que sua concorrente internacional berrava ali ao lado com seus três andares, de modo que levou uns cinco ou seis minutos até que trouxessem o pedido Renato: um caneco gigante de café coberto de chantilly e salpicado com canela em pó. Ele tomou o primeiro gole e esperou a cafeína e o açúcar entrarem em seu corpo e fazerem o efeito necessário.

A duas mesas, um rapaz – muito bonito por sinal – encarava Renato, deixando-o encabulado. Ele olhou ao redor para ter certeza de que aquele olhar se dirigia a ele e, sim, ele estava sendo paquerado.

Renato baixou a cabeça e tentou não rir da situação. Como assim? Sempre fora ignorado, sempre passara meio que invisível por todo mundo e agora, justo agora que estava comprometido, ele era notado? Renato sentia muito pelo rapaz a sua frente, mas não ia rolar.

Joana chegou com dez minutos de atraso e foi direito para a mesa em que o filho estava sentado.

- Desculpa, tive que resolver algumas coisas antes de sair do hospital – disse a médica, jogando a bolsa na cadeira ao lado e gesticulando para a garçonete.

- Relaxa, mãe. Tá tudo bem.

- Caramba, eu vou te confessar que fiquei surpresa com sua ligação. Afinal, tenho tentado falar com você há tanto tempo é... ter uma conversa bacana, sei lá. Já estava achando que isso nunca ia contecer.

- Eu precisava do meu tempo.

Joana concordou com a cabeça.

A garçonete se aproximou com o bloco de notas nas mãos.

- Um expresso duplo sem açúcar, por favor.

- Vai querer alguma coisa para comer?

- Não, obrigada. Apenas o café mesmo.

- Ok. Já trago seu pedido.

- Obrigada, querida – disse Joana sorrindo para a moça, que se afastou sem dizer mais nada.

Renato passou a mão pela mesa limpando uma sujeira que nem estava ali. Apenas um ato, quase automático, para disfarçar o nervosismo.

- E então? – começou Joana. – Qual o motivo da reunião?

- Precisava conversar uma coisa com a senhora... uma coisa importante...

- Ok. Estamos conversando. Sou toda ouvidos.

Renato respirou fundo, olho para os lados e tentou sorrir. O rapaz que o havia paquerado já tinha deixado a loja.

- Na verdade – começou Renato, tentando procurar as palavras certas. –, eu acho que, no fundo, você já sabe sobre o que vamos conversar.

Joana franziu a testa.

- Sei?

- Sabe.

- Tudo bem, mas eu acho que seria interessante você me dar pelo menos uma pista desse tema, que eu já conheço...

- Então, eu...

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Renato foi interrompido pela chegada da garçonete que trouxe o café de Joana.

A moça colocou a xícara sobre a mesa e continuou parada ao lado deles.

- É só isso mesmo, meu bem. Se precisar de mais alguma coisa, a gente te chama – disse Joana.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora