Cap. 36 - Aquela visita inesperada

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Sábado à noite, Joana resolveu reunir a família para uma rodada de pizza, aproveitando uma de suas raras folgas. A intenção era a de manter um ambiente calmo em casa, além de tentar aproximar mais a família. Não que eles tenham sido unidos algum dia, mas na última semana as coisas haviam se complicado ainda mais. Com boa intenção, a médica pediu comida suficiente para uma festinha.

Embora a ideia fosse trazer um pouco de alegria e descontração para casa, o resultado estava longe do esperado. Sentados à mesa, os quatro membros da família comiam em silêncio, a cabeça baixa, evitando o olho no olho.

Por várias vezes, Joana abriu a boca para dizer alguma coisa, mas desistiu e preencheu o vazio com um pedaço de pizza. Ela ia partir para a terceira fatia, mas se conteve e empurrou o prato.

- Tá tudo bem, meu amor? – quis saber Manuel.

- Sim...

- Mãe, você parou no segundo pedaço – protestou Renato.

- Preciso me cuidar... – Joana forçou um sorriso.

- Você está ótima – Manuel piscou para a esposa.

- Obrigada.

- Meu pai tem razão, mãe – começou Suzy. – A senhora está muito bem... ainda mais para a sua idade. Minhas amigas morrem de inveja da senhora. As mães delas são tão gordas, velhas, sei lá...

Joana franziu a testa.

- Vou encarar isso como um elogio, Suzy.

A menina apenas riu. Renato balançou a cabeça em tom negativo.

- Bem... acho que vou pegar mais ketchup para vocês...

Assim que Joana se levantou, o som da campainha soou no silêncio do apartamento.

- Quem é uma hora dessas? E por que não interfonaram? – Manuel pareceu incomodado.

- Deve ser o porteiro ou algum vizinho – disse Joana, indo abrir a porta.

Assim que a porta foi aberta, Vanda invadiu a sala com um sorriso enorme no rosto e trazendo Judite a tiracolo.

- Surpresa!

- Mãe?!

- Oi, meu anjo – Vanda abraçou e beijou a filha.

Joana continuava incrédula.

- O que houve? Tá tudo bem? A senhora nem avisou que tava vindo, eu...

- Relaxa, querida – Vanda interrompeu a filha. – Só passei para dar um abraço em vocês – então, ela foi até a mesa para beijar e abraçar os netos. – Judite e eu já estamos praticamente de partida.

- Mas já? – Manuel fingiu simpatia. – Sente-se, temos pizza suficiente para um exército.

Vanda olhou a mesa com desdém.

- Isso não é saudável – ela apontou para a comida. – Mas, quem disse que a gente precisa ser saudável o tempo todo, né? – ela se sentou. – Vem, Judite, vamos comer uma besteira básica hoje. Já que meu querido genro nos convidou com tanta insistência – a última frase, saindo de forma bem irônica.

Judite deixou a bolsa sobre o sofá e se juntou aos outros. Joana foi até a cozinha pegar mais pratos.

- Então, a que devemos tão nobre visita? – quis saber Manuel.

- Vim ver como você está se comportando, meu genro – Manuel parou com o garfo a caminho da boca e encarou a sogra. – Fica tranquilo, tô brincando. – Vanda riu.

Manuel fez uma careta.

- Muito engraçado...

Vanda riu satisfeita. Adorava quando conseguia perturbar Manuel.

- Não havia ninguém na portaria? – quis saber o marido de Joana. – Não anunciaram vocês.

- Todos os porteiros deste prédio me conhecem... não preciso ser anunciada. Ah, esqueci que você não estava morando aqui nos últimos meses.

Manuel fechou a cara e deu a entender que ia partir para o ataque, quando Renato, prevendo o pior, entrou na conversa.

- Sério, vó. Por que a senhora chegou essa hora? Tão tarde?

- Na verdade, meu anjo, nós chegamos mais cedo, estávamos ajudando o Wesley a se ajeitar no apartamento da faculdade.

A menção ao nome do cowboy fez o coração de Renato pular. Suzy também foi atraída pelo assunto e cravou os olhos no irmão. Ficou decepcionada ao perceber que Renato estava conseguindo disfarçar bem seus sentimentos.

Joana voltou da cozinha com os pratos e os talheres e os entregou à Vanda e Judite, que agradeceram simpaticamente.

- Então como o Wesley está? Já se ajeitou na faculdade? – quis saber Joana.

- Ele tá bem. Obrigada por perguntar, dona Joana – disse Judite, com um sorriso de satisfação no rosto.

- O menino Wesley tá muito empolgado com a faculdade – comentou Vanda. – Ele é muito talentoso, vai ser um grande veterinário.

Judite concordou com a cabeça.

- Fico feliz pelo Wesley – disse Joana. – Sempre achei ele um ótimo garoto.

- E ele é mesmo – concordou Judite.

- Vocês vão dormir aqui? – perguntou Manuel e não foi um questionamento simpático.

- Eu posso preparar o quarto de hóspede para vocês – informou Joana.

Vanda pôs sua mão sobre a da filha.

- Muito obrigada, meu bem, mas a gente vai pra casa ainda hoje. Temos muito o que fazer amanhã bem cedo.

- Tipo o quê, vó? Fica aí esta noite – sugeriu Renato.

Vanda virou-se para o neto.

- Com o Wesley fora, o trabalho na fazenda, para mim e para a Judite, praticamente dobrou. Mas a gente dá conta do recado, não é, Judite?

- Isso é verdade, dona Vanda.

- Mas não tem aquele senhorzinho lá? – questionou Renato.

- O Clóvis? Ele é um amor, mas sozinho não conseguirá substituir a força do Wesley. Já tá muito velhinho.

- Entendi...

Finalmente, o silêncio que havia dominado aquele apartamento no vigésimo terceiro andar do Athena, até aquele momento, foi substituído por uma conversa animada. Tão animada que qualquer pessoa que assistisse àquela cena poderia jurar que ali estava uma família sem dramas. 

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora