Cap. 28 - Família margarina.

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 Quinze minutos após a refeição ser servida, as cinco pessoas à mesa continuavam caladas. O som dos talheres batendo na louça reverberava pelas paredes da sala de jantar e começava a irritar. Vanda foi tomada por uma inquietação difícil de segurar. Não dava para ficar ali parada assistindo àquela cena incômoda sem fazer nada.

- Quando vai ser o enterro? – ela disse, encarando cada um dos presentes.

- Como assim? – perguntou Joana, sem graça.

- Parece que acabamos de chegar de um velório. Ninguém fala nada. Tá tudo bem aqui, ou eu perdi alguma coisa?

- Tá tudo bem, mãe. Não se preocupe.

- É claro que eu me preocupo. A hora do jantar deveria ser um momento de interação entre os membros de uma família, não um teste para ver quem fica mais tempo sem silêncio.

- Relaxa, sogrinha – falou Manuel com sua costumeira ironia, quando se dirigia a Vanda. – Tá todo mundo feliz. Só isso.

- É sério, meu genro? – Vanda respondeu no mesmo tom de ironia. – Pois não é o que parece. Pessoas felizes não ficam uma hora seguida com a cara amarrada. Acho que você se esqueceu de combinar toda essa felicidade com as pessoas aqui presente. Olha pra esse povo, cada um com a cara mais arrasada que o outro.

- Não seja exagerada.

- Estou sendo realista. Engraçado que há alguns dias, a gente não via esse comportamento à mesa.

- Está insinuando que minha presença mudou a dinâmica dos jantares aqui na sua casa?

- Você quem está dizendo isso.

- Gente, sem briga, por favor – pediu Joana.

- Ninguém está brigando, meu bem – disse Manuel. –, só estamos debatendo. Acho que este silêncio é fruto do próprio jantar, Vanda. A comida está maravilhosa, não tá permitindo que a gente abra a boca.

- Fico feliz em saber que a comida está a seu gosto.

- Obrigado.

Vanda deixou os talheres descansando sobre o prato, desviou o olhar de Manuel para Renato e tentou não parecer irritada.

- Renato, querido, gostaria de ir comigo a Rio das Pedras amanhã? Preciso comprar algumas coisas que estão faltando aqui na fazenda. Quero aproveitar a sua ajuda e a do Wesley.

- Tudo bem – Renato sentiu um leve arrepio ao ouvir o nome de Wesley. – Sem problemas.

- Caramba. Vai precisar da ajuda dos dois? – espantou-se Suzy, encarando o irmão com olhar acusador.

- Sim. Preciso de dois rapazes fortes – brincou Vanda.

- Dois rapazes? Fortes? Ah tá... – provocou Suzy. – ... me engana, que eu gosto – sussurrou.

Manuel olhou para a filha desconfiado, pensou por alguns segundos e encarou o filho.

- O Renato está com o tempo corrido. Amanhã ele tem que arrumar as malas, a gente volta para Paraíso no dia seguinte.

- Não se preocupe, minhas malas estão praticamente prontas – revelou Renato, sem encarar o pai.

- Eu acredito nisso, o Renato é a pessoa mais organizada do mundo – comentou Joana.

- Estamos combinados, então. E depois – disse Vanda, sorrindo para o neto –, não acredito que uma idazinha à cidade vá atrapalhar os seus planos perfeitos, Manuel.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora