Quinze minutos após a refeição ser servida, as cinco pessoas à mesa continuavam caladas. O som dos talheres batendo na louça reverberava pelas paredes da sala de jantar e começava a irritar. Vanda foi tomada por uma inquietação difícil de segurar. Não dava para ficar ali parada assistindo àquela cena incômoda sem fazer nada.
- Quando vai ser o enterro? – ela disse, encarando cada um dos presentes.
- Como assim? – perguntou Joana, sem graça.
- Parece que acabamos de chegar de um velório. Ninguém fala nada. Tá tudo bem aqui, ou eu perdi alguma coisa?
- Tá tudo bem, mãe. Não se preocupe.
- É claro que eu me preocupo. A hora do jantar deveria ser um momento de interação entre os membros de uma família, não um teste para ver quem fica mais tempo sem silêncio.
- Relaxa, sogrinha – falou Manuel com sua costumeira ironia, quando se dirigia a Vanda. – Tá todo mundo feliz. Só isso.
- É sério, meu genro? – Vanda respondeu no mesmo tom de ironia. – Pois não é o que parece. Pessoas felizes não ficam uma hora seguida com a cara amarrada. Acho que você se esqueceu de combinar toda essa felicidade com as pessoas aqui presente. Olha pra esse povo, cada um com a cara mais arrasada que o outro.
- Não seja exagerada.
- Estou sendo realista. Engraçado que há alguns dias, a gente não via esse comportamento à mesa.
- Está insinuando que minha presença mudou a dinâmica dos jantares aqui na sua casa?
- Você quem está dizendo isso.
- Gente, sem briga, por favor – pediu Joana.
- Ninguém está brigando, meu bem – disse Manuel. –, só estamos debatendo. Acho que este silêncio é fruto do próprio jantar, Vanda. A comida está maravilhosa, não tá permitindo que a gente abra a boca.
- Fico feliz em saber que a comida está a seu gosto.
- Obrigado.
Vanda deixou os talheres descansando sobre o prato, desviou o olhar de Manuel para Renato e tentou não parecer irritada.
- Renato, querido, gostaria de ir comigo a Rio das Pedras amanhã? Preciso comprar algumas coisas que estão faltando aqui na fazenda. Quero aproveitar a sua ajuda e a do Wesley.
- Tudo bem – Renato sentiu um leve arrepio ao ouvir o nome de Wesley. – Sem problemas.
- Caramba. Vai precisar da ajuda dos dois? – espantou-se Suzy, encarando o irmão com olhar acusador.
- Sim. Preciso de dois rapazes fortes – brincou Vanda.
- Dois rapazes? Fortes? Ah tá... – provocou Suzy. – ... me engana, que eu gosto – sussurrou.
Manuel olhou para a filha desconfiado, pensou por alguns segundos e encarou o filho.
- O Renato está com o tempo corrido. Amanhã ele tem que arrumar as malas, a gente volta para Paraíso no dia seguinte.
- Não se preocupe, minhas malas estão praticamente prontas – revelou Renato, sem encarar o pai.
- Eu acredito nisso, o Renato é a pessoa mais organizada do mundo – comentou Joana.
- Estamos combinados, então. E depois – disse Vanda, sorrindo para o neto –, não acredito que uma idazinha à cidade vá atrapalhar os seus planos perfeitos, Manuel.
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Entre Meninos (Romance gay) - Concluído
Ficção AdolescenteQuando a mãe de Renato o avisa de que eles passarão o mês de férias na fazenda da avó, o rapaz fica indignado. Amante de roque, cinema, séries e literatura; Renato é um típico menino da cidade. Passar um período entre vacas e cavalos, no meio do mat...