Cap. 46 - A ESCOLHA DE SOFIA

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Manuel deu uma volta pela sala minúscula do apartamento de Wesley, enquanto observava cada detalhe, analisava cada cantinho, parado apenas para mexer em uma coisa aqui, outra ali.

O cowboy permanecia parado, observando aquele homem gigante, que mais parecia o segurança de alguma celebridade, zanzando pelo espaço, analisar os livros da pequena estante, pegando um ou outro objeto e meio que medindo seu peso. Ele agia como se estivesse investigando a moradia de um criminoso ou algo do tipo.

Já impaciente, Wesley achou que eles poderiam passar o resto da noite naquela situação constrangedora, caso não fizesse alguma coisa a respeito.

- Então – disse o rapaz, arranhando a garganta. –, o senhor disse que precisava conversar comigo...

Manuel se virou para Wesley e o mediu dos pés à cabeça. Era um rapaz simpático, possuía um belo porte físico. O tipo de sujeito que as mulheres achariam bonito. Tinha um rosto marcante, até meio intimidador para os desavisados. Com certeza daria um excelente oficial de polícia aquele rapaz ali na sua frente, não fosse o fato de...

- Simpático seu apartamento... – ele encarou uma cópia bem simplista de O Abapuru, da Tarsila do Amaral, pendurado na parede. – Decoração interessante...

- Obrigado, mas não é meu apartamento... é da universidade.

- Verdade... verdade...

- Mas eu acho que o senhor não veio aqui para conversar sobre a decoração do apartamento, não é?

- Não – concordou Manuel, com olhar meio perdido e atenção em algum lugar que não era ali. -, não foi por isso que eu vim aqui...

- E então...

Manuel continuou em silêncio, analisando o ambiente, por um minuto ou mais.

- O senhor quer tomar alguma coisa? Uma água? Um refrigerante? – insistiu Wesley, que desejava desesperadamente sair daquele clima de enterro.

- Tem cerveja?

- Não. Não tenho cerveja.

- Você não bebe, rapaz? É religioso ou algo do tipo?

- Não, eu não sou religioso, nem nada do tipo. E eu bebe, sim... mas não aqui na universidade.

- Tanto faz – Manuel cortou a explicação de Wesley, com ar de desdém. –, uma água tá de bom tamanho.

Wesley deixou a sala reticente e foi até a cozinha. Lamentou não ter deixado o seu celular por ali. Alguma coisa dentro dele dizia que seria interessante, e mais seguro, avisar Renato do que estava acontecendo, mas não havia como fazê-lo, visto que seu telefone, provavelmente, estava no quarto carregando.

Ele pegou a água na geladeira e, se fosse um pouco mais forte, talvez tivesse estourado a pobrezinha da garrafa, tamanha era a força que estava empregado. Calma, Wesley, mantenha a calma, disse a si mesmo. Não é hora de entrar em pânico. Respirou fundo e fechou a geladeira.

De volta da sala, o rapaz encontrou Manuel sentado no pequeno sofá de dois lugares e com os pés confortavelmente pousados sobre a mesinha de centro. Pelo visto, o clima investigativo já havia passado e ele já estava se sentindo bem à vontade. Wesley lhe entregou a garrafa de água mineral e se sentou na poltrona próxima a janela.

- Água mineral? – Manuel fez uma careta, um tanto quanto debochada na opinião de Wesley, enquanto analisava a garrafinha. – Gente fina é outra coisa, né não?

Wesley ameaçou explicar o problema com a água fornecida pela universidade e tudo o mais, todavia preferiu ficar calado. Não ia justificar nada àquele homem. Ele não merecia qualquer tipo de satisfação sobre seu estilo de vida. Francamente, ele nem merecia estar ali na sua sala, sentado como se estivesse na própria casa e se comportando como um idiota carregado de ironias.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora