Cap. 64 - CASOS DE FAMÍLIA

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Renato acordou grogue, pegou o celular na mesinha de cabeceira e olhos as horas. 5h30. Ele tinha apenas cochilado. Um pequeno intervalo de sono. Sono bem conturbado. Durante esse pouco tempo dormido, ele sonhou com alguém brigando. Com gente gritando.

Sem entender o porquê de ter acordado aquela hora, Renato recolocou o celular na mesinha, virou-se e decidiu que precisava de mais horas de sono. Então, ele ouviu os gritos novamente. Aqueles gritos que povoaram seu último sonho. Mas havia um problema, ele não estava dormindo. Assustado, Renato se sentou na cama e procurou não fazer barulho, para descobrir de onde vinham as vozes. Era do corredor. A briga, se é que era real e não um sonho, estava rolando dentro do apartamento onde ele morava.

Sem ligar a luz, Renato levantou-se e foi silenciosamente até a porta. Encostou os ouvidos nela e ficou ouvindo com mais atenção. Sim. Estava rolando alguma confusão do outro lado. Era possível distinguir as vozes de Joana e Manuel perfeitamente, embora não desse para dizer qual o conteúdo da briga.

Renato ligou a luz do quarto e levou um susto ao ver seu reflexo no espelho da porta do armário. Ele tinha chegado tão cansado que caíra na cama de fantasia e tudo. A maquiagem que usou para deixar a pele mais pálida havia se misturado com o risco preto do lápis que delineava seus olhos e formou um borrão. Ele parecia um personagem saído de algum filme trash dos anos 80.

- Que maravilha! Eu estou ótimo! – bufou, antes de abrir a porta e sair do quarto.

Andando lentamente pelo corredor, Renato foi, aos poucos, conseguindo distinguir melhor a confusão que ouvida do quarto. Aparentemente seus pais estavam tendo (mais uma vez) uma daquelas DRs bem animadas (para usar um pouco de eufemismo). Renato parou diante da porta fechada do escritório e ficou ali ouvindo a gritaria.

- A sua opinião não me interessa... eu sempre vou ficar do lado dele! – disse Joana.

- Ah... claro que vai... eu não poderia esperar outra coisa de você. Bem típico...

- Não venha com esse ar de deboche não, Manuel.

- Debochado, eu? Você tá louca!

Um breve silêncio e então Joana recomeçou.

- E pensar que, por um segundo, eu achei que você fosse uma pessoa mais evoluída. Mais esclarecida.

- Agora você chama isso de evolução?

- E deveria chamar de quê?

- De aberração! De pouca vergonha! De imoralidade!

- Imoralidade e aberração é esse tipo de pensamento como o seu. Nós estamos no século XXI, sabia?

- E daí? Século XXI ou século I, não importa a época. Viado sempre será viado!

- Você está sendo ridículo – protestou Joana.

- Isso é pecado!

Renato pode jurar que ouvira a mãe rindo.

- Pecado, Manuel? É sério que você vai seguir por esse caminho.

- Deus não aprova esse tipo de comportamento. Você sabe disso!

- Para de usar Deus para justificar suas merdas!

- Isso é antinatural. Eu não aceito esse tipo de gente!

O coração de Renato disparou. Sua boca ficou ressecada e ele quis sair dali correndo, mas seus pés não o obedeceram. Ele estava congelado diante da porta do escritório.

- Esse tipo de gente? Ele é seu filho, tenha a santa paciência!

- Infelizmente! – gritou Manuel.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora